Apesar de desaceleração em março, mercado prega “cautela” com inflação
Mercado espera que o Banco Central mantenha o aperto monetário mesmo com a desaceleração do IPCA-15, a “prévia” da inflação, em março
atualizado
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Apesar de a chamada “prévia” da inflação ter registrado uma desaceleração em março deste ano, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o mercado financeiro ainda prega “cautela” e vê com certa preocupação o cenário inflacionário no país.
Segundo o IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação, mostra que os preços de bens e serviços subiram 0,64% em março — recuo de 0,59 ponto percentual em relação à taxa de fevereiro (1,23%).
Embora tenha registrado alta, a prévia da inflação registrou forte desaceleração em relação ao mês anterior. Além disso, o resultado veio um pouco abaixo das previsões do mercado financeiro, que projetavam, em média, uma alta de 0,7% em março.
No acumulado de 12 meses até março, o IPCA-15 tem alta de 5,26%, acima dos 4,96% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em março de 2024, o IPCA-15 foi bem menor, de 0,36%.
O desempenho da prévia da inflação foi impulsionado pelos grupos de alimentação e bebidas, com a maior variação (1,09%) e impacto, e dos transportes (0,92%). Somados, eles respondem por cerca de dois terços do índice.
“O resultado de março ainda sugere cautela com a inflação. Apesar da melhora do aspecto qualitativo, essa melhora ainda é marginal, e a persistência da inflação de alimentos em patamar muito elevado por vários meses pode ter repercussões no restante do índice, como já se nota na alimentação fora do domicílio, o que pode pressionar a inflação de serviços”, avalia André Valério, economista-sênior do Banco Inter.
“De todo modo, o resultado não altera, por enquanto, a condução da política monetária. Com pelo menos mais uma alta prometida, acreditamos que a dinâmica da atividade e do mercado de trabalho irá ditar o próximo o do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central]. Por ora, vemos o cenário consistente com uma alta de juros de 50 pontos-base [0,5 ponto percentual] em maio”, projeta Valério.
A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação. Em sua última reunião, no último dia 19, o Copom aumentou a Selic em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano.
Avaliação semelhante é feita pela Monte Bravo, que aposta que o resultado “deve reforçar o diagnóstico do Copom de prosseguir no ciclo de aperto da política monetária”. “Na reunião de maio, o Copom deverá elevar a taxa Selic em 50 pontos-base, para 14,75% ao ano”, estima a corretora.
“Para 2025, projetamos um aumento de 6,5% no IPCA, reflexo dos impactos da depreciação cambial, do crescimento econômico acima do potencial, da política fiscal expansionista e das expectativas de inflação desancoradas”, diz a Monte Bravo.
Segundo o economista Maykon Douglas, “o IPCA-15 de março trouxe algumas notícias positivas, como o número abaixo do esperado e a ausência de uma nova aceleração nos serviços subjacentes, apesar da leitura mensal mais alta”.
“Entretanto, a inflação corrente segue muito pressionada na parte mais sensível às condições econômicas. Uma normalização total deve levar tempo. Portanto, tivemos mais um número que reforça a persistência do BC no aperto monetário”, concluiu o economista.
O IPCA-15
- O IPCA-15 difere do IPCA, que mede a inflação oficial do país, na abrangência geográfica e no período de coleta, que começa no dia 16 do mês anterior. Por essa razão, ele funciona como uma prévia do IPCA.
- O indicador coleta dados sobre as famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos. Ele abrange: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Brasília e Goiânia.
- Em fevereiro, o IPCA-15 voltou a acelerar em relação a janeiro (0,11%) e ficou em 1,23% no mês.