Uma breve excursão pela realidade paralela da esquerda
Há uma realidade paralela que se manifesta nas redes, na imprensa, nas escolas e em falas de cantores. É a realidade paralela da esquerda
atualizado
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Há uma realidade paralela que se manifesta nas redes sociais, em jornais e emissoras de TV, em salas de aulas do ensino médio e universitário e em falas de cantores de MPB e de rock, como as do senhor Roger Waters, prova viva de que os bobocas também envelhecem. É a realidade paralela da esquerda.
Façamos um breve excursão por ela. Quem embarcar leva como brinde, para se sentir mais inteligente, a definição do filósofo Ortega Y Gasset: “A missão do chamado ‘intelectual’ é, de certo modo, oposta à do político. A obra intelectual aspira, frequentemente em vão, a aclarar um pouco as coisas, enquanto a do político sói, pelo contrário, consistir em confundi-las ainda mais. Ser de esquerda é, como ser de direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode eleger para ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia moral”.
Muito bem, apertem os cintos. Nessa realidade paralela da esquerda que adentramos agora, o presidente Volodymyr Zelenski foi quem causou a guerra na Ucrânia, ao ultraar limites estabelecidos pela Rússia, não o autocrata Vladimir Putin, que achou que poderia anexar o país vizinho, no que seria o primeiro grande o para reconstituir o território da União Soviética.
No caso do ataque bárbaro a Israel, o grupo terrorista que não é terrorista Hamas agiu com justiça e proporcionalidade ao trucidar centenas de civis indefesos em território inimigo e sequestrar mais de 200 israelenses para tê-las como moeda de chantagem.
O Hamas também não usa palestinos como escudos humanos — e Israel não tem direito à autodefesa. Aliás, Israel não deveria nem mesmo existir, já que ocupa o território de um país que nunca houve, mas que deveria haver. É um estado genocida que gosta de matar crianças em bombardeios injustificáveis que visam a exterminar civis. Não há antissemitas na esquerda, apenas antissionistas.
Todo israelense é de extrema direita, partidário de Benjamin Netanyahu e da expansão dos assentamentos ilegais feitos por colonos na Cisjordânia. Não existe oposição simpática à causa palestina na democracia israelense. Não foram países árabes e os palestinos que, durante décadas, recusaram a solução de dois estados e atacaram Israel, alimentando o extremismo de ambos os lados.
Bombardeios. Na realidade paralela da esquerda, Israel continua a ser o responsável pelo bombardeio do hospital em Gaza, apesar de todas as provas de que foi um foguete da Jihad Islâmica que caiu sobre o estacionamento do hospital. A quantidade de quase 500 mortos nesse episódio também permanece valendo, embora não haja esse número de corpos.
A fonte fidedigna de informações sobre as mortes de todos os civis em Gaza é o “Ministério da Saúde” do Hamas, segundo o qual todos os palestinos que pereceram sob os bombardeios israelenses são inocentes. Não é preciso verificar o número e identidade dos mortos, já que os israelenses não deixam jornalistas entrarem Gaza. A incompetência de Israel em eliminar terroristas e destruir a infraestrutura do Hamas é evidente, assim como a sua má intenção.
Já Vladimir Putin, com quem Lula troca ótimas ideias sobre a paz no Oriente Médio e na Europa, está sinceramente preocupado com a morte de civis palestinos, enquanto mata civis ucranianos, aqueles nazistas.
Na Europa, a laicidade do Estado atenta, coisa absurda, contra a liberdade das mulheres muçulmanas de serem oprimidas pelo uso do hijab e até mesmo da burca. É preciso defender o direito à opressão islâmica em nome do multiculturalismo. E não são os muçulmanos que se recusam a integrar-se às sociedades europeias por nelas enxergarem heresia, decadência e depravação, efeito colateral da revolução involucionária dos aiatolás no Irã.
São as sociedades europeias fundadas na democracia e no Estado de Direito que jamais acolheram de verdade os milhões de muçulmanos que superaram preconceitos e encontraram trabalho, educação, saúde e liberdade na Europa.
(A mulher que foi assassinada pela polícia de costumes iraniana por usar “roupas impróprias” não consta da realidade paralela da esquerda.)
Em latitudes tropicais, o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe e a Lava Jato é golpista e culpada pela recessão que Dilma Rousseff causou. Os bilhões de reais roubados na Petrobras e adjacências que foram devolvidos? Detalhe sem importância diante do golpe perpetrado. O PT é um partido de ado imaculado e Lula, o inocente injustiçado, voltou ao poder por reconhecimento popular, sem usar como escada a rejeição à boçalidade de Jair Bolsonaro.
As ditaduras cubana, venezuelana e nicaraguense, por sua vez, jamais cometeram crimes contra os respectivos povos, não arruinaram os seus países e são exemplos de resistência ao imperialismo americano. Se a democracia corre risco de morrer, é nos Estados Unidos, pelas mãos do eleitorado republicano.
Quanto ao peronismo, é graças a ele que a Argentina vai tão bem economicamente, em que pesem alguns percalços, como a inflação anual que já bateu em quase 140%, com todas as consequências felizes de tal desastre. Um dia, se tudo der certo, o lulismo será para o Brasil o que o peronismo é para a Argentina.
A breve excursão pela realidade paralela da esquerda chegou ao fim. Excursões pela realidade paralela da direita saem de outros endereços. Há uma profusão deles e não pretendo sair do nicho de mercado que me garante o salário. Obrigado pela preferência.