A vida depois de… superar o câncer com um olhar diferente
O fotógrafo Nick Elmoor tirou o melhor de uma situação que parecia um caminho sem volta. Após duas grandes cirurgias, uma quimioterapia e duas radioterapias por conta de um timoma com metástase no pulmão, ele conseguiu superar tudo criando um projeto fotográfico emocionante
atualizado
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O ano de 2009 foi coberto de acontecimentos marcantes. Barack Obama foi empossado como o primeiro presidente negro a entrar na Casa Branca, Papa lançou seu canal próprio no Youtube, Fifa divulgou as cidades sede para a Copa do Mundo de 2014 e Michael Jackson ou dessa pra melhor. Mas para o fotógrafo Nick Elmoor, 2009 foi o ano em que ele descobriu seu primeiro câncer: um timoma, tumor maligno localizado no mediastino — região do tórax que fica entre os pulmões.
Ele ama viajar e morar em cantinhos diferentes do mundo. Na época, tinha residência física em Toronto, no Canadá. Mas, se encontravam em solo brasileiro quando teve uma paralisia que tomou boa parte dos movimentos de seu corpo. Num desespero, a volta para o casa ficou para depois e a família se mudou para o Hospital Sarah Kubitschek. Ali ele recebeu o diagnóstico do câncer — que já estava em metástase. “Descobri que poderia morrer naquele dia”, afirmou.
“Naquele momento várias coisas se aram pela minha cabeça. Pensei que já tinha feito muito do que queria fazer. Morei em vários países, era fotógrafo, tinha uma família linda. Mas tudo que eu queria, mesmo vivendo muitos sonhos, era viver mais”, conta.
A primeira cirurgia foi cheia de riscos. Tirou-se parte de seu pulmão, o que lhe rendeu 14 dias na UTI. Sobreviveu. “Comecei a ter um sentimento de gratidão grande. Foi uma forma de aprender um pouco mais sobre mim, realizar novos propósitos”, comentou.
O mais importante? Ter mais tempo para minhas próprias coisas. Sempre priorizei os projetos dos outros, resolvi dar uma atenção especial para os meus.
Nick Elmoor
A partir dai, a vida renasceu. A mudança de Toronto para Brasília foi feita. A família estava agora morando na Asa Sul. Apesar de ser carioca, Nick conta que é brasiliense de coração e mora aqui por opção. Semestralmente fazia os exames necessários para check-up e estava tudo bem. Até que 2014 bateu à porta e, após dois semestres sem ir ao médico, resolveu ver como estavam as coisas dentro do peito.
Descobriu-se um segundo tumor, do mesmo tipo, em outra região. Dessa vez o tratamento foi quase imediato: recebeu o diagnóstico em um dia, fez a cirurgia no outro e entrou em período de recuperação no seguinte. Vida nova, de novo. Após aproximadamente duas semanas em observação no hospital, Nick foi para São Paulo começar radioterapia. O tratamento durou de setembro a dezembro do mesmo ano, e assim pode retornar a Brasília.
Duas costelas a menos, diafragma reposicionado, parte do pulmão retirado, algumas crises de taquicardia e falta de ar depois, o fotógrafo precisou reaprender a caminhar e descobrir uma forma de controlar a respiração. Inicialmente falava fraco, andava devagar e percorria um máximo de 100 metros dentro da própria quadra. A vontade de viver, no entanto, nunca diminuiu e foi dali que ele encontrou forças para seguir caminhando.
O amor pelos cliques nunca o abandonou. Nick é desses que vivem a profissão. Andando pelas entrequadras e, naturalmente, portando o celular, era época de chuva. Quando conseguiu chegar até a Esplanada dos Ministérios, decidiu posicionar o aparelho na linha d’água das poças formadas e registrar o reflexo do que se via.
“A escala monumental de Lúcio Costa estava se reapresentando de forma espetacular. A água acumulada no chão, beirando os meios-fios, refletiam o céu cheio de desenhos das nuvens. Para conseguir esse efeito eu, praticamente, mergulhava meu telefone na poça o que me permitia capturar novos e deslumbrantes reflexos. Lembrei de Alice, a personagem de Lewis Carroll que imaginou como seria o mundo do outro lado do espelho. Me questionava, será que do outro lado Brasília é mais legal? Tudo estava ali, além da linha d’agua”, explica o fotógrafo.
Assim nasceu o projeto “Além da Linha”, que o ajudou e motivou a continuar com as caminhadas. Os primeiros cliques aconteceram no período de chuva de 2015, mas este ano Nick saiu mais uma vez a explorar. Hoje, capaz de caminhar tranquilamente por até 10 quilômetros, ele resolveu comemorar com o lançamento de um livro com 97 retratos espalhados em 64 páginas.
“O projeto na verdade é uma crônica que conta os os que dei enquanto reaprendia a caminhar. Foi uma ideia de contar a mesma história, mas de forma diferente. Foi legal porque quando ‘Além da Linha’ nasceu, eu me obrigava a continuar caminhando e explorando a cidade”, conta. O livro que registra essa crônica fotográfica foi lançado no dia primeiro de junho com uma festa que reunia amigos próximos e colegas que abraçaram a causa. “Foi uma forma de trazer um projeto virtual para um cenário palpável”, completa.
O recomeço de Nick surgiu também da soma de seu talento com da esposa, a designer Claudia Elmoor, responsável pelo projeto gráfico. O prefácio foi feito pela amiga do casal, Selma Olli. O retrato do autor? Clicado por Arthur Elmoor, filho de 11 anos de Claudia e Nick.
A criação desse livro é a celebração de estar vivo agora. Certos diagnósticos não precisam ser um atestado de óbito. O que importa é estar aqui agora.
Nick Elmoor