Exame de sangue ajuda a rastrear evolução do coronavírus, diz estudo
Cientistas espanhóis identificaram proteína que auxilia na compreensão do comportamento do vírus em interação com a célula
atualizado
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Estudo espanhol descobriu que o exame de sangue pode ser um método simples e eficaz para monitorar a infecção pelo Sars-CoV-2. Para isso, o exame deve identificar e quantificar a proteína ACE2, que é a porta de entrada do coronavírus nas células, assim como os fragmentos produzidos em decorrência da interação com o vírus.
A pesquisa foi realizada durante a primeira onda da pandemia e identificou que os pacientes com Covid-19 reduziram de modo significativo a quantidade de proteína ACE2 durante a fase aguda da infecção. Por outro lado, os fragmentos dessa proteína, gerados a partir do contato com o vírus, aumentaram em comparação com o grupo controle analisado.
Os cientistas responsáveis pela pesquisa também observaram que esses níveis de ACE2 voltam ao normal após a recuperação dos pacientes. Isso sugere que ambas as formas de ACE2 presentes no plasma podem ser usadas para diferenciar entre os pacientes infectados com coronavírus e aqueles infectados com o vírus influenza A, outro tipo de doença respiratória.
Liderado por Javier Sáez-Valero, cientista do UMH-CSIC Instituto de Neurosciencias de Alicante, na Espanha, o estudo foi publicado no periódico FASEB Journal e divulgado nessa terça-feira (13/7). Os resultados indicam que os níveis anormais da proteína ACE2 em pacientes infectados pelo coronavírus auxiliam na compreensão científica da evolução do vírus no corpo, tornando-a um biomarcador importante desse quebra-cabeça.
“Neste trabalho, estudamos os níveis plasmáticos do receptor do coronavírus, a proteína ACE2, e fomos capazes de determinar que existem diferentes formas da proteína no plasma, e que parte da ACE2 solúvel são fragmentos do receptor, gerados posteriormente à interação com o vírus. A proteína de comprimento total também é encontrada no plasma, que fornece informações sobre o acometimento dos tecidos durante a infecção “, explica Javier Sáez-Valero.
As amostras de sangue e dados dos pacientes analisados neste estudo foram fornecidos por bancos de sangue espanhóis, o ISABIAL Biobank, integrado na Rede Nacional de Biobancos Espanhola, e a Rede Valenciana de Biobancos. Foram estudados 59 pacientes que testaram positivo para o Sars-CoV-2 em exames PCR. Desse total, 24 eram mulheres e 35 homens, com média de idade de 64 anos.
Todos foram hospitalizados entre sete a nove dias após o início dos sintomas. Destes, 48 pacientes infectados com Sars-CoV-2 tiveram reações moderadas de Covid-19, enquanto 11 pacientes foram considerados casos graves, pois apresentaram insuficiência respiratória, necessitando de ventilação mecânica ou tratamento em unidade de terapia intensiva.
Como grupo controle, os pesquisadores compararam os resultados aos de dois grupos adicionais. O primeiro era composto por 17 participantes, sendo 9 mulheres e 8 homens, com idades entre 34 a 85 anos, que estavam contaminados com pneumonia pelo vírus da influenza A. O outro grupo consistia em 26 participantes saudáveis, sendo 14 mulheres e 12 homens, com idades entre 34 e 85 anos. Para o “grupo influenza A”, as amostras também foram colhidas na fase aguda, antes do tratamento hospitalar específico.
A descoberta do time de cientistas espanhóis foi quase por acaso. Eles investigavam a doença de Alzheimer quando perceberam nos exames de sangue o comportamento do vírus em interação com a proteína ACE2 durante a infecção pela Covid-19. “Essa hipótese se origina de nossa experiência na doença de Alzheimer. Nessa doença neurodegenerativa, investigamos proteínas, como a APP, que estão presentes no líquido cefalorraquidiano, [localizado no cérebro]”, relata Sáez-Valero.
“APP também é uma proteína de membrana que é processada pelas mesmas ferramentas moleculares da ACE2, e esse fenômeno foi a pista que nos levou a pensar que tanto a ACE2 em fragmentos de proteínas quanto a proteína inteira estão presentes no plasma. Assim, temos a possibilidade de investigar essa proteína como um possível biomarcador”, acrescenta o cientista.
Segundo os cientistas responsáveis pelo estudo, as alterações da proteína dos pacientes infectados por coronavírus justificam uma investigação mais aprofundada de seu potencial como biomarcadores da evolução da Covid-19, assim como para avaliar a eficácia da vacinação. Segundo eles, a próxima investigação se dedicará a entender o que acontece com essas proteínas em indivíduos vacinados ou PCR-positivos assintomáticos.
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