Para vencer crise, editoras buscam livros sobre Covid-19 e focam em e-books
Escritores relatam dificuldades de produzir sobre pressão, mas há títulos saindo sobre o tema da pandemia
atualizado
Compartilhar notícia

Assim como outros âmbitos culturais, o universo dos livros também sofreu impactos significativos em meio à pandemia do novo coronavírus. Com o setor já desestabilizado antes da crise, a venda de livros físicos se viu ainda mais sem rumo após o fechamento, mediante decreto, de livrarias, sebos e papelarias. A rede Saraiva, por exemplo, encerrou os trabalhos em mais de sete lojas no Brasil desde a adoção das medidas de distanciamento social.
Alguns livros já escritos ganharam destaque por “prever” o coronavírus, como foi o caso de Os Olhos da Escuridão (para comprar, clique aqui). Escrito em 1981 por Dean Kontz, a obra traz semelhanças impressionantes com o novo coronavírus. O mesmo aconteceu com A Realidade de Madhu (para comprar, clique aqui), escrito em 2014 por Melissa Tobias. O motivo foi que em um dos capítulos, a autora “prevê” uma quantidade imensa de mortes após um vírus tomar todo a Terra.
Editor sênior da Citadel, André Mendonça afirmou ao Metrópoles que a empresa busca obras que possam ajudar os leitores a ar pelo momento de crise, mesmo que não citem diretamente a pandemia do coronavírus.
“Em 2020, iniciamos uma nova linha de livros de ficção, que é o caso do Olhos da Escuridão, e foi um tremendo sucesso. O livro figurou nas listas de mais vendidos e, por sua ligação com a pandemia, foi manchete no Brasil todo e também no mundo. Acreditamos que mesmo nos projetos de ficção é possível ar mensagens motivadoras, de desenvolvimento pessoal e autoajuda”, explica o editor.
André ainda acredita que as pessoas arão a buscar mais por livros relacionados à pandemia: “Historicamente, em momentos de crise, de dor ou de dificuldade coletiva, seja em um país, estado ou grupo social específico, os temas de desenvolvimento pessoal, motivacional e inspiracional apresentam crescimento e se mostram como um ponto de esperança para as pessoas. Isso acontece em todos os segmentos de entretenimento, creio eu”.
Já Danielle Machado, editora executiva da Intrínseca, comentou que a pandemia não afetou diretamente os lançamentos da empresa, e garantiu que foram lançados mais livros neste primeiro semestre do ano do que no mesmo período do ano ado.
“Encaixamos lançamentos importantes para o debate da pandemia, como A Grande Gripe (para comprar, clique aqui), que remonta a história da gripe espanhola, e Inimigo Mortal (para comprar, clique aqui), sobre a ameaça constante das epidemias e as medidas de contenção de surtos anteriores, como o Ebola, a Mers e o Zika”, afirmou a editora.
Visão dos escritores
Alguns escritores aproveitaram o momento livre para investir em seus próximos lançamentos e escrever novas histórias, como é o caso do escritor brasiliense Miguel Sartori, que lançou o livro Daniel na Trilha dos Dragões (para comprar, clique aqui) em meio à pandemia. O mesmo não aconteceu com o escritor Clóvis de Barros Filho. Segundo ele afirmou ao Metrópoles, o momento de crise prejudicou seu processo de escrita, já que ele perdeu todos os serviços como palestrante e precisou se reinventar na internet para suprir a crise econômica.
“Eu fui pressionado por uma dificuldade econômica, e com o fim das palestras, nós tivemos que buscar alternativas, então amos a fazer lives e eventos on-line e, como tem um valor menor que a presencial, tudo que fizemos foi ‘se virar nos trinta’ para conseguir manter o que havia antes [da pandemia]. Escrever é algo que requer tranquilidade, acabei deixando de lado, não escrevi nada na pandemia”, relatou o escritor.
Em contrapartida, o escritor Felipe Castilho, autor de Serpentário (para comprar, clique aqui) e Ordem Vermelha, ambos da Intrínseca, afirmou que a situação o impulsionou a criar: “Eu escrevo para viver e pensar em histórias é minha profissão. Porém, acho que fazer tudo sob pressão faz nossas engrenagens precisarem de um sossego muito rapidamente. Saúde física e mental são consumidas muito rapidamente quando tudo é feito no limite”.
Castilho ainda contou que escreveu três roteiros para quadrinhos e um seriado para TV sobre o coronavírus. “É bem normal as obras ficcionais orbitarem acontecimentos históricos, ainda mais em algo nessa escala. Mas também acho que mais do que nunca precisaremos também de outros temas. Grandes obras com grandes alertas surgiram em tempos de relativa prosperidade, e acho que obras esperançosas podem surgir no meio do caos generalizado”, ponderou.
E-books
Na última semana, o Metrópoles mostrou que o público aderiu aos e-books durante a pandemia. Um estudo da Growth from Knowledge (GfK) mostrou que, de 8 a 14 de junho, houve uma queda brusca nas vendas do canal físico e uma aceleração da tendência de migração para e-books.
André concordou com os dados e afirmou que, após a pandemia, as editoras precisarão se reinventar para manter suas vendas, focando no quão importante a internet se tornou em um cenário onde não se pode ter contato com outras pessoas.