DF: especialistas alertam para subnotificação com autotestes de Covid
Em junho, Brasília voltou a registrar altos números de casos positivos. O teste de farmácia é um dos responsáveis pela mensuração inadequada
atualizado
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Em junho de 2022, os casos de Covid-19 voltaram a aumentar no Distrito Federal, sinalizando a chegada da quarta onda da doença. No dia último dia 8, por exemplo, a capital do país computou 4.838 pessoas infectadas com o coronavírus, aproximando-se do recorde de notificações em um único dia. Apesar da estatística oficial já estar em um patamar elevado, especialistas apontam que ela não corresponde à realidade.
O principal motivo apontado é a subnotificação por causa dos autotestes de Covid-19 vendidos nas farmácias, em que qualquer pessoa pode fazer o diagnóstico sem sair de casa. Esses produtos foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 17 de fevereiro.
“Temos dois elementos que favorecem a subnotificação. O primeiro é o autoteste e o segundo é que essa sublinhagem de coranavírus é mais branda, então, muita gente não faz o teste”, explicou o pesquisador do Centro Universitário Iesb e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, Breno Adaid.
Ao se observar a média móvel de novos casos no DF, o pico de infecções em 2022 aconteceu em 29 de janeiro, com 5.341 ocorrências; em 11 de junho, a média móvel ficou em 3.773. Portanto, este mês a capital atingiu 70% do pico.
Segundo Breno Adaid, é possível ter certeza da subnotificação pelas mortes. O especialista explica que, atualmente, a taxa de mortalidade do vírus fica em torno de 17% nos países que tem um bom sistema de testagem do governo, como a Inglaterra. “No Brasil, a taxa fica em torno de 20%. Como temos menos casos [devido aos testes não serem contabilizados], a taxa de mortes parece maior proporcionalmente”, esclarece.
Nessa sexta-feira (24/9), o Covid-19 da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) informa que em Brasília há 43,5 mil casos ativos de pessoas infectadas com Covid-19. O número daquelas com o vírus levanta a questão sobre a necessidade de políticas públicas que inibam o alastramento do vírus.
Com 43 mil casos ativos de Covid, DF se aproxima de pico de infecções
“É muito difícil para mim como pesquisador falar quando devemos retornar às políticas de distanciamento. O que é fato é que pessoas em contato umas com as outras sem máscara trazem mais casos de Covid. E quanto mais casos de Covid, mais os números ficam expressivos”, ponderou Breno.
A infectologista Ana Helena Germoglio conta que a subnotificação causada pelo autoteste foi uma preocupação da comunidade científica quando o assunto era discutido na Anvisa. “Desde que foi liberado, o governo falou que precisaria notificar. Mas não ficou claro como seria a notificação, mas precisaria fazer esse artificio”, afirma.
A Anvisa orienta que, em caso de teste positivo, as pessoas procurem um médico para confirmar o diagnóstico, já que existe a possibilidade de resultados errados, os chamados falsos positivos. “É recomendado que você busque atendimento em um serviço de saúde para confirmação do diagnóstico e, assim, receber orientações e permitir a notificação nos sistemas do Ministério da Saúde para o acompanhamento dos casos de Covid-19 no Brasil, se necessário”, diz o órgão.
O problema é que, na prática, com diagnósticos brandos, nem todo mundo procura um médico. “Fora do Brasil os autotestes são acompanhados de um mecanismo interno e um QR Code onde se pode fazer a notificação. Aqui não tem, isso gera uma subnotificação, não mensura e se acha que a situação está controlada”, resumiu Ana Helena.
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