Samantha! satiriza mundo das celebridades de ontem e de hoje
Estrelada por Emanuelle Araújo e Douglas Silva, série mostra uma ex-estrela mirim dos anos 1980 tentando se reerguer na era da internet
atualizado
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A série Samantha!, primeira comédia brasileira produzida pela Netflix, constrói pontes entre os anos 1980 e os atuais por meio de uma ex-estrela mirim (Emanuelle Araújo) e um ex-jogador de futebol recém-saído da cadeia (Douglas Silva) que veem na fama o sentido da vida. Os sete episódios da temporada de estreia, vão ao ar nesta sexta (6/7) na plataforma. O Metrópoles já viu e te conta o que esperar da produção.
Apelidada de “Samonstra” por desafetos e rivais, Samantha conquistou o Brasil na década perdida à frente da Turminha Plimplom. Como manda o script do politicamente incorreto, a cantora humilhava outras crianças ao vivo e fazia até propaganda de cerveja, a Canoa.Anos depois, já entrada nos 40, ela tenta um revival de si mesma: estrelar um programa na TV aberta e voltar a ser uma das pessoas mais queridas do país.
Disposta a praticamente tudo para atrair os holofotes – menos aceitar convite para fazer filme pornô –, Samantha enxerga uma oportunidade de ouro quando Dodói, com quem teve os filhos Cindy (Sabrina Nonata) e Brandon (Cauã Gonçalves) e vive uma relação conturbada, sai do presídio após 12 anos. Afinal, “casais vendem”. O ex-ídolo do Flamengo também quer uma nova chance de brilhar num mundo obcecado por ídolos – ou alguém para zoar.
É aí que a trama de Felipe Braga, criador e showrunner da série, mostra seu eixo principal: satirizar dois períodos – anos 1980 e 2018 – conectados pela nostalgia e pelo espanto, sem falar nas semelhanças entre os excessos da televisão oitentista e os da internet, hoje marcada pelas interações de redes sociais e ações de influenciadores digitais.
As tiradas estão por toda parte. Cigarrinho (Ary França), espécie de paizão de Samantha nos tempos da Plimplom, sentencia já no primeiro capítulo: “A televisão morreu”. Nada que desestimule a estrela decadente de continuar sua cruzada no lamacento submundo das celebridades.
“Quem tá pronto pra se humilhar na TV aberta">
Ao lado de Dodói, Samantha topa fazer um comercial da Canoa. Não satisfeita, vislumbra espaço cativo no horário nobre ao ser jurada convidada do show de calouros Enjaulados Kids – um The Voice Kids indelicado.
Samantha adere de vez à cultura da hiperexposição e do escândalo ao fingir uma viagem a Paris via Instagram, enganando até a amiga Gretchen. Atinge o fundo do poço ao se relacionar com o “galã” Flávio Junior, autor do verso “as metades da tangerina”, no reality Vivendo e Amando. Dodói também coleciona sua cota de humilhações públicas.
A caricatura que a série constrói dos anos 1980 lembra muito a vista no filme Bingo: O Rei das Manhãs (2017), sobre a versão nacional do palhaço Bozo – curiosamente, a própria Emanuelle viveu a Gretchen jovem no longa. A proposta não é exatamente se aproximar da crítica cultural, mas usar o histrionismo para comentar os famosos, seus delírios e surtos.
Essa sátira, porém, nem sempre funciona como deveria. Certos personagens soam convenientes demais para os caminhos da trama ou apenas subdesenvolvidos – como Laila (Lorena Comparato), a digital influencer de viagens, e Bolota (Maurício Xavier) e Tico (Rodrigo Pandolfo), os outros Plimplons que ressurgem nos últimos episódios.
Samantha! não se propõe a desconstruir a nostalgia, mas a filtrá-la por meio de uma personagem que se refestela no ado em busca de refúgio – bem à moda de Stranger Things, a série que não consegue ir muito além das suas referências pop. Ainda que os primeiros sete capítulos sejam irregulares, o futuro é promissor.
Avaliação: Regular