Por que chefe da PF discorda que PCC seja uma organização terrorista
Diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues é contra a classificação do PCC como “máfia” ou “grupo terrorista”
atualizado
Compartilhar notícia

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, criticou, nesta segunda-feira (26/5), a proposta de classificar o Primeiro Comando da Capital (PCC) como uma organização terrorista. A declaração foi feita durante o Seminário de Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia do Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), que acontece em São Paulo.
Para Andrei, “tecnicamente” e, segundo a legislação brasileira, o PCC deve ser considerado uma organização criminosa.
“Tecnicamente são coisas distintas. Nós não podemos trabalhar enfrentando o crime organizado como se fossem grupos terroristas, que tem organizações distintas, propósitos distintos, métodos diferentes, e que dificultaria a adoção de uma ferramenta ou outra (…). Nós temos crime organizado aqui, essas facções brasileiras, e não ações terroristas, conforme a nossa legislação”, disse Andrei Rodrigues.
A fala do diretor da PF acontece após o governo de Donald Trump ter dito, no início deste mês, que estuda classificar o PCC e o Comando Vermelho (CV) como “organizações terroristas”. Com a mudança, os Estados Unidos pretendem asfixiar economicamente as facções. Isso porque qualquer pessoa ou empresa que tenha relação com essas quadrilhas aria a sofrer bloqueio financeiro
A gestão Lula, contudo, se manifestou de forma contrária a essa tipificação. O principal argumento para isso é que as facções não se enquadram na definição de terrorismo adotada pela legislação brasileira, que classifica como terroristas aquelas organizações que atuam em defesa de uma causa ou ideologia.
Classificação como máfia
Andrei Rodrigues ainda foi questionado sobre a possibilidade de o PCC ser classificado como máfia. Ele pontuou que há um grupo de trabalho instituído no Ministério da Justiça para discutir essa questão e que estuda a apresentação de uma lei que crie uma agência antimáfia. Apesar disso, ele é contra a mudança de terminologia.
“Eu defendo que nós temos facções criminosas aqui no Brasil e não quero glamourizar o crime. (…) Então, o que eu digo, se não é a questão da palavra máfia ou não máfia, acho que o fundamental aqui é a discussão da melhoria do enfrentamento ao crime organizado. Essa é a pauta central”, afirmou o diretor da Polícia Federal.
Andrei explicou que o Brasil não tem uma definição do que seria máfia. Essa terminologia, segundo ele, está descrita na legislação italiana, mas não aparece nas leis de outros países, como Brasil, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, França e China. “Tem a questão semântica de máfia, acho que é uma questão muito cultural da Itália (…) Não há, na legislação brasileira, e na maioria dos países, uma definição do que seja máfia. Na legislação italiana, sim”, disse.