Cannes: Limonov – The Ballad, de Kirill Serebrennikov
Diretor russo traz outra história sobre figura histórica marginal em seu país.
atualizado
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Enquanto Vladimir Putin continua a pressionar o povo russo numa ditadura silenciosa, o diretor Kirill Serebrennikov continua apresentando filmes no Festival de Cannes. Diretores mais críticos ao regime deram uma sumida, mas Serebrennikov, que já foi preso, ainda consegue apresentar trabalhos sobre elementos e personagens verídicos, porém marginais, como em “Leto”, sobre um russo membro de uma banda punk e “A Esposa de Tchaikovsky”, sobre a mulher usada para mascarar a homossexualidade do compositor. Agora ele traz um filme biográfico que se aprofunda na vida tumultuada de Eduard Limonov (Ben Whishaw), um escritor, poeta e ativista político russo conhecido por sua personalidade controversa e multifacetada.
A narrativa abrange várias décadas, traçando a jornada de Limonov desde seus primeiros dias na União Soviética até seu exílio nos Estados Unidos e França, e eventualmente seu retorno à Rússia pós-perestroika. Serebrennikov emprega uma abordagem narrativa picaresca, capturando o espírito caótico e rebelde da vida de Limonov. A edição dinâmica do filme e a cinematografia vibrante, cortesia de Roman Vasyanov, contribuem para seu retrato energético de um homem perpetuamente em desacordo com as normas sociais.
A interpretação de Limonov por Whishaw é um destaque, incorporando as complexidades do personagem com uma mistura de intensidade e vulnerabilidade. Sua performance foi descrita como “hipnotizante” e possivelmente “a performance da carreira de Whishaw”. O elenco de apoio, incluindo Viktoria Miroshnichenko como Elena, acrescenta profundidade à narrativa, destacando os relacionamentos pessoais que influenciaram a trajetória de Limonov. O roteiro, coescrito por Serebrennikov, Ben Hopkins e Paweł Pawlikowski, adapta o romance de 2011 de Emmanuel Carrère, esforçando-se para equilibrar as várias facetas da vida de Limonov — de escritor underground a agitador político.
A trilha sonora do filme, com faixas como “Pretty Vacant” dos Sex Pistols, complementa seu tom rebelde, embora algumas seleções tenham sido criticadas por serem excessivamente óbvias. O design de produção de Vlad Ogay recria efetivamente os diversos cenários da vida de Limonov, da Rússia da era soviética a Nova York e Paris dos anos 1980.
“Limonov: The Ballad” oferece uma exploração envolvente, embora às vezes superficial, de uma figura provocativa cuja vida desafiou a categorização fácil. A direção de Serebrennikov, combinada com a performance convincente de Whishaw, cria um filme que é tanto um estudo de personagem quanto uma reflexão sobre as paisagens sociopolíticas mais amplas que moldaram o mundo de Limonov. Embora possa não penetrar totalmente no enigma de seu assunto, o filme consegue retratar a energia inquieta e o desafio que definiram Eduard Limonov.
Avaliação: Bom (3 estrelas)