SPFW N59: moda e cultura nacionais são destaque nos primeiros dias
Tecnologia, circo e Amazônia foram alguns dos temas abordados nos primeiros dias de São Paulo Fashion Week N59
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São Paulo (SP) – A 59ª edição do São Paulo Fashion Week começou nesse domingo (6/4). Para celebrar os 30 anos do evento, essa temporada conta com uma programação repleta de marcas nacionais relevantes, como Aluf, Herchcovitch;Alexandre e Lino Villaventura. Os locais dos desfiles variam entre o shopping JK Iguatemi e ambientes externos, como a casa noturna Blue Space e a Casa Higienópolis. A coluna está presente e traz detalhes dos desfiles que ocorreram nos primeiros dias de SPFW.
Vem conferir!

Aluf explora cores e formas com referências circenses
O São Paulo Fashion Week N59 teve seu primeiro desfile realizado na noite do último domingo (6/4), com a apresentação lúdica e rica em detalhes da Aluf, marca comandada pela designer Ana Luisa Fernandes. Com tema circense, o desfile interpretou figurinos clássicos de malabares, palhaços e acrobatas, valorizando a fuga dos padrões e o artesanato característicos da moda elaborada pelos artistas de circo.
Elementos da coleção que dão os primeiros indícios de tendências foram as meias de renda, as listras verticais e as saias estruturadas, exploradas com primor no desfile de abertura do evento. Os órios também foram destaque na coleção da Aluf, como os elegantes e divertidos itens de cabeça e as bolsas, apresentadas em parceria com a Nohma.



Herchcovitch;Alexandre ilumina o SPFW com moda clubber
No segundo desfile desde que reassumiu a direção criativa da marca homônima, Alexandre Herchcovitch surpreendeu o público mais uma vez ao unir memória afetiva, experimentação e potência visual em uma arela nada convencional: a casa noturna Blue Space, conhecida pelos shows de drag queens. E a escolha do local já sinalizava o tom da coleção apresentada na 59ª edição do SPFW.
Tecidos e bordados com cristais Swarovski que reagem à luz negra foram algumas das surpresas que estavam por vir. O efeito visual hipnotizante remete diretamente à cultura clubber dos anos 1990 — cenário no qual o estilista despontou e se consolidou como um nome disruptivo na moda brasileira.
Ao mesmo tempo, as silhuetas e materiais tinham referências dos anos 1970, com camisetões esportivos, veludo cotelê, flanelas e tecidos com estética de decoração retrô. O desfile apresentou ainda um jogo refinado de volumes e formas, com ternos de mangas torcidas, casacos com recortes ousados e laços aplicados nas cinturas que remetem aos obis japoneses.
A liberdade criativa de Herchcovitch continua sendo seu maior trunfo: ele manipula o comportamento dos tecidos com maestria, transformando o que poderia ser apenas nostálgico em algo profundamente contemporâneo.



Normando homenageou a Amazônia e a literatura paraense
Após uma estrear no SPFW ano ado, a Normando retornou à arela do evento nesta temporada. Com isso, a marca paraense, comandada por Marco Normando e Emídio Contente, apresentou, nessa terça-feira (8/4), uma coleção inspirada em um clássico da literatura regional: Chove nos Campos de Cachoeira, de Dalcídio Jurandir.
Dividido em três atos — assim como a estrutura do romance — o desfile percorreu sentimentos de resistência, melancolia e renovação. A chuva, elemento simbólico da obra, surge nas peças como representação da força da natureza e das transformações que ela provoca.
Fiel ao DNA sustentável da marca, a Normando também investiu em tecidos de origem responsável e baixo impacto para criar. Entre os materiais utilizados estão: o látex nativo da Amazônia, algodão pima, Lenzing e Ecovero — todos com forte conexão com o território e com a biodiversidade brasileira.
No encontro entre moda, cultura e resistência, a Normando faz jus ao lugar que tem como símbolo de uma Amazônia criativa, crítica e profundamente conectada com o presente e o futuro. Ela mostra que sabe fazer peças estruturadas e autênticas, mas que também se atenta aos detalhes ao ir a fundo no processo de criação.



A estreia de Leandro Castro no SPFW
Depois de ser destaque na Casa de Criadores, a marca Leandro Castro, comandada pelo designer homônimo, estreou no São Paulo Fashion Week com a coleção Linha, apresentada nessa terça-feira (8/4). Com inspiração no ensaio Ponto e Linha sobre Plano, do artista russo Wassily Kandinsky, a nova criação do artista propõe uma reflexão visual e conceitual sobre a presença das linhas na vida, no corpo e na moda.
Mais do que um elemento gráfico, a linha foi retratada como metáfora de conexões, percursos e construções na arela. A coleção percorre diferentes interpretações — da costura à arquitetura, da natureza à pele — traduzindo essas camadas em peças tridimensionais e cheias de textura.
Conhecida pela abordagem sustentável e experimental, a marca apostou em resíduos têxteis como matéria-prima, transformando sobras de jeans, linho, algodão, viscose, neoprene e até materiais automotivos em roupas e calçados que flertam com a arte vestível. O processo manual, com técnicas como crochê, plissados, alfaiataria e pintura, reforça o caráter artesanal das peças, que ganham vida em tons neutros como preto, cinza, branco e off-white.



Lino Villaventura contrasta drama e leveza
Com 47 anos de marca, Lino Villaventura levou ao SPFW N59 um desfile marcado por s inconfundíveis, como a estruturação elaborada das peças e a exploração de diferentes texturas nos tecidos. Assim, as tradicionais silhuetas dramáticas e esculturais colaboraram para o visual teatral da apresentação.
Com Reynaldo Gianecchini e Ticiane Pinheiro como parte do casting, a arela foi espaço para o grandioso, mas Villaventura também mostrou esmero nos detalhes, como nas diferentes formas de golas das peças, que variaram entre rígidas, amórficas e geométricas, dando ainda mais riqueza visual nas construções das roupas.
Os órios de cabeça também chamaram atenção: capuzes, toucas e reinterpretações da balaclava foram adornadas com brilhos e amarrações que emolduravam o rosto dos modelos. As tiras foram abundantes nos vestidos, camisas e calças, garantindo movimento e leveza à coleção. Entre as cores presentes, o verde e o azul apareceram com destaque, em tons e designs que suavizaram a abordagem dramática do designer.



Dario Mittmann
Em sua segunda participação no São Paulo Fashion Week, Dario Mittmann apresentou a coleção Golem, uma reflexão sobre os impactos da tecnologia na sociedade e na moda. Inspirado na figura mítica do golem — ser artificial criado para proteger, mas que levanta questões éticas sobre controle e humanidade —, o estilista construiu uma narrativa visual baseada em cortes artesanais, referências urbanas (com destaque para o jeans) e designs tecnológicos.
As peças misturaram volumes esculturais com texturas metálicas, e elementos de armaduras, em uma estética que remete ao cyberpunk. O clímax do desfile foi a aparição de Deborah Secco como uma figura robótica, com movimentos mecanizados. A atriz encerrou a apresentação como um símbolo da simbiose entre corpo e máquina.



O São Paulo Fashion Week N59 acontece na capital paulista até a sexta-feira (11/4). Para o dia de encerramento, as marcas Handred, Patrícia Viera e Piet preparam desfiles em diferentes locações — e continuarão a demonstrar a força da moda brasileira para a temporada de inverno 2025.