Túnel lançado por Lula e Tarcísio atrai de chinesa a alvo da Lava Jato
Obra avaliada em R$ 5,8 bilhões desperta interesse de construtoras nacionais e estrangeiras, que devem participar de certame em agosto
atualizado
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São Paulo — A quatro meses do prazo para envio de propostas, empreiteiras interessadas em disputar a concessão da obra do túnel submerso que ligará as cidades de Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo, negociam a formação de consórcios para participar do leilão que ocorrerá em 1º de agosto.
A concorrência do contrato estimado em R$ 5,8 bilhões interessa ao menos sete empreiteiras, que, até o momento, se organizam em quatro consórcios. O projeto é a maior obra incluída no Novo PAC e terá os custos divididos entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A empresa China Communications Construction Company (CCCC) é uma das interessadas no projeto. Para concorrer à obra do litoral paulista, a chinesa quer ser a parte majoritária de um consórcio com a portuguesa Mota-Engil. Na Bahia, a CCCC constrói a ponte Salvador-Itaparica, em parceria com outra construtora chinesa, a China Railway 20th Bureau Group Corporation (CRCC20). Em 2017, a CCCC adquiriu a construtora brasileira Concremat.
Outra oferta esperada deve ser a da espanhola Acciona, responsável pela Linha-6 Laranja do metrô da cidade de São Paulo. Na Europa, a construtora executa túneis para trens de alta velocidade, como o projeto Follo Line, na Noruega, e os túneis de Pajares, na Espanha. A entrada da construtora na obra do túnel Santos-Guarujá serviria para os espanhóis se certificarem para um projeto futuro – uma concorrência que deve ser aberta pelo governo espanhol de uma ligação do país com a cidade autônoma de Ceuta, um território da Espanha no norte na África.
A italiana Webuild também pretende entrar no certame. A empreiteira faria um consórcio com a Andrade Gutierrez para disputar a concessão do túnel Santos-Guarujá. Uma das obras que qualificam a empresa para o projeto paulista são as comportas de Veneza, um sistema com quase 80 diques que visa proteger a cidade da Itália de inundações. Quem acompanha o setor de perto diz que a multinacional italiana quer, no Brasil, adquirir a CCR, que domina concessões rodoviárias no estado.
Além das parcerias com empresas estrangeiras, o chamado “consórcio nacional” estaria de olho na obra do túnel. O consórcio é formado pela Novonor (antiga Odebrecht) e Queiroz Galvão. O projeto é visto por executivos como uma chance de se reabilitar no mercado nacional após o impacto das condenações da Operação Lava Jato na reputação das empresas.
Inicialmente, a Queiroz Galvão cogitou entrar na concessão junto com a CCCC. No entanto, a proposta elaborada pelos chineses seria de 60% da obra com a CCCC, 30% com a Mota-Engil e 10% com a empreiteira brasileira. Diante da pequena participação, a Queiroz Galvão preferiu aderir a outro projeto, temendo ficar responsável apenas pela manutenção da agem submersa e ser escanteada da obra. A concessão de 30 anos também engloba a operação do túnel após a construção.
A vencedora da licitação será a empresa que oferecer o maior desconto no valor cobrado da istração pública para o serviço. O montante máximo foi fixado inicialmente em R$ 304 milhões. Caso alguma concorrente apresente desconto de 100%, as empresas podem oferecer adicionalmente um desconto do aporte público ao empreendimento.
Detalhes da obra
O contrato prevê a construção da agem de 1,5 quilômetro, dos quais 870 metros serão submersos. O túnel reduzirá a dois minutos o tempo de deslocamento entre os municípios. Hoje, a depender do trânsito, o trajeto pode levar horas. A obra é importante para garantir a agilidade logística às cargas que saem do Porto de Santos e chegam ao local.
O edital foi lançado pelo governo de São Paulo no último dia 27 de fevereiro, em cerimônia realizada no Porto de Santos com a presença do presidente Lula e do governador Tarcísio. O documento diz que as empresas podem apresentar as propostas até 28 de julho para o leilão que ocorrerá quatro dias depois.
A concessionária será responsável pela construção de seis faixas (três por sentido) de rolagem para motos, carros e caminhões. Uma das pistas será adaptável para Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). A obra também prevê ciclovia e agem para pedestres.