Cannes: Feng liu yi dai, de Jia Zhang-Ke
A contínua crônica do diretor sobre a China faz ele permanecer no topo dos festivais internacionais.
atualizado
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Continua um mistério a forma de Jia Zhangke conseguir fazer seu cinema na China, sem ramificações traumáticas. Reverenciado no mundo todo como um dos melhores da atualidade, seus filmes exploram as mudanças que aconteceram em velocidade estratosférica na China, só que sempre com um viés crítico. Longe dele a o sucesso dos largos os econômicos dados pelo superpoder asiático–os personagens de seus filmes são sempre vítimas delas. Feng liu yi dai, ou Preso Pelas Correntezas, é uma exploração contemplativa da transformação pessoal e social na China ao longo de duas décadas. O filme acompanha Qiao Qiao (Zhao Tao), enquanto ela navega um relacionamento complexo com seu parceiro evasivo, Guao Bin (Li Zhubin).
A narrativa é construída de forma única, misturando filmagens de arquivo dos trabalhos anteriores de Jia com cenas recém-filmadas. Essa abordagem cria uma experiência de narrativa não linear que reflete a fluidez da memória e da história. O filme começa em 2001, capturando os primeiros dias da expansão econômica da China e avança para a era pós-COVID, destacando as profundas mudanças no cenário e nas normas sociais do país.
A performance de Zhao Tao é envolvente, incorporando a resiliência e a adaptabilidade de Qiao Qiao em meio a convulsões pessoais e nacionais. Sua representação é amplamente silenciosa, contando com linguagem corporal expressiva e expressões faciais emotivas, o que acrescenta profundidade à jornada da personagem. A química entre Zhao e Li Zhubin transmite efetivamente as complexidades de um relacionamento tenso pelo tempo e pelas circunstâncias.
A direção de Jia é marcada por um tom reflexivo, utilizando tomadas longas e ritmo deliberado para imergir o público nas experiências do protagonista. O estilo visual do filme transita entre diferentes formatos, refletindo a agem do tempo e a evolução dos personagens e do país. Essa técnica ressalta os temas de mudança e continuidade do filme.
Tematicamente, “Caught by the Tides” se aprofunda na interação entre narrativas pessoais e mudanças sociais mais amplas. Ele examina como as vidas individuais são influenciadas e, por sua vez, influenciam as transformações radicais dentro de uma China em rápida modernização. O filme também aborda a preservação da memória, tanto pessoal quanto coletiva, e o papel do cinema em capturar a natureza efêmera do tempo.
O filme tem um uso inovador de filmagens de arquivo. É uma reflexão criativa sobre o corpo de trabalho de Jia e um comentário sobre a agem do tempo. Isso não é exatamente novo na filmografia do diretor, mas devo itir que prefiro os seus filmes que tem uma construção nova.
Avaliação: Bom (3 estrelas)