Cannes: Grand Tour, de Miguel Gomes
Diretor português, apesar de muito bem recebido por críticos, ainda continuará desconhecido do grande público devido a sua experimentação.
atualizado
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O diretor português Miguel Gomes ainda não é conhecido para além de círculos cinéfilos, mas seu cinema é sempre uma exploração visualmente impressionante e tematicamente ambiciosa de identidade, história e narrativa. Conhecido por sua produção cinematográfica lúdica e que confunde gêneros, Gomes usa a estrutura de uma grande viagem para criar um mosaico de narrativas interconectadas, misturando fatos e ficção para examinar as complexidades da experiência humana.
O filme segue uma estrutura narrativa solta, centrada em um cineasta moderno refazendo os os dos exploradores do século XIX. Por meio dessa premissa, Gomes entrelaça várias histórias de diferentes eras e continentes, muitas vezes desafiando o público a questionar o que é real e o que é imaginado. Essa abordagem em camadas lembra os trabalhos anteriores de Gomes, como Tabu e Arabian Nights, e solidifica sua reputação como um mestre da experimentação cinematográfica.
Um dos aspectos mais atraentes do filme é seu estilo visual. Filmado em exuberante filme de 16 mm, Grand Tour oscila entre paisagens oníricas, filmagens de arquivo e momentos de realismo absoluto. A cinematografia captura tanto a grandeza da natureza quanto a intimidade de histórias pessoais, criando um equilíbrio entre o épico e o íntimo. Gomes emprega uma mistura de narrações, interlúdios musicais e sequências silenciosas, aprimorando ainda mais a natureza experimental do filme.
Embora a narrativa fragmentada do filme possa ser desafiadora, ela também permite que Gomes explore temas como colonialismo, memória cultural e o próprio ato de contar histórias. Ele justapõe as visões romantizadas dos exploradores com as duras realidades das terras e povos que eles encontraram, oferecendo uma crítica matizada das narrativas históricas. Esse tom reflexivo é complementado por momentos de humor e absurdo, que impedem que o filme se torne excessivamente didático.
No entanto, Grand Tour não está isento de falhas. Sua estrutura não linear e densas camadas temáticas podem alienar espectadores que buscam uma narrativa mais convencional. Às vezes, o ritmo do filme se arrasta, e alguns segmentos parecem mais atraentes do que outros. No entanto, essas imperfeições parecem intencionais, pois refletem a natureza fragmentada e subjetiva da memória e da história.
No final das contas, Grand Tour é um trabalho ousado e instigante que desafia as convenções tradicionais de narrativa. Miguel Gomes continua a expandir os limites do cinema, criando um filme que é tão intelectualmente estimulante quanto visualmente encantador. Para aqueles dispostos a abraçar sua natureza experimental, Grand Tour é uma jornada cinematográfica gratificante que perdura muito depois dos créditos.
Avaliação: Bom (3 estrelas)