Crítica: Marisa Monte junta preciosidades dispersas em “Coleção”
Cantora reúne 13 das muitas participações que fez em discos alheios ou em projetos coletivos, criando praticamente um álbum novo
atualizado
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Desde o início, Marisa Monte mantém uma forma muito própria de conduzir a carreira. Recusa a superexposição na mídia e não se obriga a lançar discos com regularidade. Por outro lado, quando lança, são trabalhos com capacidade de agradar públicos de A a Z — algumas vezes contrariando críticos que a queriam, digamos, mais “difícil”.
Na hora de lançar uma coletânea, Marisa continua fugindo ao script. Pelo caminho óbvio, o novíssimo “Coleção” deveria ser um greatest hits, um best of ou como quer que se chame esse tipo de disco que junta os grandes sucessos de um artista. Porém, a cantora preferiu reunir 13 das quase 40 participações que fez em trabalhos alheios ou em projetos coletivos. Assim, criou praticamente um disco novo.
Referências e interesses
Levando a essas participações o mesmo grau de exigência aplicado em seus álbuns, ela conseguiu fazer de “Coleção” uma pequena antologia de preciosidades. Uma colagem que dá também uma ideia do leque de referências e interesses da cantora — do samba à Jovem Guarda — e seu trânsito no cenário da música internacional nesses quase 30 anos de carreira.
De discos anteriores, aparecem apenas duas faixas, e mesmo assim em gravações diferentes daquelas ouvidas nos discos da cantora. “Alta Noite” (“Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”, 1994) entra em “Coleção” na gravação feita para “Nome”, primeiro solo de Arnaldo Antunes, em 1993. “A Primeira Pedra” (“Infinito Particular”, 2006) aparece num dueto de Marisa com o argentino Gustavo Santaolalla, em 2011.
A partir daí, “Coleção” é uma sucessão de boas surpresas (confira a lista de músicas abaixo). Afora alguma pequena diferença na qualidade de gravação de uma para outra faixa, há uma linearidade, há a marca de Marisa — que, com delicadeza, consegue se impor seja cantando com a grande dama Cesária Évora ou com o amigo Arnaldo Antunes.
Avaliação: Muito bom
Disponível no iTunes e no Spotify
Saiba qual a origem de cada uma das faixas da “Coleção” de Marisa Monte:
“Nu Com a Minha Música” (Caetano Veloso)
Com os cantores Rodrigo Amarante e o americano Devendra Banhart para o álbum “Red Hot + Rio 2” (2011)
“Cama (Uma Palavra)” (Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown)
Da trilha sonora do filme “Era Uma Vez” (2008)
“É Doce Morrer no Mar” (Dorival Caymmi e Jorge Amado)
Com Cesaria Évora, para o CD “Café Atlântico”, da cantora cabo-verdeana (1999)
“Carinhoso” (Pixinguinha e João de Barro)
Com Paulinho da Viola, da trilha sonora do filme “Meu Tempo É Hoje” (2003)
“Alta Noite” (Arnaldo Antunes)
Com Arnaldo Antunes, para “Nome”, primeiro álbum solo do ex-Titãs (1993)
“A Primeira Pedra” (Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown)
Com o argentino Gustavo Santaolalla, em gravação ao vivo (2011)
“Dizem que o Amor” (Francisco Santana e Argemiro Patrocínio)
Gravação feita para o álbum “Argemiro Patrocínio” (2002)
“Ilusão (Ilusión)” (Julieta Venegas, com tradução de Marisa Monte e Arnaldo Antunes)
Com Julieta Venegas, do álbum “iTunes Live from São Paulo” (2011)
“Esqueça (Forget Him)” (Mark Anthony, versão de Roberto Corte Real)
Da trilha do filme “Casseta & Planeta — A Taça do Mundo É Nossa, 2003)
“Chuva no Mar” (Marisa Monte e Arnaldo Antunes)
Com Carminho, para o álbum “Canto” da artista portuguesa (2014)
“Fumando Espero” (Juan Viladomat Masanas e Félix Garz, versão de Eugênio Paes)
Gravação ao vivo inédita, feita durante show com Café de Los Maestros (2009)
“Volta Meu Amor” (Manacéa e Áurea Maria)
Do álbum da Velha Guarda da Portela, “Tudo Azul” (2000)
“Águas de Março/Waters of March” (Antonio Carlos Jobim) /
Com o americano David Byrne para o “Red hot + Rio” (1996)