Dólar dispara a R$ 5,91 e Bolsa derrete, com dobradinha Gleisi-Trump
Moeda americana fechou em alta de 1,50% e Ibovespa recuou 1,60%, em dia que, segundo analistas, mercado ou por elevada dose de incerteza
atualizado
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O dólar fechou em forte alta de 1,50%, a R$ 5,91, o maior valor no mês de fevereiro, nesta sexta-feira (28/2). Com isso, a moeda americana ou a acumular alta de 1,35% em relação ao real neste mês, mas queda de 4,26% no ano.
A Bolsa brasileira (B3), por sua vez, fechou em queda. O Ibovespa, o principal índice da B3, registrou recuo de 1,60%, aos 122.799 pontos.
Na avaliação de Emerson Vieira Junior, responsável pela mesa de câmbio da Convexa Investimentos, não faltaram fatores para impulsionar a incerteza dos investidores nesta sexta-feira.
Quadro interno
No cenário interno, cita Vieira Junior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, como titular da Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Ela vai ocupar o posto que era de Alexandre Padilha, que foi deslocado para o Ministério da Saúde.
Gleisi está entre as principais críticas do mercado entre os petistas. Além disso, alguns especialistas temem que a sua presença no ministério de Lula provoque um isolamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Por fim, há o temor de que a articulação entre o governo e o Congresso, que vinha sendo conduzida por Padilha, seja prejudicada.
Agenda econômica
“A indicação de Gleisi provoca preocupação no mercado”, diz Alexsandro Nishimura, diretor da assessoria de investimentos Nomos. “Existe uma percepção de que a deputada federal compõe a ala mais radical do PT, além de ter sido voz ativa contra medidas de ajuste fiscal, o que pode dificultar a agenda econômica.”
Há, contudo, quem acredite que a indicação de Gleisi Hoffmann para a SRI não tenha sido uma alavanca de destaque para a alta do dólar nesta sexta-feira. “Sinceramente, o mercado já esperava por isso e acredito”, afirma Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos.
Ambiente externo
No cenário externo, as turbulências, sob o ponto de vista dos agentes econômicos, não foram menores. É iminente a vigência das tarifas de importação fixadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele determinou que elas em a valer em 4 de março, contra Canadá (exceto itens de energia) e México (25%), além da China (10%).
As perspectivas geopolíticas também pioraram. Nesta sexta-feira, Trump recebeu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca. Ambos pretendiam discutir o futuro da guerra na Ucrânia e um acordo sobre minerais de terras raras. Na reunião, contudo, os dois líderes subiram o tom e bateram boca.
Inflação nos EUA
Os investidores também acompanharam a divulgação do índice de preços (PCE, na sigla em inglês), um dos principais termômetros da inflação nos EUA. Ele registrou um avanço de 0,3% em janeiro, com o acumulado em 12 meses desacelerando de 2,6% para 2,5%, em dezembro.
Os números, para os analistas, foram positivos, pois mostram uma redução no processo inflacionário americano. Não há consenso, contudo, se a queda terá algum peso nas próximas decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na redução da taxa de juros, fixada atualmente no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano.
Guerra da Ptax
Acrescente-se que, no caso do dólar, o último dia do mês, em qualquer mês, é especialmente volátil. Nesses momentos, o mercado trava o que os analistas chamam de a “guerra da Ptax”. A Ptax é uma média do preço do dólar em relação ao real, calculada pelo Banco Central (BC). Ela serve de referência para contratos de câmbio.
No fim do mês, empresas e investidores tentam influenciar o preço da moeda americana para que a média lhes seja favorável. Com isso, esses grupos vendem ou compram grandes quantidades de dólar para puxar a cotação da moeda para cima ou para baixo, na tentativa de afetar a média final.