Qual a relação do “concierge do PCC” com o Cruzeiro e Moçambique
Willian Barille Agati foi indicado pela Polícia Federal e atuava como fornecedor de diversos servios para cúpula do PCC
atualizado
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Apontado como “concierge” da alta cúpula do Primeiro Comando da Capital, o PCC, Willian Barille Agati foi flagrado na prática de crimes que vão desde o tráfico de drogas até a lavagem de dinheiro.
Agati foi indiciado pela Polícia Federal na operação Mafiusi, deflagrada em dezembro de 2024. A investigação mirou no grupo que utilizava o porto de Paranaguá (PR) para enviar toneladas de cocaína para a Europa.
“A escolha de Willian como concierge da alta cúpula PCC ocorreu devido à sua imagem de empresário bem-sucedido que aparentemente justifica o padrão de vida luxuoso que ostenta, possibilitando a sua infiltração na alta sociedade”, disse a PF ao pedir a prisão de Agati.
Segundo os investigadores, os serviços oferecidos por Agati iam desde a “logística para o narcotráfico e lavagem de dinheiro, até o fornecimento de aviões, veículos, imóveis, artigos de luxo e outras necessidades dos criminosos.”
A operação Mafiusi também mostrou que outro produto oferecido pelo “concierge” ao PCC foi o “carteira de cônsul” do Consulado da República de Moçambique.

As carteiras visavam colocar em prática um plano para resgatar Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, que estava preso no país africano.
A investigação na PF mostrou que ele contou com a ajuda de Deusdete Januário Gonçalves, cônsul honorário de Moçambique, que também foi indiciado.
As mensagens mostram que com a ajuda do cônsul, o PCC conseguiu entregar um celular para Fuminho dentro da prisão no país africano e recebeu mensagens que seriam dele sobre ordens a serem cumpridas.
Fuminho é apontado como braço direito de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Mesmo com a atuação de Agati e do cônsul ele foi preso em Moçambique e extraditado para o Brasil, onde está preso.
O amplo leque de atuação de Agati também foi descoberto pela PF a partir de suas empresas. Parte delas, diz a PF, utilizada para lavar dinheiro proveniente do tráfico.
Entre os dias 11 de fevereiro e 16 de março de 2021, Agati por meio de sua conta e da empresa FI1RST Agência de Viagens enviou R$ 3 milhões ao time de futebol do Cruzeiro. O caso foi revelado pela revista Piauí.
Para a PF, o valor tem indícios de ser proveniente do tráfico internacional de drogas.

Após 3 dias da última transferência, o Cruzeiro ou a devolver parte do dinheiro por meio de “transferências bancárias iniciadas em 19/03/2021 e que perduraram até 26/06/2022” para outra empresa de Agati, a Burj Motors.
“A partir da análise conjunta dos dados bancários com outros elementos colhidos na presente investigação, foi possível constatar que estas transações financeiras com o Cruzeiro Esporte Clube são referentes negociação de um jogador de futebol, a qual, pelas circunstâncias evidenciadas, tudo indica que consistiu numa operação fraudulenta realizada com objetivo de promover o branqueamento dos valores transacionados”, disse à PF sobre a transações.
À época, o Cruzeiro afirmou que as transações são relacionadas ao empréstimo do jogador Diogo Vitor que “foi registrado em todos os documentos contábeis e financeiros”. Segundo clube, “todas as transações desta operação foram feitas de forma eletrônica, logo facilmente identificadas por instituições bancárias ou até mesmo pela Polícia Federal” e forma registradas na contabilidade do Cruzeiro.
Defesa
Depois da publicação da reportagem, a defesa de Willian Agati enviou uma nota dizendo que Agati nunca praticou nenhum crime e que isso ficará provado durante a instrução processual. Ainda, negam que ele tenha qualquer ligação com o PCC ou com a máfia italiana.
“Agati é um empresário idôneo em diversos ramos nacionais e internacionais sem nunca ter respondido nenhum processo na justiça, e nunca teve e não tem nenhuma conexão com o PCC ou com a máfia italiana (não conhecendo nenhum membro ou pessoa ligada à facções ou máfia)”, afirma o advogado Eduardo Maurício.
O advogado também afirmou que busca que Agati possa responder ao processo em liberdade e está aguardando o julgamento do Habeas Corpus no STJ, “já que sua prisão é ilegal e abusiva”, segundo a defesa.