Bolsonaro está enganado: falta cloroquina nas farmácias do DF
Presidente afirmou que o medicamento está disponível. Sincofarma-DF, no entanto, diz que drogarias estão desabastecidas desde março
atualizado
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Apesar de o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), ter afirmado a um apoiador, nessa segunda-feira (11/05), que há hidroxicloroquina nas farmácias de Brasília, o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Distrito Federal (Sincofarma-DF) informa que os produtos estão em falta desde o final de março. Toda a produção do medicamento tem sido direcionada para hospitais do Brasil inteiro.
A declaração de Bolsonaro foi dada após o questionamento sobre o motivo pelo qual o ministro da Saúde, Nelson Teich, não endossou o uso do medicamento. “Tem estado que não está aceitando, está dificultando. Tem a cloroquina nas farmácias aqui em Brasília, em alguns estados, não. Nós vamos tentar correr atrás para saber por que não tem”, disse o presidente.
Francisco Messias Vasconcelos, presidente do Sincofarma-DF, no entanto, afirma que a partir da autorização por parte do Ministério da Saúde para que fossem feitos tratamentos com o medicamento, o remédio sumiu dos estabelecimentos. “A demanda em hospitais foi muito grande e muita gente foi atrás de uma vez. Acabou rapidamente”, explica.
Segundo Vasconcelos, as empresas que fabricam a cloroquina no Brasil estão dando prioridade à demanda dos hospitais pelo remédio, o que acarreta a falta no comércio. “Com essa pandemia, pode ter certeza que ainda vai demorar a voltar ao normal. Entrei em contato com as indústrias, mas ainda não obtive resposta”, conta.
Vasconcelos diz que até os usuários frequentes do composto, como portadores de lúpus, estão sem opção. “Os médicos estão buscando alternativas para aumentar a imunidade dos pacientes, pois tem sido impossível comprar”, relata.
Busca sem resultado
Nessa segunda-feira (11/05), a reportagem tentou encontrar o remédio nas drogarias localizadas na tradicional Rua das Farmácias, localizada na Asa Sul, quadras 102 e 302, mas não obteve sucesso. Em todos os estabelecimentos, os atendentes disseram que o produto está em falta há semanas e não há previsão de recomposição do estoque.
Farmácias em Taguatinga, Ceilândia e Sobradinho foram contatadas por telefone e todas afirmaram estar sem o produto. Muitos funcionários fizeram a ressalva de que não há a possibilidade de encontrar o remédio graças “ao desvio de toda a produção” para hospitais.
Ao todo, o Metrópoles entrou em contato com 20 drogarias e nenhuma tinha o produto.
Questionada sobre a alta demanda da cloroquina na rede pública, que causou a escassez do remédio em drogarias, a Secretaria de Saúde informou que o “medicamento utilizado nos hospitais é encaminhado pelo Ministério da Saúde”.
O ministério foi acionado, mas não havia esclarecido aos questionamentos do portal até a última atualização desta reportagem. O espaço permanece aberto.
Bolsonaro e cloroquina
O chefe do Executivo voltou a abordar o assunto após hiato de semanas sem defender, publicamente, o uso do remédio.
ada a empolgação inicial sobre a utilização da hidroxicloroquina e após uma série de estudos apontarem a ineficácia do medicamento diante da Covid-19 – incluindo pesquisa da Universidade de Columbia, publicada no dia 7 de maio no periódico científico New England Journal Medicine –, o presidente reduziu as menções ao composto.
Levantamento do Metrópoles na conta de Bolsonaro no Twitter no mês ado mostrou que o auge do interesse do presidente pelo remédio foi entre os dias 27 de março e 9 de abril, quando ele postou sobre o remédio em 22 ocasiões. Desde então, porém, foram apenas três tuítes sobre a cloroquina, até o dia 19 de abril.
Bolsonaro não tem tomado a iniciativa de falar sobre o medicamento e, quando perguntado, não adota mais o tom esperançoso que usava há um mês, quando gravou um vídeo no jardim do Palácio da Alvorada anunciando a cloroquina como “possível cura” do coronavírus.