Ataques ao Congresso e ironia a coronavírus marcam atos no DF
Presidentes da Câmara e do Senado foram alvos preferenciais de manifestantes, que não demonstraram muita preocupação com a Covid-19
atualizado
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Depois de Jair Bolsonaro (sem partido) negar por várias vezes que a pauta dos atos deste domingo (15/03) fossem contra o Congresso Nacional e o Judiciário, este foi o tom do movimento no Distrito Federal. Na Esplanada dos Ministérios, os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), eram os alvos preferenciais dos protestos.
Somavam-se a eles ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF), a imprensa (especialmente a Rede Globo) e até mesmo a democracia, com manifestantes pedindo abertamente a instauração de um regime militar. Tanto o STF quanto o Congresso eram apontados como “traidores da nação”.
Grande parte dos cartazes fazia alusão ao chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, gravado pedindo um “foda-se” ao Congresso, a quem acusa de chantagear o governo – o episódio marcou a escalada mais recente crise entre o parlamento e o Palácio do Planalto, envolvendo o orçamento impositivo.
“Contra o vírus do STF e do Congresso, álcool gel e fogo. Foda-se”, pediam, em cartazes, alguns dos manifestantes. “Rodrigo Maia e Alcolumbre, façam o seu dever de casa, nós somos os seus patrões. Se não… rua”, destacava outra placa. “Parem de atrapalhar, deixem Bolsonaro trabalhar.”
Enquanto o presidente cumprimentava apoiadores em frente ao Palácio do Planalto, por exemplo, manifestantes puxaram coros de xingamentos a Maia por diversas vezes, também gritavam contra a Rede Globo e pediam pelo Ato Institucional (AI) nº5, o mais repressor dos que foram editados durante a Ditadura Militar.
A principal exceção nas críticas ao Congresso foi a deputada federal pelo DF Bia Kicis (PSL), uma das organizadoras do protesto. De cima de um trio elétrico, ela foi citada em diversas ocasiões como parceira dos manifestantes e elogiada pelo trabalho na Câmara.
“Vamos dizer não ao parlamentarismo branco e cada vez que parlamentares votarem contra o povo, tem que ter uma resposta”, declarou ela. Em entrevista coletiva, ela disse que “não adianta fazer medidas para atrapalhar o governo”. “O Congresso precisa votar olhando para o povo, não querendo mandar recados para o presidente”, criticou.
No trio elétrico, vários participantes se revezavam com discursos que iam desde o intervencionismo das Forças Armadas até a crítica a estados e municípios que, supostamente, viveriam hoje no “comunismo” e “escravos do Bolsa Família”. “Nós sozinhos não vamos conseguir derrubar esses vagabundos, mas com o presidente e as Forças Armadas, vamos conseguir”, disse um dos narradores.
Até a recém-empossada secretária especial de Cultura, a atriz Regina Duarte, não foi poupada: “Fora. A namoradinha da esquerda exonera ala Bolsonaro e indica asseclas esquerdistas”. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também foi bastante criticado, especialmente pelo decreto que suspendeu aglomerações, interpretado por muitos manifestantes como uma ação direta contra os atos deste domingo.
Coronavírus
Embora parte dos manifestantes estivesse de máscara por causa do coronavírus, que quase cancelou as manifestações, o medo da Covid-19 não era generalizado. Em vários cartazes e camisetas, participantes ironizavam a doença que, para alguns, não é pior que Maia e Alcolumbre, o Congresso e o STF.
Um dos cartazes, por exemplo, provocava: “Sobrevivi ao PT… corona pra mim é cerveja”. “O medo é do político corrupto”, complementava outro. Minimizando os riscos da doença, eles também batizaram o coronavírus de “comunavírus”.
O próprio presidente, embora esteja de quarentena depois que seu secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, foi diagnosticado com coronavírus, cumprimentou apoiadores, contrariando as orientações do Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ao Metrópoles, o servidor público José Maria da Costa afirmou por exemplo, que, para ele, o alarde em torno do vírus é uma tentativa de conter manifestações populares. “O terrorismo em cima disso é engodo para desmobilizar o povo que quer mudança no Brasil, articulado com a esquerda internacional. Daqui um mês, ninguém fala mais nele”, previu.