Delator cita relação de concierge do PCC e pastor Valdemiro
Segundo investigação da PF, Willian Agati se aproximou de um “pecuarista” que lavaria dinheiro com o pastor
atualizado
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Relatório da Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Mafiusi, que investiga um grupo especializado no tráfico internacional de drogas, aponta para o envolvimento do pastor Valdemiro Santiago de Oliveira com Willian Barile Agati, conhecido como o “concierge do crime”.
A suposta relação entre eles é narrada pelo empresário Marco José de Oliveira, que fez um acordo de delação com a corporação. Segundo ele, Agati teria começado a andar com um “pecuarista” que supostamente lavava dinheiro por intermédio de Valdemiro.
“Willian Barile começou a andar com um pecuarista muito forte. O nome é Joselito Golin, apelido Paulo Golin, um dos maiores pecuaristas do Mato Grosso. Esse cara é cinquenta vezes maior que o Cabeça Branca”, diz trecho da delação.
O Cabeça Branca seria Luiz Carlos da Rocha, considerado um dos maiores traficantes da América do Sul. Ele foi preso em julho de 2017.
Segundo o delator, Joselito Golin “esquenta dinheiro dentro da Igreja do pastor Valdemiro [sic] Santiago”.
Valdemiro seria proprietário da Igreja Mundial do Poder de Deus, além da Interteve Serviços e a Jet Wings Táxi Aéreo, que também são citadas na apuração.
Ainda de acordo com a delação, Agati tinha uma boa relação com o pastor e teria transferido aviões dele para seu nome.
“O pastor Valdomiro [sic] Santiago não tinha Certidão Nacional de Débitos (CND), [porque] ele deve muito ao fisco. Os aviões dele, então, não poderiam ser transferidos, porque, pela legislação da Anac, não se pode vender um bem a partir de R$ 50 mil e não se ter a CND. Willian Barile e Joselito Golin pegaram os aviões do Valdomiro Santiago e transferiram todos os aviões abaixo dos R$ 50 mil”, afirmou Marco José de Oliveira.
Segundo a PF, os valores financeiros envolvidos nas transações mencionadas somam cerca de R$ 24 milhões.
Agati, ligado à alta cúpula do PCC, é conhecido como “concierge do crime” por ser, segundo a PF, uma espécie de “faz-tudo” de traficantes da facção e compradores de drogas da Europa. Era ele também que ligava a facção criminosa com a máfia italiana ‘Ndrangheta.
Quem lhe deu esse apelido foi justamente Marco José de Oliveira, o delator do PCC que contou à PF sobre a relação entre Agati e o pastor Valdemiro.
Segundo a corporação, o apelido de concierge veio porque ele atendia a pedidos dos “mais diversos tipos”.
Ele atuava, diz a PF, fornecendo logística para o narcotráfico, lavando de dinheiro e até fornecendo aviões, veículos, imóveis, artigos de luxo e outras necessidades dos criminosos.
Segundo a investigação, a escolha de Willian como “concierge” da alta cúpula do PCC se deu por conta de sua “imagem de empresário bem-sucedido”, que justificaria seu estilo de vida luxuoso, com possibilidade de se infiltrar na alta sociedade.
Operação Mafiusi
A Operação Mafiusi é um desdobramento de outra operação da PF, a Retis, cujo foco eram organizações criminosas que atuavam no tráfico internacional de drogas, especialmente cocaína, enviada ao exterior através do Porto de Paranaguá (PR).
Um dos principais investigados, que recentemente foi denunciado no âmbito do caso, é Willian Barile Agati, o “concierge do PCC”.
Segundo a PF, a análise minuciosa das transações financeiras, das empresas e dos indivíduos envolvidos no caso de Willian Barile “revela a existência de uma organização criminosa com ramificações nacionais e internacionais”.
“O modus operandi desta organização se assemelha ao do Primeiro Comando da Capital (PCC), utilizando técnicas sofisticadas de estratificação de empresas de fachada e pessoas físicas para ocultar a origem ilícita dos recursos e dificultar o rastreamento das atividades ilícitas”, afirmam os agentes.
O relatório também traz uma explicação desse “modus operandi”, que se daria por meio de “empréstimos” de contas correntes de pessoas e empresas para movimentar o dinheiro obtido de maneira ilícita.
“Nesse sistema, várias pessoas físicas e jurídicas ’emprestam’ suas contas correntes para movimentar valores provenientes de negócios ilícitos, recebendo em troca uma porcentagem do negócio. Essa técnica permite que as operações ilegais sejam disfarçadas como transações financeiras legítimas, o que dificulta a identificação dos atos ilícitos, porém no presente caso é flagrancial”, explica a PF.

Defesa
Questionada pela coluna, a defesa de Willian Barile Agati, representada pela advogado Eduardo Maurício, afirmou que Agati não praticou nenhum dos crimes imputados a ele, além de dizer que Agati tem sido perseguido pela “disseminação” de fake news.
“O advogado de defesa afirma que Willian Barile Agatti é inocente, não tem nenhuma relação (licita ou ilícita) com Joselito Golin, nem com o pastor Valdemiro”, afirmou.
Depois da publicação da reportagem, a defesa de Valdemiro, representada pelos advogados Daniel Bialski e Bruno Borragine, afirmou à coluna que os valores mencionados na reportagem possuem “lastro financeiro em pontual transação lícita e legítima, que fora devidamente homologada por agência estatal reguladora, não havendo outro tipo de relação com qualquer dos investigados”.
Afirmou, ainda, que toda a documentação será apresentada à autoridade policial para demonstrar a “idoneidade, correção e legitimidade de todas as atividades de fé e de cunho istrativo/patrimonial da Igreja, colocando-se à disposição para colaborar com as investigações, elidindo-se as injustas ilações vazadas.”
A coluna não conseguiu contatar Joselito Golin, mas o espaço está aberto para manifestações.