Com sequelas, pacientes da Covid-19 no DF contam o drama da reabilitação
O serviço que ajuda na recuperação de doentes que ficaram com sequelas reduziu em 57% o tempo de permanência nas UTIs
atualizado
Compartilhar notícia

Como se não bastasse contrair o novo coronavírus, a luta de muitos pacientes que testaram positivo para a doença não se encerra quando o vírus deixa o corpo. Mesmo pessoas que não ficaram internadas podem sofrer efeitos provocados pela doença depois da cura. As sequelas incluem perda de olfato e paladar, a médio e longo prazos, e problemas no sistema respiratório ou na coordenação motora.
Aos 60 anos e com a notícia recente de câncer de pulmão, diagnosticado em novembro, Iracira Lúcia Soares Rocha enfrentou o coronavírus e ficou internada no Hospital de Base (HB).
O filho de Iracira, Felipe Soares Rocha, 29, conta que a mãe testou positivo para a Covid-19 no início de dezembro e apresentou sequelas. “Minha mãe começou a ter alguns sintomas, mas pareciam com os da quimioterapia. Depois, descobrimos o diagnóstico. Ela teve sorte e reagiu muito bem ao vírus”, disse o filho.
Devido à fraqueza imposta pelo tratamento que já recebia, a mulher ficou quase sem fala e com os movimentos reduzidos. No início do mês, foi encaminhada ao 7º andar da unidade de saúde, onde é oferecida a reabilitação pós-Covid-19. Após 10 dias de tratamento, consegue falar melhor e demonstrar entusiasmo na recuperação.
“Os médicos e todos estão me tratando muito bem. Tenho melhorado a cada dia. Agora, preciso de autoestima. Tive melhoras nos meus movimentos e na tosse, que não parava. A fisioterapeuta tem me ajudado muito”, contou Iracira.
Segundo Felipe, o tratamento da mãe superou as expectativas. “Temos sentido muita firmeza e confiança nos médicos. A equipe é excelente e bem prestativa. Percebemos uma melhora significativa.”
Veja imagens do tratamento realizado com a paciente:
Reabilitação
Assim como outros internados no andar de reabilitação da Covid-19, que conta com 15 leitos, Iracira é atendida por enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, psicólogos e terapeutas ocupacionais.
Fonoaudióloga do HB, Viviane Wesgueber é uma das profissionais que auxiliam Iracira na reabilitação pós-Covid-19.
“O fonoaudiólogo acaba recebendo pacientes direcionados da UTI que sofreram processo de intubação orotraqueal e todo o trato pode ficar com alteração de sensibilidade e mobilidade. O trabalho é pertinente para verificar se tem déficit. Em outros casos, pacientes que foram acometidos com a Covid-19, observamos alteração do padrão respiratório. Como é o combustível essencial para a fala e deglutição, atuamos para resgatar as habilidades com segurança, no intuito de evitar outras complicações pulmonares”, explicou a médica.
No caso de Iracira, Wesgueber explicou que a paciente ou por um momento de muita depressão e dificuldade em relação ao diagnóstico do câncer, associadas à sobrecarga da Covid-19.
“Chegou com alteração da fala, fraquinha e uma redução da musculatura da boca. O trabalho da fonoaudiologia foi fundamental para que ela voltasse a se comunicar melhor. Hoje, ela tem uma expectativa de melhor qualidade de vida e é isso que queremos entregar para os nossos pacientes”, disse.
Thília Cerqueira é fisioterapeuta do Hospital de Base e também compõe a equipe do projeto de reabilitação.
“Nós trabalhamos tanto a parte motora quanto respiratória durante o nosso atendimento. A terapia é feita com base nas queixas do paciente. Se ele relata cansaço, falta de ar ou fraqueza muscular, trabalhamos em cima da avaliação para conseguir evoluir tudo isso. Estamos diminuindo o tempo de internação e melhorando a funcionalidade dos pacientes que ficam muito tempo internados e com independência reduzida”, afirmou.
O que é o projeto de reabilitação?
O Reab pós-Covid-19 faz parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde. Participam do projeto apenas cinco unidades hospitalares em todo o país: o Hospital de Base, o Hospital Geral de Fortaleza, o Hospital Geral de Palmas, o Hospital de Contagem e o Hospital do Trabalho de Curitiba.
Os pacientes ficam internados e recebem orientações e auxílio dos profissionais, para a retomada de condicionamento respiratório, o fortalecimento muscular, entre outras terapias, de acordo com avaliação individual.
O serviço é voltado àqueles que ficaram internados no Hospital de Base para tratamento da Covid-19 e aos que forem encaminhados pelo Complexo Regulador da Secretaria de Saúde do DF. É necessária indicação do médico pela continuidade de assistência para a reabilitação, no momento da alta da UTI.
De acordo com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), a iniciativa em parceria com o Hospital Sírio-Libanês completou dois meses e mostrou resultados positivos.
O serviço de reabilitação de pacientes graves que ficaram com sequelas da Covid-19 reduziu em 57% o tempo de permanência na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O tempo médio de permanência dos pacientes internados na UTI antes do início do projeto era de 10,8 dias. Até dezembro, esse número foi reduzido para 4,6 dias.
Entre os principais resultados do projeto estão: o maior controle e mapeamento dos pacientes; a padronização dos leitos, com identificação-padrão e planos de cuidados multidisciplinares dos internados; e os resultados assistenciais apresentados na unidade, como o quantitativo de altas e óbitos.
O Hospital de Base ainda ará por mais quatro meses de monitoramento pelo projeto Reab pós-Covid.