Moradores protestam após Agefis derrubar muro e retirar asfalto de condomínio em Vicente Pires. Veja vídeo
Operação fez parte das obras de drenagem e pavimentação da Gleba 3 da região. Condôminos pretendem processar a agência
atualizado
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Uma operação da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) indignou moradores da chácara 16A do condomínio Jockey Clube, em Vicente Pires, na manhã desta segunda-feira (14/12). Segundo os condôminos, a mando da agência, uma construtora particular retirou pedaços do asfalto e demoliu um muro que delimitava o residencial, além de destruir partes da parede construída em volta da casa de uma moradora.
A operação teria o objetivo de construir um sistema de águas pluviais no local e foi comunicada aos condôminos na semana ada. No entanto, os moradores foram contrários à intervenção e afirmam que o condomínio já tem um sistema do tipo. Por isso, decidiram entrar com uma liminar judicial pedindo a suspensão do trabalho programado pela Agefis.
Nesta segunda-feira (14), os trabalhadores contratados pela agência de fiscalização chegaram ao local para realizar a obra e foram impedidos de entrar pelos moradores. Os habitantes do condomínio tiveram uma conversa com o engenheiro responsável pela intervenção e argumentaram que ainda pretendiam entrar na Justiça. O profissional teria afirmado que adiaria o trabalho em 48 horas para esperar a decisão judicial.
No entanto, cerca de uma hora depois da conversa, os trabalhadores voltaram ao local acompanhados da Polícia Militar. Eles convenceram o porteiro do condomínio a permitir a entrada e iniciaram o trabalho. Os moradores tentaram impedir a intervenção e chegaram a discutir com os funcionários da obra, mas não obtiveram sucesso.
Confira vídeo do momento em que o muro é derrubado:
De acordo com Hellen Vilela, moradora do condomínio, a ação da Agefis foi truculenta. “Eles enganaram a gente. O engenheiro disse que iria esperar a ação judicial, mas logo depois, quando os moradores estavam tranquilos, vieram e quebraram tudo. Com a derrubada dos muros, estamos nos sentindo muito inseguros. Agora, qualquer um pode entrar no condomínio”, afirma.
Em nota, a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos do DF informou que a ação fez parte das obras de drenagem e pavimentação para a Gleba 3 de Vicente Pires (Rua do Jockey) e que segue o projeto urbanístico aprovado pelo Conselho de Planejamento (Conplan), em setembro. Ainda de acordo com a pasta, as redes de drenagem já existentes, construídas pelos moradores, estão sendo aproveitadas na medida em que atendem às especificações técnicas aplicáveis ao projeto.
“No entanto, nos locais onde as redes estiverem em desacordo, o governo deverá efetuar a remoção de todas as interferências para que as obras possam prosseguir”, afirma. O investimento na região é de R$ 68 milhões, que estão sendo aplicados na construção de 27,3 km de drenagem, 42 km de pavimentação asfáltica e 101 km de calçadas.
Condôminos do Jockey Clube se juntaram para reconstruir as paredes derrubadas durante a operação. Os moradores também pretendem entrar com uma ação judicial contra a Agefis e vão se reunir na noite desta segunda (14) para decidir as próximas medidas a serem tomadas.
O vídeo abaixo mostra parte da discussão entre moradores e responsáveis pela intervenção:
Protesto
No centro do Plano Piloto, longe das derrubadas, mas com a mesma indignação dos moradores, um grupo de aproximadamente 80 pessoas tentou bloquear a entrada da garagem da Câmara Legislativa do DF, onde os deputados estacionam os carros. Eles protestavam contra as derrubadas de barracos no assentamento 26 de Setembro. Os manifestantes também pediam a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (I) para investigar supostos abusos cometidos pela Agefis.
Os participantes do ato fizeram uma espécie de corredor. Eles não fecharam a agem porque logo a Polícia Militar chegou e impediu. Não houve confusão. De acordo com o representante do grupo Unidos do 26 de Setembro Joélio Rodrigues, a Agefis já derrubou 200 casas neste ano. “Queremos que o governo cumpra o plano dele de regularizar as nossas casas”, cobra.
Ele explicou que a manifestação na Câmara foi uma forma de pressionar os deputados a aprovarem a instalação da I da Agefis e Terracap. Na segunda ada (7), a Câmara realizou uma audiência pública para debater o assunto das derrubadas. Além dos deputados e das comunidades atingidas, a presidente da Agefis, Bruna Pinheiro, também compareceu. Ela foi sabatinada durante cinco horas. Em alguns momentos, chegou a ser hostilizada. Saiu depois de falar por 15 minutos.
Umas das entidades que defendem a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (I) é a Associação dos Moradores de Vicente Pires e Região (Amovipe). “A Terracap está usando de fé pública para grilar terras que não foram desapropriadas. Por isso, usa a Agefis para desocupá-las”, acusa Gilberto Camargos, presidente da Amovipe.
Com reportagem de Ary Filgueira e Pedro Alves