Fintechs do PCC: Gakiya fala em “pejotização do crime organizado”
Promotor especializado em combate ao PCC, Lincoln Gakiya chama criação de fintechs ligadas à facção de “pejotização do crime organizado”
atualizado
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O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), alertou nesta segunda-feira (26/5) para o aumento de empresas de tecnologia financeira, as chamadas fintechs, a serviço de facções criminosas. Ele chamou o fenômeno de “pejotização do crime organizado”.
“Infelizmente, são criadas diariamente dezenas, centenas de empresas que são ligadas ao crime organizado. Inclusive, empresas que atuam hoje como bancos, as fintechs. Eu venho falando disso há três anos. Nós tivemos operações fechando duas delas, com a participação da Polícia Federal aqui de São Paulo, no início deste ano”, disse Gakiya, durante participação no Seminário de Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia do Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), que acontece na capital paulista.
O promotor, especializado em investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC), se referia às duas operações da PF realizadas no início do ano contra fintechs que teriam sido usadas para lavar dinheiro da facção criminosa. Uma das operações, de fevereiro, tinha como alvo as empresas 2Go Bank e Invbank – fintechs identificadas como operadoras da facção criminosa durante as investigações sobre a morte do delator do PCC Vinícius Gritzbach.
Gakiya mencionou a morte Gritzbach como exemplo de como o PCC, hoje, “tem uma espécie de simbiose com o poder do estado”. Segundo o promotor, o “crime organizado só cresce com a cooptação de agentes públicos”.
Na perspectiva dele, o país está próximo de um “caos na segurança pública” e que, por isso, o trabalho dos agentes de segurança é “urgente”. Para isso, diz Gakiya, há a necessidade mudanças legislativas para combater o crime organizado.
Status de máfia
Para Gakiya, a capacidade do PCC de se entranhar em contratos públicos e influenciar órgãos do Estado faz com que a facção criminosa tenha adquirido o status de máfia:
“O crime organizado tem uma espécie de simbiose com o poder do estado. Ele não é apenas uma corrupção momentânea daquele agente público que está na ponta. Eles precisam daquela estrutura, ligada à segurança pública, para a sua própria existência. É como um câncer que é alimentado com o sangue do próprio paciente. Portanto, infelizmente, eu devo informar que o PCC já atingiu um status de máfia. Ele tem todos os requisitos doutrinários para ser considerado uma máfia. E sim, ele atua cooptando, capturando, e se infiltrando nos poderes do estado”, afirmou o promotor de Justiça.
A questão da nomenclatura atribuída à facção ganhou destaque nas últimas semanas, depois que o governo de Donald Trump disse que estuda classificar o PCC e o Comando Vermelho (CV) como “organizações terroristas”.
A gestão Lula, contudo, se manifestou de forma contrária a essa tipificação. O principal argumento para isso é que as facções não se enquadram na definição de terrorismo adotada pela legislação brasileira, que classifica como terroristas aquelas organizações que atuam em defesa de uma causa ou ideologia.
A classificação como máfia, defendida por Gakiya, também não é consenso. Durante o evento do IREE desta segunda-feira, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, disse que o Brasil ainda não tem uma definição do que é uma máfia e que o termo, relacionado à cultura italiana, poderia estar ligado a uma “glamourização” do crime. Para ele, o PCC deve ser chamado de “facção criminosa”.