Cosméticos verdes e saudáveis ganham espaço nas penteadeiras
Preocupação com a beleza aliada à sustentabilidade é encabeçada por celebridades e vem acompanhada de um movimento que ocupa também a mesa e o estilo de vida das pessoas
atualizado
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Não adianta cuidar da pele, devolver brilho aos cabelos, eliminar rugas e linhas finas ou cuidar dos pés ressecados se nada disso agradar também ao meio ambiente e à saúde. Pelo menos é o que prega uma nova geração de consumidores de beauté, tão ligados ao que diz o rótulo do produto quanto ao que ele promete fazer pela beleza de quem o usa. São pessoas dispostas a substituir o desodorante tradicional por alternativas naturebas sem conservantes ou alumínio, a trocar o xampu tradicional por um com uma lista mais modesta de químicos, ou a pagar mais caro por um sabonete feito de matéria-prima orgânica.
A tendência é encabeçada por celebridades e lançadores de comportamentos nas redes sociais e na televisão e vem acompanhada de um movimento que, mais do que a bancada do banheiro, ocupa também a mesa e o estilo de vida das pessoas. O exemplo mais recente partiu da apresentadora Bela Gil, que comanda um programa de receitas naturais num canal de TV por .
No mês ado, ela gerou polêmica na internet ao sugerir que as pessoas escovassem os dentes com pó de cúrcuma, que, segundo ela, deixaria os dentes brancos e limpos sem os compostos dos cremes dentais tradicionais, como sulfato, aromas artificiais e adoçantes. Especialistas criticaram Bela Gil e contraindicaram a cúrcuma para higiene bucal.
O movimento, no entanto, é endossado pelo mercado. Segundo a Organic Monitor, uma empresa especializada em esmiuçar dados da indústria sustentável pelo mundo, o mercado de cosméticos verdes movimenta cerca de US$ 10 bilhões (R$ 34,5 bilhões) por ano, 2% do total. No Brasil, a chegada de marcas de fora e o surgimento de novas grifes preocupadas com a origem das matérias-primas e as substâncias que vão nas suas formulações mostram que o espaço de fato existe.
Só nos últimos anos, aterrissaram por aqui a britânica The Body Shop, a australiana Aésop, a americana Burt’s Bees e a badalada Josie Maran, que usa óleo de argan 100% puro em seus séruns, objeto de desejo de quem é ligado em novidades de beleza.
Atenção aos rótulos
Os inimigos desses consumidores conscientes estão bem definidos. Com alguns deles, os especialistas concordam: é preciso cautela no uso. Quanto a outros, eles dizem, a artilharia é exagerada. Além disso, quem quiser substituir completamente a rotina tradicional de higiene e cuidados por uma totalmente amiga do ambiente e da saúde tem de estar disposto a se deparar com prazos de validade menores – muitos dispensam o uso de conservantes –, preços maiores e texturas nem sempre agradáveis, já que os produtos 100% verdes podem não levar emulsificantes e outros compostos que ajudam a dar emoliência, por exemplo, ao hidratante ou sabonete.
É muito difícil fazer um produto 100% orgânico. Por isso são mais caros. Eles não têm agrotóxico nem pesticida.
Consultora farmacêutica Mika Yamaguchi
Mika explica que não se pode adicionar um produto químico à formulação para espumar, por exemplo. “Você vai ter de usar algo semelhante. Mas, às vezes, a impressão que dá é que você está ando uma pasta no cabelo e não está limpando.”
O mesmo vale para as receitas caseiras. “Não é que não funcionam. Mas é preciso ter cuidado. Algumas pessoas gostam de ar vinagre no cabelo. Pode até ser bom, mas ele tem o pH ácido. Se entrar em contato com a pele, pode causar irritação. E, como não tem conservantes, essas receitas precisam ser consumidas na mesma hora”, orienta.
Alquimista caseiro
Mas quem quiser fazer o papel de alquimista na cozinha e preparar seus próprios cremes, pode fazer isso de forma segura. “Alguns ingredientes são ótimos. O mel é muito hidratante. O ovo, apesar de fedido, também faz muito bem para os cabelos. O óleo de oliva puro também é um poderoso hidratante para o rosto. As mulheres mais velhas, especialmente, podem ar uma gota no rosto todo antes de se deitar”, indica o cosmetólogo Maurício Pupo. O abacate, ele completa, é uma das únicas frutas liberadas para serem usadas como máscara. “Mas desde que se enxágue bem o rosto depois, porque, ao sol, pode causar manchas.”
Uma alternativa menos radical, ele lembra, são os produtos vegetais, feitos com frações de plantas e que podem chegar a porcentagens altas, com apenas 10% de substâncias artificiais. A vantagem fica na sensação agradável e no aroma, que nem sempre os ingredientes naturais puros conferem ao produto.
PARA FAZER EM CASA
Na semana ada, a blogueira sa Garance Doré compartilhou na sua página uma receita de máscara para o rosto à base de abacate. “É ótimo na pele, mas meu aviso: use a máscara quando estiver sozinha em casa, sem ninguém para ver você coberta de meleca”, escreveu.

Ingredientes
1/2 abacate
1 colher de sopa de água quente
1 colher de chá de óleo de coco
1 colher de chá de mel
Modo de fazer
Amasse bem o abacate e separe. Dissolva o mel e o óleo de coco na água quente e despeje o líquido no abacate. Limpe bem o rosto, seque com uma toalha e aplique a máscara, evitando olhos e lábios. Deixe secar por 10 a 15 minutos e limpe com uma toalha úmida.