De R$ 0,60 na Bahia a R$ 13 no Ibirapuera: veja a trajetória do coco
Concessionária do Ibirapuera diz que negociou preço fixo com dois “fornecedores homologados” para que valor do coco não sofra variação
atualizado
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São Paulo — A trajetória do coco verde que é vendido por R$ 13 no Parque Ibirapuera começa no norte da Bahia, nas proximidades do Rio São Francisco, onde chegou a valer R$ 0,60 no início do ano. Até matar a sede de quem vive em São Paulo, ele percorre mais de 2.000 km e ganha preço, para valer, nos metros finais, quando vai parar nos carrinhos de um dos principais cartões postais da cidade.
O coco que deixou a Bahia por poucas moedas chega ao Largo do Pari, no centro de São Paulo, custando R$ 4. A reportagem foi ao local na última semana tentar entender os caminhos da fruta e o preço praticado. Ouviu dos vendedores que tanto faz levar 10 frutas em um carrinho de compras ou 10.000 em um caminhão: o valor do coco é o mesmo, R$ 4. Ninguém ousa descumprir.
Os ambulantes da região central da capital paulista também sabem disso. O Metrópoles conversou com vários deles que relataram a mesma coisa. Custa R$ 4 para comprar com os atacadistas e sai por R$ 10 a fruta, geladinha, para o cliente. O litro de água? R$ 18. Ninguém pode cobrar menos.
Depois da longa viagem de 2.000 km em caminhão com palha de coqueiro entre a fruta e a lona para não queimar, e com aberturas estratégicas no topo da carroceria para não cozinhar, o coco vai encarecer ainda mais no caminho de 6 km, entre o Pari e o Parque Ibirapuera.
Se custa R$ 4 no centro para qualquer um que encostar no Largo do Pari, para os vendedores do Ibirapuera ele vai sair no atacado por R$ 6,43. Para o consumidor, custará R$ 13 em qualquer barraquinha no parque.
Quem toma conta do Parque Ibirapuera?
- A Urbia é o nome da construtora Construcap para a gestão de parques. O Ibirapuera está sob gestão deles desde 2019.
- Segundo a empresa, até 2024, foram investidos R$ 226 milhões (sem considerar áreas verdes) no Ibirapuera.
- A empresa diz que R$ 70,5 milhões foram pagos à prefeitura a título de outorga fixa. Durante os 35 anos de contrato, a outorga variável, somada ao pagamento dos impostos, será maior que R$ 600 milhões.
- O contrato de concessão previa R$ 105 milhões em investimentos.
A Urbia, concessionária responsável pelo “Ibira”, diz que há dois fornecedores “homologados” — ambos também atuam no Pari — e permitidos a vender a fruta aos ambulantes.
“A Urbia negociou um preço fixo para que os vendedores não estejam sujeitos à volatilidade do preço do coco de acordo com a sazonalidade da produção”, disse, em nota. “O coco verde chega aos vendedores autônomos do parque já considerando custos de logística, operação e estabilidade de preço, sem que eles precisem se preocupar com oscilações do mercado”, reforçou.
Variação do coco
Os R$ 4 por coco, cobrados de quem compra no Largo do Pari, já são considerados preço de alta temporada, com tendência de baixa nos próximos meses. No inverno, a expectativa é de que a unidade saia por algo entre R$ 2,70 e R$ 3 na região central de São Paulo.
Portanto, a negociação feita pela Urbia com os dois fornecedores homologados encarece em R$ 2,43 o preço da fruta. No inverno, mantida a expectativa, ambulantes do Ibirapuera podem ter que pagar de R$ 3,43 a R$ 3,73 a mais do que qualquer outro vendedor da cidade.
O menor dos fornecedores homologados pela concessionária chega a entregar pelo Portão 4 do parque mais de 20 mil cocos (dois caminhões lotados) para serem consumidos em um único fim de semana quente, segundo apuração da reportagem. Estimativas conservadoras dão conta de que mais de 50 mil cocos sejam vendidos para matar a sede em sábados e domingos de calorão no Ibirapuera. A concessionária ganha 10% em cima do preço cheio de todo coco que é vendido pelos ambulantes.
O que diz a Urbia
A Urbia compara os preços do Ibirapuera com o de outros parques na cidade. A concessionária diz que a fruta sai por R$ 12 no Villa Lobos e Água Branca. Nos dois últimos, 500 ml são vendidos por R$ 18, ante R$ 17 do Ibirapuera.
“Nosso contrato com os vendedores autônomos estabelece diretrizes claras para a operação, trazendo todas as regras de funcionamento, bem como compra e venda de mercadorias com o objetivo de melhorar a experiência dos usuários e também de quem trabalha neles. Esse processo vem sendo implantado progressivamente há cerca de quatro anos, com diálogo contínuo para que todos possam se adaptar ao modelo”, afirma, em nota.
Segundo a concessionária, os pontos de venda seguem “um padrão estruturado para garantir organização e regularidade no fornecimento de insumos, como coco, gelo e bebidas, funcionando de maneira semelhante a um sistema de franquias”.
A Urbia diz que a casca do coco verde representa cerca de 80% do volume e peso dos resíduos gerados no Parque Ibirapuera. “Como seguimos a política de Aterro Zero, investimos na destinação sustentável desses resíduos, em vez de serem enviados para aterros sanitários”, diz.