Em dois meses, rua sem saída na zona leste teve 14 roubos de celular
Com escadão, córrego e mato alto, rua de 350 metros no Jardim Eliane registrou 14 roubos de celular só no primeiro bimestre deste ano
atualizado
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São Paulo — Uma pequena rua sem saída na zona leste de São Paulo reúne elementos que a tornam uma verdadeira “arapuca” para roubos de celular. Na via, foram registrados 14 crimes do tipo apenas no primeiro bimestre deste ano, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Com cerca de 350 metros, a rua Quinta de Silvares, no Jardim Eliane, é cortada por um córrego que está cercado por mato alto. Um escadão e uma viela servem de agem para o miolo do bairro. Há ainda uma praça, com sinais de falta de zeladoria, e um depósito onde funciona uma cooperativa de recicláveis. Carros abandonados e sacos de entulho compõem o final da via.
O Metrópoles conversou com pessoas que moram e trabalham no local. O sentimento de medo é unânime para quem vive ali. Os moradores convivem com o crime e evitam dar detalhes à reportagem, por medo de consequências ainda mais graves.
“Nós vemos muita coisa, sempre ficamos atentos a tudo o que acontece. Mas a gente não denuncia, porque pode ter retaliação”, diz um homem, que não quis se identificar, em frente a um comércio que funciona dentro de uma garagem — prática comum no bairro.
A rua faz parte do trajeto diário de diversas crianças que estudam no Centro de Educação Infantil (CEI) Jardim Eliane. Uma mulher que acompanhava um casal de pequenos conta que a sobrinha foi assaltada recentemente, a poucos metros dali.
“Ela [a sobrinha] estava na frente de casa, na calçada. Fizeram um arrastão, levaram os celulares de todos que estavam ‘na hora’”, afirma. Ela relata que evita sair para a rua desde então.
A abordagem violenta dos assaltantes no bairro também visa outros objetos além do celular. A costureira Sandra Regina Alves, de 58 anos, conta que sofreu uma tentativa de assalto enquanto estava no horário de almoço.
“Uma moto ou por mim, pensei que fosse fazer uma entrega. Quando ei por ele, veio para cima de mim com a moto, falou que era um assalto, que queria minha aliança. Pôs o revólver na minha cara, eu me assustei”, diz Sandra, que ou a deixar a aliança em casa quando sai para trabalhar.
Mancha criminal
Levantamento realizado pelo Metrópoles mostra que 26% dos 93 distritos policiais (DPs) da capital paulista tiveram aumento no número de roubos de celular no primeiro bimestre deste ano, na comparação com igual período de 2024.
Os distritos policiais com alta no número de roubos de celular contrariam uma tendência registrada nas estatísticas oficiais, que apontam redução de 18,6% nesse tipo de crime nos dois primeiros meses do ano na cidade de São Paulo (ou de 12.418 para 10.104, entre 2024 e 2025).
Entre os DPs que tiveram aumento nos assaltos envolvendo celular, duas manchas criminais chamam bastante a atenção. A primeira delas fica na zona leste e abrange, inclusive, a rua Quinta de Silvares, na área do 66º DP (Jardim Aricanduva).
De forma geral, são bairros vizinhos, uma faixa que se estende pelas proximidades da divisa com o ABC e margeia avenidas importantes, como Salim Farah Maluf e Sapopemba.
Bairros da zona leste onde aumentaram os roubos de celular:
- 56º DP (Vila Alpina) – 85,5%
- 42º DP (Parque São Lucas) – 69,9%
- 69º DP (Teotonio Vilela) – 19%
- 66º DP (Jardim Aricanduva) – 13,6
- 29º DP (Vila Prudente) – 8,3%
- 53º DP (Parque do Carmo) – 6,9%
- 31º DP (Vila Carrão) – 6,5%
- 70º DP (Vila Ema) – 3,5%
Já na região central e proximidades, outros quatro distritos também registraram aumento no número de roubos de celular:
- 8º DP (Brás) – 58,5%
- 81º DP (Belém) – 18,8%
- 6º DP (Cambuci) – 14,6%
- 12º DP (Pari) – 11,9%
A reportagem usou a metodologia indicada pela própria SSP, removendo as ocorrências em duplicata. Na média diária, os percentuais de aumento são um pouco maiores do que no acumulado bimestral — 2024 foi ano bissexto e, por isso, fevereiro teve 29 dias.
O que diz a SSP
A SSP diz que “a comparação entre bairros de diferentes regiões não é adequada, pois cada área possui características sociais e geográficas distintas”.
“A pasta atua continuamente no combate aos roubos e furtos de celulares, bem como na receptação desses equipamentos, por meio de operações, como a Mobile e Big Mobile, e ações de inteligência policial. Desde o início do ano, 132 criminosos envolvidos com esses delitos já foram presos e mais de 26,7 mil celulares sem comprovação de procedência foram apreendidos”, afirma, em nota.
Segundo a SSP, essas ações têm contribuído para a redução dos índices de roubos e furtos de celulares registrada desde o início da atual gestão. “No primeiro bimestre de 2025, houve uma diminuição de 15% nos roubos na capital, em comparação a 2024, ando de 12.500 para 10.587 ocorrências. O mesmo cenário foi observado a nível estadual, com a queda de 20.673 para 17.898 registros – o que representa uma queda de 13%”, diz.