Padula sugere boicote de professores ao explicar queda de indicadores
Secretário da Educação da capital afirma que pasta terá “porteira fechada” para o bolsonarismo e coloca aprendizagem como principal desafio
atualizado
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São Paulo – Mantido no cargo pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), o secretário municipal da Educação de São Paulo, Fernando Padula, tem como desafio melhorar o desempenho da rede. Em entrevista ao Metrópoles, ele afirma que as condições dadas à comunidade escolar pela gestão são boas e sugere que há uma espécie de “boicote” de professores em relação aos métodos de avaliação.
Em 2023, as escolas municipais apresentaram piora no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal referência sobre a qualidade da educação no país, registrando nota 5,6 para os anos iniciais do ensino fundamental, menor que as notas de 2021 (5,7) e 2019 (6).
Outro gargalo foi a alfabetização dos estudantes. Segundo o Indicador Criança Alfabetizada do Ministério da Educação, apenas 37,8% dos alunos da rede municipal de São Paulo são alfabetizados na idade certa. A cidade ocupa apenas a 21ª posição no ranking de alfabetização entre as capitais atualmente.
Padula elencou uma série de pontos que considera positivos da rede e sugeriu que os resultados ruins foram provocados, em parte, por uma suposta resistência de professores com avaliações de desempenho como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), prova utilizada para compor a nota do Ideb.
“Quais são as características da rede? O salário era R$ 3.823 o piso, ou para R$ 5.533. O plano de carreira da prefeitura é um plano desejado, temos um baixo índice de contratados [temporários], tem recurso nas unidades para manutenções. É uma rede potente. As condições estão dadas. Não é para São Paulo estar nesse patamar, tem que estar muito melhor”, afirma.
Para o secretário, os servidores precisam se concentrar nos estudantes e deixar a “questão ideológica” de lado.
“Não tem mais espaço para uma questão ideológica, partidária ou corporativa. Do tipo: ‘sou contra avaliação’, ‘sou contra o currículo’. Tem escola que não atinge nem o mínimo do resultado de avaliação, que não usa o dinheiro do PTRF [Programa de Transferência de Recursos Financeiros]. Quem sai prejudicado? O estudante. Temos todas as nossas opções políticas e partidárias, [mas] do muro da escola para fora. Vamos nos concentrar em garantir o direito de aprendizagem”, diz.
Perguntado se estava falando em uma espécie de “boicote” dos educadores contra a gestão, Padula afirma que “existe, sim, gente que é contra a avaliação e contra o currículo”. “Não quero saber a carteira de filiação de ninguém, cada um tem a sua opinião e seu livre direito democrático. Mas vamos focar no aluno, porque se ele não se alfabetizar e não aprender, não rompemos o ciclo da pobreza”.
“Porteira fechada” para o bolsonarismo
Parte da cota pessoal do prefeito Ricardo Nunes, o secretário municipal da Educação de São Paulo afirma que a pasta está blindada do assédio bolsonarista. Ele garante que não haverá loteamento de grupos políticos que apoiaram Nunes na campanha eleitoral na estrutura da secretaria.
“A partir do momento que o prefeito me escolheu, é como uma porteira fechada, com liberdade técnica de escolha. Se fosse para ter uma composição política na educação, o secretário seria outro”, afirma Padula, ao ser questionado sobre o assédio bolsonarista na pasta após a reeleição de Nunes.