Aprendizagem: lugar de criatividade é em casa e na escola
Especialistas apontam caminhos que pais e colégios podem seguir para preservar a capacidade criativa dos nossos pequenos
atualizado
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Pesquisa da Creative Education Foundation mostra que crianças de até 3 anos de idade costumam usar 98% de sua capacidade criativa. Por outro lado, adultos acima de 30 exploram apenas 2%. Onde estamos errando? Por que não desenvolvemos a capacidade criativa para o resto da vida? Lembrem-se disto: a criatividade pode ser uma grande aliada em praticamente todas as atividades profissionais do ser humano – não é algo relevante apenas nos nossos momentos lúdicos.
As especialistas Amanda Lopes e Sophia Leal, donas da Numi Educação, escola criativa focada no desenvolvimento de crianças e adolescentes, apontam caminhos que pais e colégios podem seguir para manter a capacidade criativa dos nossos pequenos para além dos primeiros anos de vida.
Com relação aos pais, elas ensinam: é importante deixar as brincadeiras das crianças com menos amarras e menos regras. “A gente tem mania de querer guiar a criança pelo processo dela, inclusive na hora de brincar. Deixar a imaginação do seu filho fluir e apenas acompanhar a brincadeira é muito melhor do que ‘ditar as regras’. Acredito que os pais devem interferir como ‘facilitadores’ do processo e não ‘coordenadores’”, explicam Sophia e Amanda.
Essa liberdade serve também para outras atividades nas quais a rotina pode ser mais solta. “Na hora de se alimentar, vamos deixar sujar! Vamos ter menos regras na hora de escolher a roupa, tomar banho, ear. Tudo isso pode ser visto como uma oportunidade para deixar a criatividade fluir”, explicam.
Outra questão importante é não tolher as ideias inovadoras das crianças ao fazerem suas atividades. “É importante refletir sobre os padrões que herdamos dos nossos pais e amos aos nossos filhos: ‘Não pode usar a tinta para essa atividade’. Essa é a hora de parar e pensar: por que não pode? Existe alguma razão importante e concreta? Se não existe, vale repensar essa regra e deixar a criança fluir”, acrescentam as especialistas.
Segundo a dupla de educadoras, no caso das escolas, a mudança precisa ser mais profunda para ampliar o incentivo à criatividade. “A maioria das escolas ainda segue o modelo carcerário (o termo é este mesmo!): todo mundo em salas que possuem janelas com grades, para ir ao banheiro tem que pedir permissão, na hora do recreio bate um sinal. E é todo mundo sentado em fileiras na frente de um quadro-negro ou branco”, explicam. Qualquer inovação proposta pelos alunos nessa rotina/estrutura do colégio costuma ser repreendida.
As escolas que incentivam a criatividade, ensinam Sophia e Amanda, têm espaços livres para aprendizagem, salas de aula coloridas e interativas, num formato em que todos possam interagir. “O brincar e a hora livre deveriam ser maiores, pois são nesses momentos que a imaginação aflora (vide as escolas finlandesas, que são referências mundiais)
Não é só a estrutura física que precisa de um ajuste. Segundo as especialistas, é necessário ter espaço para que as crianças descubram e explorem suas paixões e aptidões – “e não ficarem apenas decorando a matéria que cai na prova”, dizem. “Isso é importante não só para a infância, mas para toda a vida daquela pessoa. Afinal de contas, criatividade não é ‘apenas’ desenhar e pintar. Criatividade é ter resiliência, autoconfiança para encontrar a própria identidade e pensar em soluções para seus próprios desafios.”
É preciso que as instituições de ensino vejam a criatividade como uma importante aliada daquelas crianças na vida adulta profissional. Nossas empresas e instituições públicas estão repletas de gente que não consegue fazer mais do que o mínimo necessário para cumprir determinada função. Precisamos de cidadãos que vão além.