PM conferiu imagens de bodycam após executar jovem em abordagem. Vídeo
Policiais avaliaram imagens de ocorrência enquanto vítima agonizada no meio da rua; registros desmentiram versão dada em depoimento
atualizado
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São Paulo – Enquanto o entregador Gabriel Ferreira Messias da Silva, de 19 anos, agonizava no meio da rua, após levar um tiro no peito, dado pelo sargento Ivo Florentino Santos, policiais militares que atendiam a ocorrência começaram a conferir o registro das câmeras corporais dos envolvidos no homicídio (assista abaixo), em novembro do ano ado, na Vila Silvia, zona leste de São Paulo.
Na ocasião, os PMs relataram à Polícia Civil que Gabriel guiava uma moto sem emplacamento, com a qual teria supostamente fugido de uma abordagem, quando sacou um revólver. Porém, registros feitos pelas câmeras corporais dos PMs desmentem essa versão.
No equipamento usado pelo soldado Ailton Severo do Nascimento, policiais aparecem revisando insistentemente o momento em que uma arma de fogo é plantada no local, segundo a defensoria, para justificar a versão dos PMs, de que a vítima teria apontado um revólver contra a viatura da qual partiu o tiro fatal.
Pontualmente às 23h36, o soldado Severo desbloqueia a tela de seu celular, cuja imagem de fundo é a morte, que ao invés de uma foice, empunha um fuzil. Em poucos segundos, ele a o sistema de câmeras corporais e localiza o momento no qual Gabriel já está caído no chão.
O soldado movimenta o vídeo, para avaliar o ação dos colegas de farda, justamente no ponto em que a arma atribuída à vítima é plantada. Aos poucos, mais viaturas chegam ao local e muitos policiais am a avaliar as imagens, em mais de um celular. Todos deliberam e discutem.
O soldado conferiu o mesmo registro por cerca de meia hora, indo e voltando ao ponto no qual a arma teria sido plantada.
“Vira, vira”
As imagens mostram o sargento Ivo Florentino dos Santos, que atirou em Gabriel, ordenando para que outro PM vire para o lado, enquanto ele se agacha ao lado da moto do entregador. Na sequência, Ivo diz que encontrou uma arma no local. Cenas anteriores mostram, porém, que não havia nenhuma arma perto da moto ou de Gabriel antes daquele momento.
Outra câmera flagrou, ainda, Ivo chutando uma arma para debaixo da moto. Veja as cenas:
Segundo um PM da reserva, que ajudou na implementação das câmeras corporais da tropa, há um aplicativo que permite aos policiais arem as imagens dos equipamentos, via celular, por bluetooth. Esse recurso existia antes de atual gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Isso é feito, segundo a fonte policial, para preparar registros e indicações de ocorrências gravadas, para a checagem da própria conduta do policial, assim como para mostrar aos delegados, ou oficiais superiores, a dinâmica de ocorrências atendidas. “De qualquer forma, ele [PM] não pode apagar ou alterar as imagens”, pontuou.
“Executado”
“Já está provado que meu filho foi assassinado, foi executado”, afirmou ao Metrópoles a recepcionista Fernanda Ferreira, mãe de Gabriel, de 39 anos. Ela disse que está há seis meses em busca de justiça para o filho.
“Durante esses últimos seis meses, eu não sei o que é dormir, não sei o que é comer direito, vivo na base de remédios e calmantes. A minha luta é constante pela justiça. Meu filho tinha sonhos, tinha planos, tinha família. Ele não era só mais um”.
Fernanda acrescentou que todos os processos envolvendo o caso têm sido conturbados e sem transparência. Ela ainda criticou o fato de os policiais envolvidos no crime terem sido “somente afastados” do serviço operacional.
SSP
Questionada sobre a condutos dos PMs, de consultar as imagens das câmeras corporais, com a ocorrência em andamento e a vítima agonizando, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) reencaminhou a mesma nota enviada à reportagem desde o fim de semana.
No texto, a pasta diz que os policiais envolvidos estão afastados e que um inquérito policial militar (IPM) foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário para análise.
“Paralelamente, a Polícia Civil conduz investigação sobre o caso por meio do [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] DHPP, sob sigilo, com o objetivo de esclarecer todas as circunstâncias”, acrescenta.
O Metrópoles não conseguiu contato com o soldado Ailton. Por telefone, o sargento Ivo disse apenas para a nossa reportagem procurar a assessoria de imprensa da Polícia Militar. Procurada, a corporação não se manifestou.