Professora trans se manifesta sobre fantasia de Barbie em sala de aula
Fantasia de Barbie usada por professora em sala de aula da Educação Infantil gerou reações da direita; Emy Santos critica “discurso de ódio”
atualizado
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A professora Emy Santos, que é trans, rompeu o silêncio sobre a fantasia de Barbie usada por ela no primeiro dia de aula da Escola Municipal Irma Zorzi, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Atacada por políticos de direita, ela disse em entrevista à coluna ser alvo de “discurso de ódio”. Emy afirma que o uso da fantasia, inclusive por outros docentes, havia sido alinhado com a direção da escola durante a semana anterior.
Após a repercussão do vídeo em que Emy aparece interagindo com alunos de 6 e 7 anos fantasiada de Barbie, o secretário municipal de Educação, Lucas Bittencourt, afirmou ter determinado a abertura de um “processo de averiguação”. A professora nega que tenha recebido qualquer notificação ou punição. Ela tem 25 anos e trabalha na rede municipal de ensino há um ano.
“Fui orientada pela direção da escola sobre a exposição das imagens das crianças sem autorização, retirei o vídeo, e foi apenas isso que ocorreu. Inclusive, a Semed, órgão responsável pelas escolas, afirmou que vestir fantasias no primeiro dia de aula era e é uma prática lúdica comum nas escolas para crianças”, contou a professora.
Emy Santos explicou que, na semana anterior ao início das aulas, ficou decidido que todos os professores iriam fantasiados no primeiro dia. “Tivemos uma semana pedagógica na semana anterior. Preparamos uma recepção para as crianças. Foi sugerido que fôssemos fantasiados para recebê-las, trabalhando a ludicidade e a brincadeira. Uma professora foi de cozinheira, outra de princesa, e eu fui de Barbie”, explicou.
“Como combinado, fui me apresentar em cada sala que iria dar aula. A apresentação consistia em falar meu nome, minha disciplina, que é arte, e a linguagem do meu trabalho, que é teatro e dança. Fiz isso em todas as salas. Logo após, tivemos dois tempos de aula, sendo o primeiro para eu conhecer as crianças. Elas se apresentavam com uma dinâmica, em que cada criança falava o animal preferido e todos tinham que imitar. Eu incentivava para que elas não tivessem timidez. Assim, segui a aula e ei para os combinados das aulas”, disse Emy.
Discurso de ódio
A professora afirmou que não recebeu qualquer crítica dos colegas em relação à fantasia, nem durante a semana pedagógica, nem no primeiro dia de aula. Sobre as alegações feitas pelo deputado estadual João Henrique Catan (PL), de que a presença da professora trans vestida de Barbie seria uma manifestação ideológica e poderia influenciar a orientação sexual das crianças, Emy considera a crítica um “discurso de ódio”.
“É um pensamento no mínimo burro, porque eu estudei muito para conseguir ocupar meu lugar como professora. Aprendi sobre didática, metodologias, ética e respeito em primeiro lugar com filhas e filhos de outras pessoas. Eu sou uma mulher trans e isso não tem como eu mudar. Essa sou eu, a professora Emy. O que eles fizeram foi manipular o vídeo com um discurso incoerente e cheio de ódio. Fica a reflexão: se fosse um homem hétero cis vestido de Super-Homem, teria alguma interpretação dessas? Por que estão ligando isso com uma conotação sexual ou ideológica?”
Em seu discurso, João Henrique Catan atribuiu a presença da professora vestida de travesti em sala de aula à “pauta da esquerda”. “A pauta da esquerda tem a intenção de proibir os alunos de levarem celular para dentro das escolas. Eu peço para colocar no telão o que um celular na mão de um aluno pode mostrar para o parlamento e para a sociedade. Um professor da rede pública municipal mostrando para alunos de 7 anos de idade como se veste, montado de travesti. Um homenzarrão”, criticou.
“Eu quero oficiar a rede pública, a Comissão de Educação aqui da Assembleia também. Eu quero saber quem é esse professor, eu quero saber quem é esse diretor que permitiu que um professor entrasse na sala de aula fantasiado de travesti. Isso está no plano de ensino?”, disse Catan.