A excelente união entre diretor e atriz à la Hitchcock de Homecoming
Em seu primeiro grande trabalho para a TV, Julia Roberts encarou o desafio de Sam Esmail de viver um thriller inspirado num podcast
atualizado
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Se há uma figura perigosíssima de se homenagear no cinema, é Alfred Hitchcock. O lendário diretor britânico leva no currículo clássicos grandiosos como Psicose (1960), Um Corpo que Cai (1958) e Os Pássaros (1963). Mais que um excelente realizador, ele tinha estética própria e encarava desafios complexos hoje, que dirá à época: o excelente Trama Macabra (1976) foi filmado completamente em plano sequência. Imitar alguém assim é sempre um imenso risco.
Para gravar Homecoming, série original da Amazon Prime Video baseada num podcast homônimo, o diretor Sam Esmail decidiu homenagear o gigante inglês e criar um suspense recheado de referências à obra do mestre. É impossível não pensar na genial estrutura de prédios paralelos de Janela Indiscreta (1954) durante o oitavo episódio, quando personagens visitam, ao mesmo tempo, alas espelhadas da mesma construção.

O tom deliciosamente hitchcockiano permeia toda a estética da série. Desde a edição que cria um crescente suspense, à tela dividida nas cenas em que Heidi (Julia Roberts) conversa com Colin (Bobby Cannavale) no telefone, até mesmo o ritmo da história: assim como seu ídolo, Esmail leva todo tempo do mundo – o tempo dele, diga-se – para desdobrar o mistério.
A principal característica desta homenagem a Hitchcock não é, no entanto, a estética. Se há um ponto em comum de Esmail com o britânico, é a qualidade da produção garantida por uma grande atriz no papel principal. O primeiro grande trabalho de Julia Roberts para a televisão não poderia ser diferente. Em nova fase na carreira, a atriz entrega uma interpretação excepcional ao lado de seu principal parceiro de cena, o ótimo Stephan James.
A presença da estrela, aliás, pode ser considerada motivo para o sucesso de Homecoming: sua única exigência foi que a direção da série ficasse a cargo de uma única pessoa. Com episódios coesos e de estética uniforme, a história ganha fôlego até mesmo em seus momentos de maior lentidão.
Como esta é uma série baseada em um podcast, é fortemente calcada em diálogos bastante dinâmicos. Por vezes, o clima do seriado tende a ficar arrastado, principalmente nas cenas adas em 2022, quando tudo (pasmem!) parece ter saído diretamente da década de 1970. Mas o fim de cada episódio de 30 minutos sempre surpreende: já acabou?
Impossível não maratonar. Sugiro que você reserve cinco horas do seu fim de semana para isso.
Avaliação: Excelente