Vídeo: operação confirma união do PCC com CV e movimentação de R$ 6 bi
A coluna antecipou articulação inédita entre os grupos criminosos. O PCC e o CV montaram esquema bilionário de lavagem de dinheiro
atualizado
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A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou (PCERJ), nesta quinta-feira (10/04), a maior ofensiva já realizada contra o Comando Vermelho (CV), desmantelando um esquema bilionário de lavagem de dinheiro com ramificações no estado de São Paulo. A operação, batizada de “Contenção”, revela não apenas a estrutura sofisticada do núcleo financeiro da facção, mas confirma — como esta coluna revelou com exclusividade — a aliança inédita entre o CV e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
O principal alvo da operação é a asfixia financeira do Comando Vermelho, que, segundo as investigações, movimentou R$ 6 bilhões em apenas um ano — o maior pedido de bloqueio patrimonial da história da Polícia Civil fluminense. A articulação é da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), com apoio da CORE, do DGPE, da DGCOR-LD e da Polícia Civil de São Paulo. Ao todo, foram cumpridos 46 mandados de busca e apreensão no Rio e em municípios paulistas.
Bancos e empresas de fachada
O dinheiro do tráfico era disfarçado por meio de um sistema financeiro clandestino que envolvia bancos digitais, fintechs, plataformas de contabilidade, empresas fantasmas e intermediadoras ilegais de pagamento — tudo fora do radar do Banco Central. A estrutura revelada pela operação comprova o nível de sofisticação e ramificação das facções, com atuação em diversas frentes para garantir o giro dos recursos ilícitos.
Segundo a Polícia Civil, o esquema financeiro não apenas financiava a compra de armas e drogas, mas também sustentava as disputas por controle territorial na Zona Oeste do Rio.
Da guerra sangrenta à aliança estratégica
A operação também lança luz sobre a reaproximação estratégica entre as duas maiores facções criminosas do país. Após anos de guerra — marcada por massacres em presídios e confrontos armados nas ruas — lideranças do PCC e do CV articulam uma trégua histórica, com objetivos comuns.
Como revelado pela coluna, a união das facções tem como foco principal a pressão conjunta contra o Sistema Penitenciário Federal (SPF), onde seus principais chefes cumprem pena sob duras restrições.
Sem visitas íntimas e com contatos limitados com advogados e familiares, as lideranças viram sua capacidade de comando reduzida. Advogados ligados às duas facções aram a atuar como intermediários nas tratativas, que buscam flexibilizar essas normas.
Monitoramentos sigilosos já captaram conversas cifradas entre os presos e movimentações de seus defensores. Fontes revelam a existência de uma força-tarefa jurídica formada por representantes de ambos os grupos, com ações coordenadas para alterar as regras do SPF. A articulação também foi percebida em presídios estaduais, como o Complexo da Papuda, em Brasília.
Histórico
O Comando Vermelho surgiu em 1979, no presídio da Ilha Grande (RJ), enquanto o PCC foi fundado em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté (SP). Durante anos, mantiveram uma relação de cooperação, mas o rompimento veio em 2016, com o envio de um “salve” pelo PCC recusado por Marcinho VP, liderança do CV. O resultado foi uma guerra sangrenta que explodiu em rebeliões, como o massacre de Manaus, em 2017, com 56 mortos.