“Ele não tem condições de viver em sociedade”, diz pai de Louise
Três dias antes do julgamento do assassino da filha, Ronald Ribeiro diz esperar justiça e fala da saudade da jovem morta na UnB em 2016
atualizado
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É sexta-feira ensolarada, pouco antes das 9h, quando a reportagem do Metrópoles se encontra com o tenente do Exército Ronald Ribeiro, 50 anos. Debaixo de um bloco da 102 Norte, ele faz um longo desabafo. Sereno, não esconde a revolta com o crime brutal que, há pouco mais de um ano, tirou-lhe para sempre a filha Louise. A estudante de biologia da Universidade de Brasília (UnB) foi asfixiada dentro de um laboratório do curso. Teve o corpo parcialmente queimado e abandonado em um matagal próximo ao Minas Tênis Clube, na Asa Norte. Morreu aos 20 anos.
Ronald, a mulher, Sandra, e as filhas Isadora e Marina se preparam para encarar o assassino da “princesa bagunceira”, como era carinhosamente chamada pela família a menina loira de sorriso aberto. Na próxima segunda-feira (3/4), Vinícius Neres Ribeiro, 20, vai a júri popular, a partir das 9h.
Vinícius se sentará no banco dos réus do Tribunal do Júri de Brasília. Para Ronald, o assassino confesso da filha é um rapaz perigoso, capaz de dissimular para se aproximar e ganhar a confiança das pessoas. É também, nas palavras do pai de Louise, frio, calculista, mau e perverso, e teria forjado interesse por biologia marinha apenas para se aproximar da moça.
Ele é uma pessoa extremamente nociva. Não tem condições de viver em sociedade. Não sei classificar que mente é essa: um psicopata? Não consigo entender
Ronald Ribeiro, pai de Louise
Acusações
Vinícius responderá por homicídio quadruplamente qualificado, por motivo fútil, meio cruel, recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), autor das denúncias contra o réu, também pede que ele seja condenado por ocultação de cadáver (e aqui o processo).
Para o promotor de Justiça responsável pelo caso, Marcello Oliveira Medeiros, não restam dúvidas de que Louise foi vítima de feminicídio. O MPDFT defenderá a condenação de Vinícius que, em sua opinião, pode servir para evitar outros casos semelhantes.
O crime praticado contra Louise causou comoção em toda a sociedade brasiliense e certamente lançou luzes sobre o problema da violência praticada contra as mulheres
Marcello Medeiros, promotor de Justiça responsável pelo caso
“Foi tudo premeditado”
Ronald não disfarça a revolta ao lembrar da ligação que recebeu de Vinícius na manhã seguinte ao crime, ocorrido no dia 10 de março do ano ado. “Como alguém faz algo tão bárbaro, vai para casa, dorme, e depois liga para o pai da vítima perguntando o que tinha acontecido?”

Desmentindo os argumentos do assassino à polícia, o pai de Louise não tem dúvidas de que o crime foi premeditado, e que o jovem usou a desculpa de que se mataria apenas para atrair a universitária ao local do crime. Para Ronald, Louise caiu em uma emboscada e não teve nenhuma chance de defesa.
Ainda segundo o pai de Louise, o crime foi planejado. “Ele furtou um frasco de clorofórmio com antecedência, cobriu toda a janela do laboratório com papel, alertou todo mundo que ia fazer um experimento fotográfico para que as pessoas não fossem até o laboratório. Só não avisou a ela”, ressaltou.
O crime teve requintes de crueldade. Louise foi imobilizada, amarrada, asfixiada, despida e, por fim, queimada. A mãe, Sandra, soube dos detalhes do assassinato há apenas duas semanas. Mesmo contrariando recomendação médica de contar tudo de uma vez, Ronald quis poupar a esposa de “desmoronar de vez”. Agora, com a proximidade do julgamento, a família tem buscado apoio na fé para tentar assimilar os fatos e enfrentar o sofrimento.
Até 30 anos
Vinícius aguarda o julgamento no Centro de Detenção Provisória do Complexo Penitenciário da Papuda desde 13 de março de 2016. Ele pode pegar de 12 a 30 anos em regime fechado pelo feminicídio, além de um a três anos por ocultação e destruição parcial de cadáver. Por responder a um crime hediondo, deve cumprir metade da pena detido, para só então pedir progressão de regime.
Ronald, que além de tenente do Exército é estudante de direito, diz que a família não quer vingança, mas sim justiça. “Só não quero benesse para quem comete um crime bárbaro. Direitos humanos é para quem é humano. Esse cidadão extrapolou demais”, diz.
Assista ao desabafo do pai de Louise:
Defesa
A defesa, representada pelas advogadas Vânia Fraim de Lima e Tábata Laís Sousa Silva, pode recorrer da decisão do Tribunal do Júri. Elas item que não há muito a ser feito, além de assegurar um julgamento dentro dos parâmetros legais. Tábata nega ser uma estratégia o fato de a defesa do assassino confesso ser feita por duas mulheres. Para ela, foi apenas “ironia do destino”.
Na última quinta-feira (30), as advogadas se reuniram por uma hora com Vinícius com o objetivo de prepará-lo para o julgamento.
Ele está como qualquer pessoa antes de um júri: emotivo e um pouco ansioso. O intuito da nossa conversa foi acalmá-lo e prepará-lo para o que vem pela frente, a repercussão e os possíveis ataques
Tábata Laís Sousa Silva, advogada de Vinícius
O Metrópoles tentou contato com a mãe e a irmã do réu, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Segundo a defesa, a família não vai se pronunciar: “Não existe ninguém mais abalado do que eles, cuja vida mudou completamente da noite para o dia”, informaram as advogadas.
“Saudade que não a”
Ronald conta que pouco mudou em casa com a partida de Louise. As fotos continuam espalhadas pela residência da família, na 102 Norte, mas a saudade aperta a todo momento. O beijo de despedida antes de sair para a faculdade e a imagem dela cozinhando aos domingos não voltam mais. “É saudade que não sai, não cura, não a. É um vazio que ficou”, lamenta o pai.
As homenagens à Louise preenchem não só as redes sociais, mas também a Universidade de Brasília. O Instituto de Ciências Biológicas inaugurou, no dia 10 de março, uma placa com a foto da estudante e a frase “Milagres acontecem todos os dias”, que ela tinha tatuada no corpo. Além disso, a instituição prepara um jardim com espécies nativas do cerrado, que ganhará seu nome.

A sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), onde Louise estagiava, também prestou homenagem à jovem plantando quaresmeiras cor-de-rosa, a preferida dela.
Veja a homenagem prestada à jovem nas redes sociais