Conheça a luta de Alexandre, um dos 7 homens que tratam câncer de mama no DF
Apesar de raro em pessoas do sexo masculino, especialista avalia que pode haver subnotificação de casos da doença na capital do país
atualizado
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Com surpresa, dúvida e medo. Foi assim que Alexandre Hamilton do Carmo Costa (foto em destaque), 47 anos, se sentiu quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama, em 2017. Por ser homem, ele não imaginava que pudesse estar com a doença quando os sintomas apareceram. Hoje, já quase três anos após a mastectomia que precisou fazer, Alexandre ainda vive a luta do tratamento e chama atenção para a falta de informação acerca do assunto na sociedade.
O morador de Taguatinga é um de apenas sete pacientes que tratam câncer de mama masculino no Instituto de Câncer de Brasília (ICB) neste ano. Na rede pública do Distrito Federal, nenhum homem faz tratamento da doença atualmente, segundo a Secretaria de Saúde. Em 2019, foram registrados apenas dois casos.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama em homens representa apenas 1% do total de casos. Hoje, cerca de 3 mil pessoas tratam a doença na rede pública do DF. O número é a média anual para este tipo de doença, segundo a Secretaria de Saúde.
No entanto, apesar das estatísticas, é possível que exista uma subnotificação. Conforme analisa Gustavo Gouveia, mastologista e oncologista cirúrgico do ICB, pode haver um “problema de gerenciamento de dados”.
“Acredito que, nas tabulações, quando vai inserir no registro, deve haver alguma incompatibilidade entre o sexo masculino e a classificação de câncer de mama, porque com certeza existem esses casos. Eu mesmo tenho pacientes”, avalia.
Luta contra o câncer
Neste Outubro Rosa, mês da campanha de prevenção ao câncer de mama, o Metrópoles conta a história de Alexandre, que, com o exemplo de sua luta, alerta para a necessidade de atenção que homens também devem ter em relação à doença.
“Eu sabia que poderia acometer homens, mas nunca tinha visto. Por ser tão raro, a informação circula pouco e muita gente nem sabe que existe”, diz ele.
O servidor público começou a notar sintomas no fim de 2017, mas achou que seria alguma doença dermatológica. “Havia um carocinho, como se tivesse inflamado. Fui na dermatologista e ela pediu ultrassom, que deu alterado. Então, me encaminharam para a mastologista e ela pediu ressonância e biópsia”, narra.
Em dezembro do mesmo ano, ele recebeu o diagnóstico e logo fez a cirurgia de remoção da mama direita. Como procurou ajuda médica assim que notou o nódulo, Alexandre conseguiu descobrir o câncer em estágio ainda não avançado. “Tinha 2,1 cm. Era mediano. Em janeiro, depois da cirurgia, comecei a quimioterapia. Foram 16 sessões, até junho de 2018”, conta.
Falta de informação
Ao fim da quimioterapia, ele começou o acompanhamento médico, que faz agora duas vezes por ano. Além disso, Alexandre faz uso de medicação que deverá ser tomada por mais oito anos. Hoje, ele vê a necessidade de maior divulgação de informações a respeito do assunto
“Quando eu fiz a mamografia pela primeira vez [em 2019], o rapaz do plano de saúde até questionou se o meu nome estava certo lá, porque constava um nome masculino”, comenta.
“Eu sentia a área dolorida, mas nunca imaginei que pudesse ser isso”, afirma. “E olha que eu fiz dois exames genéticos e eu não tenho predisposição para ter [câncer de mama]”, acrescenta.
Casado há três anos, Alexandre diz que uma das coisas que mais o ajudou a ar pelos momentos mais difíceis do tratamento foi o amparo da esposa. “A gente toma um susto muito grande na hora que confirma. Foi muito pesado, muito duro, muito difícil. Mas ela ou bem a barra comigo, senti que não estava desamparado”, destaca.
“Depois de armos por uma situação tão complicada, a gente começa a enxergar a vida de uma outra maneira. Agora, é valorizar essa dádiva que a gente tem e seguir a vida da melhor maneira possível”, conclui, esperançoso.
Diagnóstico
Conforme explica o médico Gustavo Gouveia, o diagnóstico do câncer de mama masculino pode ser feito com maior facilidade do que o do feminino, uma vez que o nódulo é mais visível. Apesar disso, a doença se desenvolve mais rapidamente em homens do que em mulheres, o que exige atenção.
“Acaba se desenvolvendo com mais rapidez por não ter aquele espaço todo para crescer dentro da mama. Então, muitas vezes, é diagnosticado em estágios mais avançados”, alerta o especialista.
Dessa forma, cuidados devem ser tomados para que a doença seja identificada tão logo o paciente note sintomas. “A recomendação para o homem é que faça o autoexame mensal. O sintoma mais comum é o nódulo palpável, uma região endurecida”, indica.
“No caso do homem, como é muito raro, não se justifica estratégia de rastreamento, exame de rotina para isso. É o autoexame mesmo”, completa o oncologista.