Parentes e amigos se despedem de Veiguima Martins, morta pelo marido
Sepultamento ocorreu nesta sexta (1°/2). Sobrinha diz que missão da tia em vida foi alertar mulheres para a violência doméstica
atualizado
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Cerca de 100 pessoas, entre familiares e amigos de Veiguima Martins, 56 anos, estiveram na tarde desta sexta-feira (1°/2) no cemitério de Planaltina para o enterro da mulher, vítima de feminicídio – ela foi assassinada a facadas pelo marido, o aposentado José Bandeira, 80, na noite de quarta (30/1). Em decorrência do estado do corpo, que foi carbonizado, não houve velório, apenas o sepultamento.
Os filhos da vítima – Cleber, Jéssica e Raquel Martins – estavam abalados e se emocionaram com o discurso de uma pastora durante a cerimônia. “Fiquei muito consternada desde quarta-feira (30/1). O que leva uma pessoa a matar a outra? Um sentimento de posse. Que me perdoem os homens, mas mulher não é posse de ninguém”, disse a religiosa.
Sobrinha de Veiguima, Larissa Martins mostrou a sua indignação com o caso que vitimou a tia. “Ela sempre se doou para todos. Qual a missão dela na Terra? Mostrar para o Brasil todo o que pode acontecer [em casos de violência doméstica]. Não podemos acreditar que isso seja normal. Espero que várias pessoas sejam salvas, assim como minha tia tentava fazer com todos que pediam ajuda”, finalizou.
O crime
Segundo a família, Veiguima Martins disse que ia deixar o marido na quarta (30). “Não sei se foi por isso que os dois teriam discutido, mas ela tinha dito na terça [29] que deixaria a casa”, revelou ao Metrópoles Danielle Martins, sobrinha da vítima, 23 anos.
Por volta das 4h40, o Corpo de Bombeiros foi acionado para apagar um incêndio no apartamento do casal, no quarto andar do Bloco A da 310 Norte. O corpo da servidora da Secretaria de Educação foi encontrado carbonizado. José Bandeira chegou a sair com vida do imóvel, mas não resistiu e morreu.
Desde o começo das investigações, havia suspeitas de que o incêndio teria sido provocado para esconder um assassinato. Isso porque existiam relatos de violência doméstica – a vítima chegou a registrar ocorrência por ameaça e agressão contra o marido. No início da tarde de quarta (30), veio a confirmação: o corpo de Veiguima tinha recebido cinco facadas. Para a Polícia Civil, não há dúvidas de que se trata de feminicídio.
Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.
Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.