H&M e C&A são as marcas mais transparentes da moda, revela estudo
Redes lideram índice anual do Fashion Revolution e estão à frente de labels como Adidas, Nike e Gucci. Tom Ford aparece nas últimas posições
atualizado
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De acordo com a quinta edição do Índice de Transparência da Moda, publicação anual desenvolvida pelo grupo Fashion Revolution, as varejistas H&M e C&A são as empresas mais confiáveis da indústria têxtil. As companhias superaram etiquetas como Adidas, Nike, Puma, Gucci e Asos, avaliadas pelas informações prestadas a respeito de suas cadeias produtivas, ações socioambientais e relações políticas no decorrer de 2019.
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Após o desabamento do edifício Rana Plaza – centro comercial que abrigava fábricas de tecidos e lojas em Daca, Bangladesh – matar 1.134 pessoas, em abril de 2013, os consumidores aram a exigir mais lisura da indústria têxtil.
Em meio às investigações da catástrofe, marcas internacionalmente conhecidas, como Walmart, Carrefour, Benetton, Primark e C&A, se viram envolvidas no incidente por comprarem de fornecedores que mantinham linhas de produção no local. Não havia condições de trabalho e infraestrutura adequadas.


Determinadas a acabar com os abusos do setor, projetos como o Fashion Revolution se mobilizaram para criar ferramentas que fiscalizam as atividades das maiores empresas do universo fashion, dando origem ao Índice de Transparência da Moda, publicado anualmente no aniversário do colapso em Bangladesh.
Atualmente na quinta edição, o levantamento se tornou essencial para a jornada da moda rumo à sustentabilidade. Para os clientes conscientes, uma pontuação baixa no estudo é um bom motivo para não comprar de determinada marca.
Neste ano, o relatório desenvolvido pelo grupo Fashion Revolution classifica as empresas H&M e C&A, Adidas, Esprit, Marks & Spencer e Patagonia como as marcas de moda mais transparentes do mundo. Puma, Asos, Nike e a VF Corporation, que detêm etiquetas como Timberland e Vans, completam o top 10 do ranqueamento.





Entre as últimas posições, dedicadas às companhias com 0% no índice, a presença de nomes como Max Mara e Tom Ford, presidente do Conselho de Estilistas da América, revela que algumas marcas de peso ainda seguem nas sombras perante o crivo do consumidor consciente.
Embora não tenham ficado com sua pontuação zerada, Fashion Nova, Diane von Furstemberg e Dolce & Gabbana também aparecem em situação alarmante no relatório, ficando com apenas 2% ou 3% de avaliações positivas.




O Índice de Transparência da Moda investiga empresas com faturamento superior a US$ 400 milhões. Em 2020, o número de companhias analisadas foi o maior desde o início do estudo: 250.
Cada uma delas foi pontuada de acordo com 220 indicadores, entre bem-estar animal, uso de produtos químicos, igualdade de gênero, salários dignos, práticas de compra, divulgação de informações sobre fornecedores, controle de resíduos, reciclagem e condições de trabalho.


A líder do mais recente levantamento, a sueca H&M, obteve 73% dos 220 pontos possíveis, após alcançar 61% no ano ado. Essa foi a primeira edição do estudo na qual uma marca ultraou a casa dos 70%. “A empresa publica informações detalhadas sobre sua cadeia de suprimentos e se concentra em várias questões sociais e ambientais”, afirmou o relatório.
A holandesa C&A, que tem forte participação no mercado brasileiro, também conseguiu bater a marca, com 70% de avaliações positivas. Todas as outras marcas do top 5 aram os 60%.

Dentre as etiquetas de luxo, a Gucci foi a que se saiu melhor, obtendo 48%. Ao ser a única grife a conseguir avaliação máxima na seção Política e Compromissos, ela subiu 8% em relação ao ano ado, seguida por outras labels do grupo Kering.




O grande concorrente do conglomerado, a holding LVMH, não conseguiu emplacar nenhuma de suas casas nas primeiras posições do levantamento. Celine, Dior, Louis Vuitton e Fendi surgem na lista do meio para o final, com 26% ou 25% de transparência.
Ainda falando de mercado de luxo, a britânica Burberry aparece com 36%; a Hermès, com 33%; Marc Jacobs, com 25%; Moncler, com 19%; Miu Miu e Prada, com 18%; Valentino, com 10%; Armani, com 9%; e Versace, com 6%.



A Ermenegildo Zegna, que terminou a pesquisa com 27% de avalizações positivas, se tornou a primeira marca do segmento a publicar uma lista detalhada de seus fornecedores, adentrando os 40% de empresas que relatam aos membros sua cadeia produtiva.
Entre as etiquetas que mais cresceram na pesquisa, estão a britânica Monsoon, com uma alta de 23 pontos; a Zegna, com 22; e a Sainsbury’s Tu, com 19. Asics, Urban Outfitters e Anthropologie subiram 15 pontos em relação ao ano ado.


A diretora de políticas do grupo Fashion Revolution e autora do relatório, Sarah Ditty, lembra que o exame mede o nível de transparência das empresas, mas não o quão éticas ou sustentáveis elas são. Afinal, alguns dos melhores desempenhos são de marcas que pagam baixos salários aos trabalhadores.
“Estamos vendo um progresso notável na transparência, mas ainda há muito o que ser feito. As marcas precisam fornecer dados confiáveis e abrangentes, enquanto os sindicatos e ONGs devem lutar pelos trabalhadores e pelo planeta, principalmente após o surto do coronavírus”, defendeu.

Para a pesquisadora, a pandemia da Covid-19 revelou o quão frágil o sistema adotado pela indústria têxtil é. “As empresas têm tanto os recursos quanto a capacidade de cumprir seus compromissos com seus fornecedores, mas estão cancelando pedidos, atrasando salários e demitindo trabalhadores que não possuem sistemas de proteção social ou garantias econômicas, devido aos baixos salários que recebem”, revelou.
Colaborou Danillo Costa