O advogado Kakay é um pote até aqui de mágoa com Lula
O advogado Kakay, amigo-irmão de José Dirceu, a quem deve tudo e muito mais, resolveu escrever uma cartinha para falar mal de Lula
atualizado
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O advogado Kakay, amigo-irmão de José Dirceu, a quem deve tudo e muito mais, resolveu escrever uma cartinha para falar mal de Lula.
A cartinha faz supor que ele não consegue mais ter o direto ao presidente da República e está magoado com isso. Ele e os seus amigos. Ele e os seus clientes. A crer nos talentos adverbiais do advogado Kakay, a primeira-dama parece ser a maior barreira.
Depois de evocar, nostalgicamente, o Lula dos mandatos anteriores, o advogado Kakay diz o seguinte:
“Mas o Lula do 3º mandato, por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais (Janja?), é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos e perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir, de olhar a cena política.
Outro dia alguns políticos me confidenciaram que não conseguem falar com o Presidente. É outro Lula que está governando.”
O diagnóstico do advogado Kakay é o mesmo da torcida brasileira: Lula cumpre o roteiro para a derrota em 2026.
“Com a extrema direita crescendo no mundo e, evidentemente aqui no Brasil, o quadro é muito preocupante. Sem termos o Lula que conhecíamos como Presidente e sem ele ter um grupo que ele tinha ao seu redor, corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026. Bolsonaro só perdeu porque era um inepto. Tivesse ouvido o Ciro Nogueira e vacinado, ou ficado calado sem ofender as pessoas, teria ganho (sic) com a quantidade de dinheiro que gastou. Perder uma reeleição é muito difícil, mas o Lula está se esforçando muito para perder. E não duvidem dele, ele vai conseguir.”
É duvidoso que Lula recupere aprovação e popularidade, atualmente em níveis críticos, se ele voltar a receber Kakay, os amigos de Kakay ou os clientes de Kakay. Mas a cartinha mostra, para além do pote até aqui de mágoa, que fidelidade tem limite na política, o das conveniências. O advogado Kakay pode estar à procura de um novo amor, e também os seus amigos e os seus clientes, mas sem perder a ternura jamais. Veja só o que ele escreveu:
“Já fico olhando o quadro e torcendo para o crescimento de uma direita civilizada. Com a condenação do Bolsonaro e a prisão, que pode se dar até setembro, nos resta torcer para uma direita centrista, que afaste o fascismo.”
Por fim, um parêntese, a título de curiosidade: quando eu era redator-chefe da Veja, o advogado Kakay tentou evitar que a revista publicasse uma reportagem sobre ele, oferecendo-me uma viagem para Portugal, na qual seriam degustados os vinhos da região do Douro. Recusei, como pode atestar uma testemunha, e a reportagem foi publicada. Posso dizer que a recusa não foi pela minha fidelidade às Langhe do Piemonte. Sabe como é, ainda conservo teimosamente algumas prerrogativas. Fecha parêntese. Cai o pano.