Cenas do Congresso: oposição nas redes, amizade nos bastidores
Deputado do PL troca farpas com senador do PT em público, mas se desculpa após votação do orçamento no Congresso
atualizado
Compartilhar notícia

Eles representam lados opostos. Enquanto um critica a postura do Supremo Tribunal Federal e defende a anistia para os condenados do 8 de Janeiro em suas redes socais, o outro exalta o papel da Corte na defesa da democracia e publica fotos com legendas como “sem anistia para golpista”.
Durante a votação do orçamento, na tarde da quinta-feira (20), o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), pediu a palavra para expressar sua indignação. “Nós somos colocados pelo nosso ilustre presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União-AP), para votar um orçamento sem que o do ano anterior seja 100% concluído”, reclamou. Sóstenes se referia à falta de pagamento das emendas impositivas de 2024. Essas emendas são os valores que o governo tem a obrigação de gastar conforme a indicação de deputados e senadores.
“Jamais poderíamos imaginar quando nós votamos a impositividade que chegaríamos a esse dia, o dia em que nós temos um governo que não cumpre emendas impositivas do ano anterior, e a gente é convocado para dar outro cheque em branco”, continuou o líder do PL. Em seguida, ele provocou: “Cadê o líder do governo? Senador Randolfe Rodrigues (PT-AM), vai querer outro cheque em branco agora? Não basta o orçamento do ano ado?”.
Sóstenes chegou a se referir a Randolfe como “um cara que eu gosto muito”, mas concluiu sua fala pedindo o compromisso de Alcolumbre e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) com a defesa do pagamento emendas de 2024. “Com o resto da liderança do governo não quero nem conversa”, alfinetou.
“Elogia no público, esculhamba no privado”
Concluído o discurso e encerrada a votação que aprovou o orçamento do governo para 2025, Randolfe se aproximou de Sóstenes ainda no Plenário da Câmara, que estava praticamente vazio, e cobrou, em tom de brincadeira: “Elogia no público, mas esculhamba no privado”.
O petista também se queixou de um momento em que Sóstenes mencionou a substituição na Secretaria de Relações Institucionais – com a saída de Alexandre Padilha e entrada de Gleisi Hoffmann –, como se o colega tivesse dado a entender que ele “ainda” não havia sido trocado. O deputado reagiu, “não quero te derrubar não, vou te elogiar na próxima, então. Eu prefiro você do que outros”.
O líder do PL justificou seu discurso, afirmando ter sido informado que o líder anterior do partido, Altineu Côrtes (RJ), havia tentado liberar as emendas diversas vezes, mas itiu, “posso ter errado na dose e na próxima tenho suficientemente humildade para reconhecer seu trabalho”. Ele completou dizendo que havia colocado Randolfe e o ex-ministro das Relações Institucionais em “um pacote só”.
O senador rebateu, garantiu que nunca fora procurado: “Se tu perguntar para o Altineu onde fica a liderança do governo no Congresso, ele não saberá te dizer, eu duvido. Se tu perguntar para o Altineu onde fica o gabinete de Randolfe Rodrigues, ele não vai saber”.
Sóstenes, então, aproveitou a oportunidade para marcar uma ida no gabinete do petista: “Você vai me receber com um cafezinho lá?”. “O momento que quiser”, respondeu o senador.
“Na semana que vem eu colo lá contigo”, prometeu Sóstenes, justificando-se em seguida ao pequeno grupo de pessoas que testemunhava o diálogo: “Eu vou, não tenho problema, converso com todo mundo, é a minha função e a dele”.