Copom mantém taxa Selic em 2% ao ano e sinaliza com possível alta
Órgão acabou com a “forward guidance”, que indicava a manutenção dos juros em níveis muito baixos por tempo longo
atualizado
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O Comitê de Política Monetário (Copom) decidiu nesta quarta-feira (20/1) manter a mínima histórica da taxa Selic (a taxa básica da economia) em 2% ao ano. Essa é a quarta vez consecutiva que o índice não sofre alteração, apesar da inflação, que fechou em 4,52% em dezembro – a maior alta desde 2016, quando ficou em 6,29%.
O órgão justificou a decisão alegando que o agravamento da pandemia do novo coronavírus segue afetando as principais economias no mundo. Por outro lado, ressaltou que, com o início da campanha de vacinação, a tendência é melhorar a confiança do mercado e, por consequência, ajudar na normalização da atividade econômica.
Na sua decisão, o Copom reconhece que “o aumento do número de casos e o aparecimento de novas cepas do novo coronavírus (no mundo) têm revertido os ganhos na mobilidade e deverão afetar a atividade econômica (em vários países) no curto prazo”, mas afirma que, apesar disso, “novos estímulos fiscais em alguns países desenvolvidos, unidos à implementação dos programas de imunização contra a Covid-19, devem promover uma recuperação sólida da atividade no médio prazo”.
Em relação ao Brasil, o comitê aponta que a “incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o primeiro trimestre deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”. Desde janeiro, o governo deixou de pagar um auxílio para grupos de pessoas afetadas pela pandemia.
A decisão ocorre no contexto em que os preços das “commodities” (produtos que funcionam como matéria-prima e que podem ser estocados sem perda de qualidade, como petróleo, suco de laranja congelado, café e soja) sofrem alta. Além desse fator, a valorização do dólar, que fechou em R$ 5,32 , também contribui para a pressão na inflação no começo do ano.
O economista-chefe da Necton, André Perfeito, disse ao Metrópoles que a definição tem coerência com o que o mercado esperava e que “apesar de o Copom dizer que não necessariamente deve iniciar uma alta na Selic já na sua próxima reunião, acredito que irá iniciar o ciclo de aperto no encontro de março com uma alta de 25 pontos base. Projetamos o aperto total em 200 pontos, fazendo a Selic chegar este ano em 4%”, especula o economista.
Copom determina o fim da “forward guidance”
Outra aposta do mercado financeiro também se confirmou na reunião do Copom. O comitê derrubou a forward guidance (prescrição futura), que, na prática, servia como uma comunicação para orientar os investidores e o público, com o objetivo de produzir efeitos econômicos sem precisar mexer efetivamente na taxa de juros.
Ou seja, era possível acalmar o mercado ao indicar que permaneceriam baixos por bastante tempo. “O Comitê reitera que o fim do forward guidance não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros, pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”, informou em nota.
O BC sempre deixou claro que o “forward” poderia chegar ao fim caso o Brasil apresentasse problemas fiscais eminentes. A estabilidade fiscal dependeria das reformas tributária e istrativa e das privatizações – medidas prometidas pelo Ministério da Economia, mas que ainda não foram adotadas por questão políticas.