Pais aprovam modelo de militarização de escolas do DF. Sinpro é contra
Quatro Centros de Educação no Distrito Federal servirão de teste e projeto deverá ser ampliado para até 200 unidades
atualizado
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O projeto de militarização das escolas públicas do Distrito Federal tem dividido deputados distritais e se tornou alvo de críticas por parte do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), mas é praticamente uma unanimidade entre os pais dos alunos que estudarão nas quatro escolas escolhidas como piloto do projeto. O Metrópoles esteve em dois dos quatro centros de ensino militarizados e, neles, há o consenso entre a população de que a parceria da Secretaria de Educação com a Polícia Militar será benéfica.
Na entrada das escolas, as cercas de arame farpado em cima dos muros indicam que a violência é uma das principais preocupações. O Centro Educacional 1 (CED 1) da Cidade Estrutural fica a menos de 100 metros de um batalhão da PM, mas não impede que a ação e o aliciamento de traficantes nos arredores da escola, onde há bocas de fumo.
Com a presença massiva e constante da polícia, pais de estudantes do CED 1 creem que a segurança vai aumentar, o tráfico vai diminuir e mesmo as brigas constantes entre os estudantes tendem a ter um fim com a tutela compartilhada da instituição.
Moradora da Estrutural, Lygia Alves da Silva, 34 anos, terminou o curso da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em 2018 e foi até o CED 1 nessa sexta-feira (1º/2) para tentar matricular a filha de 15 anos no 7º ano do Ensino Fundamental. “Eu acho que tem de tudo para melhorar e sou a favor. Quem tem medo de polícia é bandido. Sinto que meus filhos estarão muito mais protegidos, vão aprender muito mais e isso pode fazer melhorar até o comportamento dentro de casa”, acredita Lygia.
Elias Gabriel Alves Saraiva, 10 anos, é o filho do meio de Lygia e irador da PM. Estudante que cursará o 6º ano em 2019 já escolheu a profissão que deseja seguir. “Quero ser do exército”, diz, sobre a carreira que deseja.
Sem consenso
Embora haja grande resistência por parte do Sinpro, a diretora da escola da Estrutural, Estela Accioli, aprova a gestão compartilhada com a Polícia Militar. “No ano ado, fui duas vezes para a DCA [Delegacia da Criança e do Adolescente] por causa de alunos com maconha na mochila. Já aconteceu briga no primeiro dia de aula, com aluno dando murro na boca do outro, a ponto de sair com o rosto sangrando. Nossa expectativa é aumentar a nota da escola no Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]. A meta é chegar a 5.9 neste ano”, opina a diretora.
Os professores da unidade ainda estão de férias e devem se reunir com a coordenação e direção no dia 5 de fevereiro, quando sentarão à mesa com dirigentes do Sinpro e representantes da PM.
Vinda de Aracaju (SE) para Brasília com o filho de 11 anos há cerca de dois meses, Roseane Soares Sobrinho, 32 anos, não sabia da mudança na escola e estranhou a presença de quase uma dezena de policiais no CED 1. “Aconteceu alguma coisa aqui">
O capitão Igor Ribeiro, do Comando de Policiamento Escolar, disse ao Metrópoles que cada escola militarizada receberá de 20 a 25 policiais. Além do controle disciplinar, órgãos de governo estudam ampliar a participação da PM no contraturno, com esportes e música.
“Nós estamos procurando profissionais formados em educação física e musicalização para aprimorar o projeto com atividades no contraturno dos alunos”. Entre o corpo de servidores da polícia, há muitos formados em educação física. Para as ações de musicalização, a corporação espera que membros da banda da PM se voluntariem para ensinar as crianças.
Pais apoiam mudanças
A opinião de pais e mães do Centro de Ensino 7, em Ceilândia, também é favorável à presença da PM na escola. A técnica de enfermagem Poliana Batista da Silva, 32 anos, chegou atrasada e encontrou a escola fechada. Ela tentava matricular a filha de 15 anos no 9º ano e terá de retornar na segunda-feira (4/2). “Em todas as escolas aqui da região tem muito tráfico. Os professores sofrem ameaças, os alunos não respeitam. Agora, quero ver desrespeitar um policial”, diz Poliana.
Max Welber, 25 anos, é militar do Exército e acha que os policiais trarão mais fiscalização contra o tráfico de drogas e brigas na escola. Ele tentava matricular o sobrinho, de 15 anos, e concorda com o argumento do governo, de que disciplina reflete em resultados.
Serão transformados em colégios militares os centros educacionais 3, de Sobradinho; 308, do Recanto das Emas, 1; da Estrutural, e 7, de Ceilândia. O governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que o programa será continuamente ampliado: até julho de 2019, serão 20 escolas da PM, número que vai dobrar até o final do ano. Ele prevê que até o final do mandato o DF terá 200 escolas militares.
O acordo prevê que a Polícia Militar participe da gestão istrativa e disciplinar das escolas escolhidas, atendendo a critérios de vulnerabilidades sociais, índices de criminalidade, de desenvolvimento humano e educação básica.
A gestão pedagógica dos colégios militares vai seguir as diretrizes da Secretaria de Educação. A iniciativa estabelece que, com um aplicativo de celular, os pais possam ter o ao que os alunos fizeram durante o período de aulas.
Reações
Para o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), a medida é apenas uma maquiagem aos reais problemas do setor. Samuel Fernandes, integrante da entidade, explica que a organização é totalmente contra a parceria entre PMDF e Secretaria de Educação, pois considera que a presença de policiais militares na escola pode deixar os alunos com medo e assustados.
“As escolas militares não educam, excluem os alunos com problemas disciplinares. A presença do Batalhão Escolar poderia fazer um trabalho satisfatório nas proximidades dos colégios”, destaca.
Os deputados distritais Fábio Félix (Psol), Leandro Grass (Rede) e Chico Vigilante (PT) são contra o modelo escolhido por Ibaneis Rocha (MDB) para algumas escolas do DF. Cláudio Abrantes (PDT), líder do governo na Câmara Legislativa, pede ponderação e diz ser muito cedo para qualquer avaliação. O deputado Hermeto, que é policial militar, defende o formato anunciado pelo GDF.