Prefeitura quer vacina da dengue em escolas para reverter baixa adesão
Ministério da Saúde fala em “precaução” e recomenda vacinação exclusiva em unidades de saúde
atualizado
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São Paulo – A Prefeitura de São Paulo quer a autorização do Ministério da Saúde para aplicar a vacina contra a dengue dentro das escolas como medida para reverter a baixa adesão ao imunizante na capital paulista. Até agora, apenas 39,78% do público-alvo tomaram a primeira dose e 20,47% completaram o esquema vacinal com as duas doses.
A recomendação atual do Ministério da Saúde é de que a vacinação seja feita exclusivamente em unidades de saúde. A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) argumenta, no entanto, que a adesão poderia ser melhor, caso a cidade consiga aplicar as doses nas escolas, já que a faixa etária contemplada pela campanha é de adolescentes entre 10 e 14 anos.
“A gente percebe que quando levamos essa vacina até a escola os pais aceitam. Tivemos um aumento principalmente da [cobertura vacinal da] HPV, exatamente por isso, porque no ano ado fizemos diversas ações extramuros [da UBSs]”, afirma Mariana de Souza Araújo, coordenadora do Programa Municipal de Imunização (PMI).
No início da campanha de vacinação contra a dengue, em abril de 2024, a Prefeitura de São Paulo chegou a divulgar que levaria o imunizante às unidades de ensino municipais, mas voltou atrás por causa da recomendação federal.
Agora, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) tenta, por meio de um ofício enviado ao Ministério, a liberação do tema. O documento foi encaminhado ao governo federal em 27 de janeiro.
Ministério vê tema com cautela
A resposta ao pedido da Prefeitura de São Paulo já foi assinada pelo diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Éder Gatti, e deve chegar à Secretaria Municipal de Saúde em breve.
Em entrevista ao Metrópoles, Éder afirmou, no entanto, que o Ministério da Saúde manterá a recomendação atual, que prevê evitar a vacinação em ambiente escolar. Segundo ele, a decisão é uma precaução após casos de alergias serem registrados entre vacinados.
“Por uma questão de precaução, nós recomendamos que a vacinação fosse feita dentro das unidades de saúde e que os adolescentes ficassem em observação por 10 minutos após a vacinação. Uma coisa é acontecer um caso de alergia dentro do posto, outra coisa é acontecer na escola”, diz Éder.
O infectologista explica que os casos de alergias graves são “extremamente raros”, mas diz que é importante oferecer a assistência adequada caso aconteçam. “Não é uma posição do Ministério da Saúde, é uma coisa que é uma recomendação técnica da nossa farmacovigilância”.
Para ele, a cidade de São Paulo terá que garantir a assistência para alergias graves dentro das escolas caso queira vacinar os adolescentes neste ambiente.
“O que o Ministério recomenda é que a vacinação seja feita dentro das unidades [de saúde] garantindo a possibilidade de assistir casos de alergia grave. Qualquer município que queria fazer essa estratégia [de vacinar fora] vai ter que arcar com isso”.
“Pais devem tomar a rédea”
Enquanto não há mudança nas regras para aplicação fora dos postos, a coordenadora do PMI de São Paulo diz que a prefeitura tem investido em campanhas de comunicação e busca ativa para ampliar a cobertura vacinal entre os adolescentes.
Mariana afirma que os pais devem se envolver na campanha. “A gente brinca que é mesmo tomar rédea e levar para os nossos serviços, falar que precisa receber a vacina”.
No Butantã, distrito da zona oeste com maior incidência de casos da doença neste ano, pais ouvidos pelo Metrópoles sequer sabiam sobre a vacinação contra a dengue nos postos da cidade.
“Eu ouvi falar que estava em teste, mas que estava vacinando eu não sabia”, disse Alex Antônio de Souza, 42, pai de Beatriz de 11 anos.
Mãe de uma adolescente de 15 anos, a doméstica Maria de Fátima Vasconcelos, 40, disse que não levou a filha em 2024 porque não sabia da campanha. “Se eu soubesse teria ido levar porque as vacinas deles [os filhos] estão todas em dia, eu não deixo de dar nenhuma”, contou Maria.
Houve também quem se dissesse preocupado com as reações do imunizante. “Eu tô aguardando um pouco para ver como vai ser a reação dessa vacina porque ela é nova. A gente não sabe como vai ser”, disse a dona de casa Tatiana Nogueira, mãe de Rogério, de 11 anos.
A diretora da Sociedade Brasileira de Imunização, Isabella Ballalai, afirma, no entanto, que não há motivo de preocupação sobre a segurança da vacina.
“É uma vacina segura. Ela pode causar eventos adversos, como qualquer medicamento. Pode simular um quadro muito leve de dengue, mas isso é razoavelmente raro. E o Brasil detectou alguns casos de anafilaxia, que é uma alergia grave, mas tem como ser resolvida na hora. Os eventos graves são em número baixo, que não justificam não vacinar. Qualquer medicamento, até uma dipirona, pode causar alergia”.
O diretor do Programa Nacional de Imunizações, Éder Gatti, também reforça a importância da vacina.
“Ela é segura e protege contra uma doença que mata, que não escolhe classe social. E quando a dengue não mata, ela pode incapacitar a pessoa para suas atividades diárias. Então, o benefício da vacinação é indiscutível”, afirma.
Helen da Silva, 37, sabe bem o impacto da dengue e levou a sobrinha Yohanna ao posto para receber o imunizante no início do ano. “A primeira dose ela já tomou, a segunda vai ser no mês de abril”, disse.
A família estava preocupada com o aumento de casos na cidade. Em 2024, a mãe de Yohanna entrou para a estatística da saúde municipal como um dos casos graves da doença.
“A mãe dela teve dengue e quase morreu. Ficou uma semana inteira indo duas vezes por dia no AMA [Assistência Médica Ambulatorial], ficou acamada mesmo”.
Nesta terça-feira (12/2), a Prefeitura de São Paulo confirmou a primeira morte por dengue na cidade. A vítima, uma menina de 11 anos de Ermelino Matarazzo, na zona leste, não tinha registro de vacinação na rede municipal de saúde.