Cannes: “Le Otto Montagne”, de C. Vandermeersch e F. Van Groeningen
Dois amigos italianos, de classes e culturas diferentes, vivem vidas inteiras ao redor das montanhas do campo
atualizado
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A Itália não é muito conhecida por suas montanhas, especialmente com tudo que tem a oferecer. Seria bem-vindo então um filme que usasse os Alpes não só como paisagem, mas também como um ponto de exploração cultural. Pietro (Lupo Barbiero) e Bruno (Cristiano Sassella) se conhecem ainda na pré-adolescência, em um pequeno vilarejo nas montanhas, e ainda mantém uma amizade que durará a vida inteira. Pietro vem da cidade, de férias, e Bruno mora ali, crescendo como um “homem das montanhas”.
A amizade entre as duas crianças é verdadeira e cresce a cada verão, mas a família de Pietro começa a se preocupar com o futuro de Bruno neste lugar tão abandonado. Quando oferecer criar Bruno em Turim, e colocá-lo numa ótima escola, o pai de Bruno reage ferozmente, levando o pequeno para trabalhar com ele em obras e construção. O conflito mais duradouro é esse, do risco de extermínio de um modo de vida montanhesco.
Os dois só voltam a se falar quando adultos, agora vividos por Luca Marinelli e Alessandro Borghi. Pietro descobre que seu pai lhe deixou uma casa na montanha em seu testamento. Como o lugar foi completamente destruído pelo tempo, ele e Bruno formam uma aliança para ar um verão juntos e reconstruí-la. É neste local que os dois voltam a se encontrar durante os anos que restam, e aqui o filme cai vítima de sua fórmula. Amores e desamores acontecem, sem muito drama, e a vida fica diferente.
Bruno, com mulher e filha, se arrega na montanha, tentando manter viva sua fazendinha. Já Pietro vira escritor e começa a plantar raízes no Nepal. Um deles internaliza sua existência, o outro externaliza, em busca de algo mais. O filme evita o conflito, evita reflexões e se contenta com pouco. Para o espectador, o enredo começa a ficar massacrante, visto que a teimosia de Bruno e seu orgulho o impedem de prosperar na irrelevância de seu modo de vida no mundo moderno.
A narração é de Pietro (e parece óbvio que o filme se trata de uma adaptação de algum livro italiano de sucesso), mas não é ele o personagem que queremos explorar internamente. Este deveria ser Bruno que, proibido de sair da montanha na infância, resolve se acabar lá na vida adulta.
Avaliação: Regular (2 estrelas)