Acidentes de trânsito aumentam 245% e preocupam moradores do Noroeste
Trânsito no bairro tem ficado mais complicado e perigoso, segundo moradores da área, que cobram ações mais efetivas para conter acidentes
atualizado
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Para evitar acidentes de trânsito no bairro do Noroeste, no fim da Asa Norte, o motociclista e militar Roni Edison Ciolatti, 61 anos, dirige com atenção redobrada. “O trânsito nesta região está bem complicado. O número de acidentes tem aumentado”, comentou.
O receio do condutor segue o fluxo das estatísticas. Um levantamento com base em dados do Departamento de Trânsito (Detran-DF) e obtidos por meio Lei de o à Informação (LAI) mostra que, entre 2020 e 2024, o número de acidentes no bairro com um dos metros quadrados mais valorizados do país aumentou 245%.
Felizmente, Roni Edison não entrou nas estatísticas. Mas, apesar disso, testemunhou alguns acidentes. “Eu voltava do quartel e vi uma colisão grave entre uma motocicleta e um carro, perto da Quadra 309. Acho que poderiam instalar mais redutores de velocidade”, opinou.
O militar pondera que vê com frequência motoboys trafegarem pelas ruas sem a atenção devida à segurança. Contudo, no caso do Noroeste, defende melhorias nas vias e na sinalização, especialmente em pistas de mão dupla na entrada e na saída das quadras, marcadas por congestionamentos e acidentes nos horários de pico.
Confira os dados do Detran-DF sobre acidentes no Noroeste:
O testemunho de Roni Edison não é isolado. A comerciante Jandira Jaime, 44, vende refeições às margens da Avenida W7. “Vejo acidentes frequentemente. É um trecho muito perigoso, com muitas ocorrências”, destacou.
Aumento de ocorrências em quatro anos
Ainda segundo os dados da LAI, em 2020, foram registradas 104 colisões no bairro. E, ao longo de 2024, o bairro teve 359 ocorrências desse tipo. A maior parte delas não deixou feridos.
Atualmente, a W7 é a principal avenida da região. E ela teve um crescimento de 300% no número de acidentes. Em 2020, houve foram oito ocorrências; em 2024, 32.
Mesmo com um dos metros quadrados mais valorizados do país, o recente bairro do DF enfrenta um grave problema de mobilidade e segurança viária. A W7, que deveria ser uma via secundária, tem sido usada como principal, enquanto a W9, originalmente projetada para essa função, não cumpre o papel dela.
Esse “desvio de função” tem gerado estrangulamentos no trânsito, aumento dos riscos de acidentes e problemas de fluidez nas vias. “O Noroeste foi projetado para ser um bairro-modelo e não pode continuar a ter esses riscos evitáveis”, analisou Ricardo Pierry de Freitas, presidente da Associação dos Moradores do Noroeste (Amonor).
Na tarde dessa sexta-feira (7/3), por exemplo, na saída da Quadra 111, próximo à W9, ocorreu uma batida entre um carro de eio e um motocicleta.
Um jovem de 18 anos que pilotava a moto foi levado pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) para Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) com dores no braço e um ferimento no dedo médio esquerdo. O motorista do carro não se feriu.
Pelas imagens, obtidas pelo Metrópoles, é possível ver o piloto e a motocicletas caídos, além do carro de eio danificado na parte traseira esquerda. A corporação não detalhou como teria acontecido a colisão.
Veja imagens:
Encarregado em um dos prédios do bairro, Maicon Flávio Soares Alves de Lima, compartilha da apreensão de outros moradores. “Os acidentes ocorrem geralmente nas saídas das quadras, de carro com motocicleta. Poderiam colocar um sentido único para diminuir esse índice”, sugeriu.
Necessidade de estudos técnicos
Para o presidente da Amonor, a sinalização na região é precária e leva motoristas a trafegar na contramão por falta de orientação.
“É fundamental que um estudo técnico eficaz seja conduzido para ajustar a engenharia de trânsito do bairro, de modo que a infraestrutura viária funcione como no projeto original. Mais do que diagnósticos, precisamos da execução rápida dos serviços necessários para corrigir falhas, melhorar a sinalização e assegurar um tráfego seguro e organizado”, afirmou Ricardo Pierry.
Além disso, os problemas viários não colocam em risco apenas condutores e pilotos, mas também pedestres e ciclistas. O problema chegou a ser apresentado no Conselho de Segurança do Noroeste, segundo Ricardo, e um ofício com cobrança de soluções foi enviado ao Governo do Distrito Federal (GDF).
Depois disso, houve instalação de quebra-molas, mas a medida dividiu opiniões entre moradores. Para Lucas Benevides, o redutor de velocidade não soluciona todos os problemas. “Os acidentes ocorrem nas entradas das quadras, principalmente”, destacou o servidor público, que também cobra mais atenção dos motoristas e a presença constante do Detran-DF na área.
Responsabilidade dos motoristas
O Noroeste está em processo de franco crescimento populacional atualmente. No entanto, para Arthur Morais, especialista em trânsito e pesquisador da Universidade Católica de Brasília (UCB), o aumento no número de moradores não justifica a alta no número de acidentes.
“É preciso de alguma solução. Eu sei que, do jeito que está, não pode ficar, porque os números têm mostrado um aumento expressivo. O erro do motorista é a maior causa de acidentes. E a atenção dele é uma das soluções para não termos acidentes”, resumiu.
Apesar disso, a questão não se limita aos motoristas, segundo Arthur Morais. Para ele, o GDF precisa aperfeiçoar a sinalização e as vias. “Agora, se a população identificou tantos problemas, precisa reduzir a velocidade e prestar mais atenção também. Se você chega a uma estrada cheia de buracos, o que você faz? Reduz a velocidade. Não ande a 100 km/h”, exemplificou.
“Veja a população de Brasília, a quantidade carros em 1990 e pegue esses números hoje. Qual foi o reflexo da quantidade de acidentes? Se você comparar os últimos 20 anos, aumentaram a população e o número de veículos, mas a quantidade de acidente diminuiu. Não consigo ver justificativa para os dois [índices] crescerem na mesma proporção, pois o que subiu também foi o total de motoristas que não seguem as regras”, criticou.
Melhorias viárias
Questionado pela reportagem, o Detran-DF informou que, por considerar a sinalização viária existente incapaz de atende plenamente aos anseios da comunidade, diante do aumento do número de veículos que circulam na região, a Diretoria de Engenharia de Trânsito da autarquia tem feito estudos para efetuar esses ajustes no Setor Noroeste.
“Primeiro, os estudos têm ocorrido nas quadras comerciais CLNW 2/3, 4/5, 6/7, 10/11, entre outras”, detalhou o Detran-DF. “[As medidas se darão] no intuito de promover melhorias na circulação de veículos e proporcionar mais segurança e fluidez viária para a região.”