Com inflação perdendo fôlego, mercado já projeta fim de alta dos juros
Atualmente em 14,75% ao ano, taxa básica de juros se aproxima do fim do ciclo de altas, avaliam economistas e analistas do mercado após IPCA
atualizado
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Economistas e analistas do mercado financeiro já projetam o fim do ciclo de alta da taxa básica de juros do país, a Selic, atualmente em 14,75% ao ano, diante de uma nova desaceleração da inflação no Brasil, segundo dados divulgados nesta terça-feira (10/6).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou em 0,26% em maio deste ano, ante 0,43% em abril. Foi o terceiro mês seguido de desaceleração no indicador.
No acumulado entre janeiro e maio deste ano, o IPCA ficou em 2,75%. No período de 12 meses até maio, foi de 5,32%.
Segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é de 3%. Como há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,5% e 4,5%.
O que diz o mercado
Para André Valério, economista sênior do Banco Inter, “além do resultado quantitativo positivo, tivemos um bom qualitativo da inflação”.
“O núcleo, medida que exclui os itens mais voláteis como alimentos e energia, desacelerou de 0,5% em abril para 0,3% em maio, o menor valor desde setembro de 2024. A inflação de serviços recuou entre todas as principais medidas, com exceção dos istrados, refletindo o aumento no custo da energia elétrica”, observa o economista.
“A inflação de serviços cheia recuou na margem para 0,18%, enquanto a inflação dos serviços subjacentes, menos sensível à política monetária, recuou de 0,61% para 0,42%. Finalmente, o índice de difusão, indicador que mede o tamanho do processo inflacionário, recuou de 67% em abril para 60% em maio, menor valor desde novembro de 2024”, prossegue Valério.
Na avaliação do economista do Inter, o resultado do IPCA no mês ado “sugere um arrefecimento maior que o esperado da inflação, em linha com o indicado pelo IPCA-15”.
“A inflação de alimentos deve continuar perdendo pressão devido à sazonalidade, enquanto ainda se vê os preços das commodities perdendo força no mercado internacional, o que pode contribuir para novos cortes no preço da gasolina pela Petrobras. Além disso, dado o aperto monetário, a direção é de arrefecimento na atividade, retirando pressão sobre a inflação de demanda.”
Segundo Valério, a perda de fôlego da inflação “deve consolidar a expectativa de fim do ciclo de alta da Selic, apesar de ainda vermos uma alta residual de 25 pontos-base [0,25 ponto percentual] como sendo provável, tendo em vista a declaração de membros do Copom nas últimas semanas”.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), a Selic subiu 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano – o maior valor em quase duas décadas. Para a próxima reunião do colegiado, na semana que vem, o mercado se divide entre a possibilidade de alta de 0,25 ponto percentual ou de manutenção da taxa.
A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.
Para Pablo Spyer, conselheiro da Ancord, o resultado do IPCA de maio “foi uma surpresa positiva ao vir abaixo do esperado, confirmando um movimento de desaceleração da inflação, sustentado, principalmente, pela queda nas agens aéreas e pela moderação nos preços dos alimentos no domicílio, com destaque para as quedas de preços do tomate, frutas, ovos e arroz”.
“Esses fatores ajudam a aliviar a inflação mensal, mas o resultado em 12 meses segue acima do teto da meta”, pondera Spyer.
O economista Maykon Douglas, por sua vez, aponta que a inflação de maio “foi um mix de forças em direções contrárias, e a força que puxa o índice para baixo venceu essa batalha”. “Além disso, trouxe uma composição um pouco mais benigna do que a ada, com leve desaceleração dos núcleos na métrica anualizada e uma difusão menor”, avalia.
“No entanto, a inflação subjacente segue em níveis incômodos e bem acima da meta, à medida que a demanda doméstica surpreende para cima. Ainda vale observar se haverá um novo aumento na conta de luz com a bandeira vermelha 2 em julho, como alguns precificam, e quando a bandeira voltará para níveis mais aceitáveis, devolvendo ao menos parcialmente essas altas”, observa.
“Como sinalizado pelo BC, esses e outros fatores não dão margem para se falar em corte de juros em 2025 no momento. Porém, o resultado de hoje pode tirar força de um aumento adicional dos juros”, conclui.
Para Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, “a surpresa positiva foi puxada, principalmente, pelos bens industriais e, dentro desse grupo, o setor de vestuário teve um impacto notável”.
“Por outro lado, o segmento de serviços – e suas métricas subjacentes – veio acima do esperado, embora confirmando um patamar menos desfavorável do que o observado no IPCA-15”, explica a economista.
“O resultado geral do IPCA de maio está em linha com nossa visão de melhora relativa da inflação corrente: contínua incompatível com a trajetória de metas, mas melhora em relação ao panorama muito ruim visto nos primeiros meses do ano”, conclui Natalie.
Como a inflação se comportou em maio
O resultado mensal foi puxado pela alta de 1,19% do grupo de habitação. Esse desempenho foi provocado pelo aumento nos preços de energia elétrica residencial, em razão da mudança na bandeira tarifária, que ou de verde (abril) para amarela (maio).
Em maio, o grupo de alimentação e bebidas, que tem maior peso no IPCA geral, desacelerou consideravelmente. Segundo o IBGE, a inflação dos alimentos ou de 0,82% para 0,17%.
Sete grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram variação positiva na agem de abril para março. As exceções foram os grupos de transportes (-0,37%) e de artigos de residência (-0,27%).
A energia elétrica residencial, que integra o grupo de habitação, foi o subitem com o maior impacto individual no IPCA mensal. A energia elétrica subiu 3,62% e exerceu impacto de 0,14 ponto percentual.
O IBGE ressalta que a vigência da bandeira tarifária amarela — definida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) — em maio adicionou R$ 1,885 na conta de luz a cada 100 KWh consumidos.
Ainda em habitação, houve reajuste no gás encanado (0,25%) e na taxa de água e esgoto (0,77%).