Operação atinge núcleo do governo Rollemberg e PCDF nega ação política
Mandados de busca e apreensão foram cumpridos na Casa Civil do Palácio do Buriti. Favorecimento a Iguatemi Shopping também é investigado
atualizado
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Ao deflagrar uma operação que atinge o coração do governo de Rodrigo Rollemberg (PSB), a Polícia Civil expôs um suposto esquema de tráfico de influência envolvendo a cúpula do Palácio do Buriti, um dia depois de o governador lançar chapa à reeleição batizada de Mãos Limpas. Em coletiva nesta terça-feira (7/8), os policiais esclareceram alguns dos pontos referentes à investida contra integrantes do alto escalão do GDF.
A polícia acredita que houve crime de tráfico de influência e advocacia istrativa. Em uma das linhas de apuração, os investigadores chegaram a um suposto favorecimento ao projeto de ampliação do Iguatemi Shopping, no Lago Norte.
De acordo com a Polícia Civil, representantes do shopping estiveram no Palácio do Buriti duas vezes, entre 2016 e 2017, para conseguir aumentar a área de ocupação do empreendimento, mesmo em desacordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos).
Segundo o Metrópoles apurou, um dos donos da rede Iguatemi, Carlos Jereissati Filho, esteve pessoalmente com o governador Rollemberg, no final do ano ado e em maio deste ano. Nas duas ocasiões, solicitou autorização de aumento do potencial construtivo do centro comercial.
Anteriormente, era permitido a construção de até 0,35% do terreno. Havia uma negociação em curso para que a Secretaria de Gestão de Território e Habitação alterasse o índice a 0,50%. O projeto da Luos, no entanto, ainda está em fase de discussão na Câmara Legislativa, sem data para ser votado. A empresa tenta chegar a 1% de potencial construtivo. O escritório do Iguatemi em São Paulo foi alvo de busca e apreensão nesta terça (7).
“Podemos antecipar que, caso a mudança não partisse do GDF, existia a intenção do grupo de chegar ao Poder Legislativo para mudar a Luos”, disse o delegado Fernando César Costa, da Coordenação Especial de Combate a Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a istração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor).
O do Lago Norte, Marcos Woortmann, e Marcelo Carvalho, ex-executivo do Grupo Paulo Octávio, que construiu o shopping, foram alvos de mandados de busca e apreensão, autorizados pela 4ª Vara Criminal de Brasília.
Saúde
Há suspeita também de favorecimento em pagamento de dívidas pela Secretaria de Saúde a hospitais particulares e de ilegalidades em contratos firmados pela Casa Civil. Trata-se do principal órgão de coordenação do governo. As diligências mostram que, em 2015, teria sido paga a quantia de R$ 1 milhão “a título indenizatório e sem cobertura contratual” ao Hospital Home.
Também entraram na mira da operação: o assessor especial da Casa Civil Marcello Nóbrega; Leonardo Rocha de Almeida Abreu, irmão do chefe de gabinete da Casa Civil, Guilherme Rocha de Almeida Abreu; Luiz Fernando Messina, ex-assessor do deputado distrital Rodrigo Delmasso (PRB), que chegou a ser líder do governo na Câmara; e Hermano Gonçalves de Souza Carvalho, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico da gestão de Agnelo Queiroz (PT) e até pela manhã lotado no gabinete de Delmasso.
Questionado sobre o fato de a operação atingir pessoas próximas ao governador Rollemberg, o delegado Fernando César disse que a corporação não se pauta por questões políticas. “A Polícia Civil é um órgão de Estado, não de governo. Estamos aqui para apurar condutas criminosas. Se elas atingirem pessoas que ocupam o poder, o caso será levado ao Judiciário para responsabilizar quem quer que seja”, afirmou. De acordo com o investigador, não há provas de envolvimento do governador no esquema.
Ao abrir a coletiva, o delegado lembrou a época em que era diretor de presídio e afirmou que, quando está tudo muito tranquilo, é para desconfiar. O policial disse ter colocado 54 agentes e 12 delegados nas ruas do DF e de São Paulo para cumprir os mandados judiciais.
De acordo com a corporação, os indícios do tráfico de influência foram identificados durante diligência de suposta fraude ocorrida na concessão do serviço de transporte público coletivo do Distrito Federal. O nome da operação (12:26) faz referência ao provérbio bíblico do Antigo Testamento que diz: “O homem honesto é cauteloso em suas amizades, mas o caminho dos ímpios o leva a perder-se”.
A força-tarefa conta com a participação da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
O outro lado
O Metrópoles acionou a assessoria do Palácio do Buriti, que não se manifestou até a publicação desta matéria.
O deputado Rodrigo Delmasso disse, por meio de nota, que determinou a exoneração do Hermano Gonçalves. “Não oriento e não tolero nenhum tipo de desvio de conduta dos meus assessores. Meu mandato é exercido pautado na ética, transparência e legalidade”, garantiu.
Também em nota, o Shopping Center Iguatemi Brasília esclarece que todos os requerimentos inerentes aos planos de expansão do empreendimento foram devidamente protocolados atendendo aos trâmites legais. A reportagem tenta contato com os demais citados.
Operador da propina
Denúncias contra Marcello Nóbrega não são novidades no governo Rollemberg. Ele foi investigado na I da Saúde, em 2016, por suspeita de favorecimento na liberação de recursos oriundos de emendas parlamentares a hospitais particulares.
Marcello Nóbrega teve o nome mencionado em conversas gravadas pela presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, sobre uma suposta corrupção em contratos do governo. Conforme depoimento da sindicalista à I da Saúde, Nóbrega seria um dos operadores do esquema. Devido às denúncias, ele também entrou na mira da Operação Drácon, que investiga a destinação de emendas parlamentares em troca de propina.
De acordo com relato de Marli Rodrigues à I, Marcello Nóbrega teria sido indicado pela primeira-dama local, Márcia Rollemberg, e era quem segurava os processos e atrapalhava o trabalho dos secretários que aram pela pasta. Ele também foi o responsável, com base em informações de Marli, por rasgar uma nota de empenho da compra de marca-os, que posteriormente foram adquiridos com valor acima do mercado.
À I, na época do seu depoimento em 2016, Nóbrega negou qualquer irregularidade. A proximidade dele com o comando do Buriti, entretanto, foi reforçada pelo depoimento do ex-secretário de Saúde Fábio Gondim à comissão. Ele sugeriu que desentendimentos com o subsecretário motivaram sua saída do cargo.
Ao ser indagado pelos distritais acerca dos motivos de sua curta permanência à frente da secretaria, Gondim relatou que não gostava da “postura agressiva” de Nóbrega com alguns servidores. Para ele, Nóbrega não perdia a oportunidade de mostrar ostensiva aproximação com o governador Rodrigo Rollemberg.