Escola onde Herzog estudou será interditada para obras no centro de SP
Escola centenária ficará temporariamente desativada em 2025 por causa de obra no Parque Dom Pedro II; professores e alunos questionam medida
atualizado
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São Paulo – A Escola Estadual de São Paulo, uma das mais antigas da cidade e onde estudou o jornalista Vladimir Herzog, será temporariamente fechada pela Secretaria da Educação. Segundo a pasta, a unidade será desativada em 2025 por causa de uma obra de revitalização da Prefeitura no Parque Dom Pedro II, onde fica a instituição. Com isso, estudantes e funcionários serão transferidos para outros colégios.
A notícia pegou a comunidade escolar de surpresa. “Fiquei sabendo ontem de manhã, foi bem inesperado”, conta a estudante Fernanda Moura, de 18 anos, que está no 3º ano do ensino médio. “Me sinto mal pelos professores que vão ser remanejados e pelos alunos que não tiveram direito de escolha para saber para quais escolas eles iriam.”
Cristhyan Giovanne, também de 18 anos, endossa o coro da colega e diz que os estudantes sofrerão com a mudança de unidade. “Essa é a melhor escola da região central. Eu já fui em outras e elas não têm o que esta daqui tem”, desabafa o aluno.
A escola conta, atualmente, com projetos pedagógicos elogiados, como clube de dança, campeonatos interclasses e tutoria com professores. A infraestrutura também é superior à média dos colégios estaduais, com direito a ginásio, teatro e lousas digitais.
“O que eu quero ser da minha vida eu descobri aqui, por causa da estrutura que eles têm, das oportunidades, dos tutores. Os melhores professores que eu conheci estão aqui. É injusto separar todo mundo, acabar com a história de uma escola centenária em prol de obras”, diz Cristhyan.
Os estudantes da escola iniciaram um abaixo-assinado para tentar reverter a situação. Ex-aluno da unidade, Renato Hyago, de 18 anos, é um dos envolvidos na articulação e ressalta a qualidade do ensino no local.
“Meu irmão vai entrar no ensino médio no ano que vem e eu queria trazer ele para cá porque eu tenho certeza que o ensino que eles têm aqui é o melhor”, conta o jovem, que estudou em outras unidades antes de ser transferido para a E.E. São Paulo, em 2023. “Nenhuma escola no centro me ensinou um terço do que eu aprendi aqui.”
A Secretaria da Educação afirma que a decisão pela desativação temporária partiu de um “entendimento firmado entre o município e o governo do estado, evitando qualquer risco aos alunos e funcionários”.
Em nota enviada ao Metrópoles, a pasta diz que os estudantes do 2º e 3º anos do ensino médio serão transferidos para a E.E. Caetano de Campos, na Consolação. Já as duas turmas do 1º ano que começariam na E.E. de São Paulo no próximo ano serão desmembradas em unidades da região Central e da Mooca.
“A escola voltará a funcionar no término da obra, quando ará a oferecer cursos de Educação Profissional ou como Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA)”, finaliza a nota da Seduc.
Escola centenária
A E.E.de São Paulo é uma escola centenária e considerada referência na cidade. A unidade foi aberta em 1894, na região da Pinacoteca, e desde 1958 está no terreno ao lado do Parque Dom Pedro II. Figuras ilustres como o jornalista Vladimir Herzog, o ex-governador de São Paulo Carvalho Pinto, o ator Francisco Cuoco e a escritora Maria Adelaide Amaral são alguns dos ex-alunos da instituição.
No ado, a unidade chegou a receber até 3 mil alunos, divididos em diferentes períodos. Atualmente, segundo a Secretaria da Educação, a escola conta com 130 alunos, 27 funcionários e funciona em tempo integral.
Parte do prédio que pertence ao colégio está desativado há alguns anos. Segundo uma funcionária da escola, que preferiu não ser identificada por medo de represálias, o local seria transformado em um batalhão da polícia. A reforma, contudo, nunca foi feita e o espaço acabou depredado.
A construção está atualmente com paredes pichadas e vidros quebrados. Pessoas em situação de rua dormem rente ao muro do prédio desativado. Veja as imagens do local: