Governo não tem projetos para aumentar vagas de estacionamentos do DF
Projetos antigos foram abandonados e, enquanto isso, motoristas penam para parar o carro. Na área central, espera chega a 24 minutos
atualizado
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Entra ano e sai ano, o problema que se tornou a falta de vagas em estacionamentos no Distrito Federal, em especial no Plano Piloto, não melhora. Pelo contrário, só agrava. O resultado é estresse, perda de tempo, desentendimento e um festival de infrações. Até outubro, o Departamento de Trânsito (Detran) multou mais de 120 mil motoristas por pararem em local proibido no DF. E não há luz no fim do túnel. O Governo do Distrito Federal (GDF) não aponta nenhuma solução a curto prazo.
Projetos que chegaram a ser cogiados por outras gestões, como o de estacionamentos subterrâneos na Esplanada dos Ministérios, vagas rotativas, aproveitamento dos espaços no final das quadras, ficaram no ado. De acordo com a Secretaria das Cidades, há um grupo de trabalho intersetorial que foi criado para elaborar um plano de estacionamentos para o DF.
Logo apareceu flanelinhas propondo parar atrás de outros veículos, desde que o carro ficasse “solto”, desengatado e sem o freio de mão puxado. Seis minutos depois, um outro vigia prometeu tirar um veículo do lugar se houvesse interesse de deixar o automóvel da reportagem no lugar. Para isso, seriam cobrados R$ 10.
Ambas as propostas foram recusadas pela reportagem. Nenhuma vaga foi encontrada nas quadras 1, 2, 4, 5, 6. De volta à Quadra 4, somente 24 minutos depois, foi possível parar em uma vaga correta, sem a ajuda de um flanelinha. No Setor Bancário Norte, a situação foi parecida, no entanto, talvez pela proximidade do horário do almoço, uma vaga foi encontrada na Quadra 2, em 13 minutos, por volta 11h50.
Na mesma região, nesta sexta-feira (25), o desentendimento por causa de vaga em estacionamento quase termina em tragédia. Um flanelinha levou um tiro no braço. O autor do crime é um motorista. A 5ª Delegacia de Polícia (área central) investiga o caso.
A falta de vagas é um problema comum em outros pontos do DF. Os amigos e empresários Alexandre Napoli e Flávio Saraiva sofrem diariamente para estacionar. “Em todo lugar, está um horror. O que me deixa mais bravo ainda é que a gente fica procurando vaga, estaciona corretamente, aí vem alguém e para o carro atrás do seu, fecha você sem nem se importar. Você pede para tirar o veículo e a pessoa ainda fica nervosa e vem de cara feia”, conta Flávio.

Se os amigos esperaram pela vaga, outras pessoas não têm a mesma paciência. Na mesma quadra onde ambos estavam, na 202 Norte, o Metrópoles flagrou pessoas estacionando em locais provisórios; carros em cima de calçadas, enquanto os pedestres eram empurrados para fora; e até mesmo veículo parado embaixo de placa de proibido estacionar.
No anexo dos ministérios, a reportagem também encontrou motoristas que ficaram mais de 20 minutos esperando por vaga. Outros pararam atrás de automóveis com a desculpa de seria “rapidinho”.
Em Taguatinga Norte, os comerciantes reclamam que a falta de vagas já está afetando as vendas. Na Praça do DI, estacionar também virou uma novela. “O cliente deixa de vir aqui para procurar um lugar que tenha estacionamento próprio, seja mais seguro. Antes, as pessoas paravam em fila dupla, na contramão, na calçada. Agora, não estacionam irregularmente por medo de multas, mas também não estão vindo mais”, diz Thamyres Faria, proprietária de uma padaria na região.
Para justificar a falta de projetos que poderiam resolver os problemas dos estacionamentos, o GDF afirma estar focado na melhoria do transporte coletivo. Para especialistas, esse é o caminho. “É preciso estruturar todo o DF, interligar as cidades, investir em metrô, senão o problema será melhorado, mas nunca solucionado”, diz Paulo César Marques, especialista em trânsito.