“Câmera” de Bolsonaro, capitão do Exército nega ter incitado golpe
Investigado pelo Ministério Público, o militar continua trabalhando com o ex-presidente. Agora, contratado pelo PL
atualizado
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Alvo de uma investigação do Ministério Público Federal, o capitão Andriely Cirino negou, em declarações prestadas ao Exército, que tenha disseminado mensagens golpistas enquanto trabalhou com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.
A coluna teve o ao registro das declarações do militar, resumidas em duas páginas que foram anexadas aos autos.
O capitão afirma que, após ser designado para trabalhar no Planalto, onde esteve lotado no Gabinete de Segurança Institucional e na Secretaria de Comunicação, tornou-se “câmera oficial” da Presidência.
Como tal, ele diz que tinha por atribuição fazer e distribuir imagens dos eventos do então presidente — muitas delas, por sinal, eram retransmitidas em tempo real pelos diversos canais bolsonaristas da internet, o que significa que um funcionário pago com dinheiro público era usado para alimentar as redes de apoio a Bolsonaro.
A apuração em andamento no MP teve origem em um pedido do senador petista Humberto Costa, baseado em mensagens que o capitão, à época na ativa, encaminhou a interlocutores com conteúdo golpista, inclusive pondo em dúvida o resultado das urnas.
A tramitação do caso começou pelo Ministério Público Militar, que entendeu não haver crime militar para ser apurado e, depois, enviou os autos para o Ministério Público Federal.
No depoimento ao Exército, a partir de um pedido de explicações feito pelo MP já como parte da apuração, o capitão limitou-se a falar genericamente sobre o que fazia no Planalto, sem se referir especificamente às mensagens que encaminhou e que são objeto da investigação.
Para não se complicar, Cirino nem sequer mencionou ter ado adiante mensagens recebidas de terceiros. Preferiu focar no argumento de que ele próprio não produziu conteúdo de viés golpista.
“Minha função era acompanhar a comitiva presidencial em praticamente todas as atividades, gravando e produzindo vídeos curtos. Portanto, o que enviava às pessoas de meu convívio direto eram vídeos exclusivos de falas, cerimônias, entre outros, inclusive muitas vezes sendo essas transmitidas ao vivo por diversos canais de comunicação interessados”, afirmou o capitão.
Ele prosseguiu: “Nunca produzi ou retransmiti vídeos ou qualquer outro produto que não fosse estritamente o ocorrido em tal evento (sic). Então, não tinha cunho ‘fake’. (…) Também nunca produzi qualquer outro material com viés golpista ou posteriormente negando ou não reconhecendo o fim e o resultado do pleito eleitoral”.
O capitão deverá ser ouvido mais uma vez, agora pela própria Procuradoria. Como a coluna mostrou, em ofício enviado ao MP o Exército saiu em defesa do oficial e sustentou não haver crime em sua conduta.
Andriely Cirino seguiu vinculado à Presidência da República até o fim de janeiro. Devolvido ao Exército, ficou à disposição do Departamento Geral de Pessoal da corporação. Em março, ele foi para a reserva. Como também mostrou a coluna, Cirino continua trabalhando com Jair Bolsonaro. Agora, pago pelo PL, o partido do ex-presidente.