Cantor Netinho tem derrota em processo aberto contra Manno Góes
O artista e o compositor se enfrentavam na Justiça após um treta nas redes sociais, iniciada em 2019, por conta de posição política
atualizado
Compartilhar notícia

A briga judicial entre o cantor Netinho e Manno Góes, que escreveu a letra de Milla, pode ter chegado ao fim. Isso porque a 14ª Vara Criminal da Comarca de Salvador, na Bahia, decidiu absolver o compositor na queixa-crime movida pelo artista. A treta dos dois começou em 2019 por conta de divergências políticas.
Segundo o colunista Peterson Renato, do Hora Top TV, o juiz Bernardo Mário Dantas Lubambo entendeu que a confusão entre os dois seria produto da polarização que tem marcado, há alguns anos, o cenário político-partidário nacional.
Na decisão, que ainda cabe recurso, o magistrado ressaltou que não interessa determinar que lado tinha razão, nem se algum dos envolvidos no processo difundiu sabidamente informações ou alegações falsas, e que o foco seria o que eles pensaram e fizeram.
Na conclusão, Lubambo declarou que se o que Netinho estimulava publicamente, na visão de Manno Góes, era o apoio armado a um golpe de estado, “então é compreensível que a reação também haja sido radical”.
“O que o Querelante [Netinho] propôs foi extremo, sob qualquer ângulo. E as respostas do Querelado [Manno Góes] estiveram à altura”, afirmou o juiz na sentença, que ainda determinou que o cantor pague as despesas processuais e honorários advocatícios, no valor de R$ 5 mil.
Detalhes do processo
Ainda de acordo com o colunista, nos autos, Netinho declarou que, no dia 31 de agosto de 2022, Manno teria sido condenado a pagar a ele por danos morais a quantia de R$ 5 mil, em virtude de extrapolar a sua liberdade de expressão.
O processo foi aberto, segundo o autor, porque o compositor o teria ofendido com palavras de baixo calão como “débil mental”, “bicha burra”, “imbecil”, “fascista” e “patético”.
A defesa do artista alegou, ainda, que mesmo após Manno Góes ter sido condenado, ele teria praticado novas ofensas contra Netinho, sendo uma delas repercutida em toda imprensa nacional. A declaração teria ocorrido em janeiro do ano ado e nela o compositor teria afirmando que “Netinho ou há muito tempo da fase de infeliz para criminoso”.
Dias depois, Netinho apontou outra declaração de Manno Góes, que teria proferido a seguinte frase nas redes sociais: “F*da-se. Golpista tem mais que se f*der”.
Os advogados do compositor afirmaram que tudo aconteceu em um momento de excepcionalidade, com críticas ácidas feitas por ele a Netinho, a partir de posicionamento político de aceitação e “estímulo para uma tentativa de golpe de estado, que ocorreu no dia 08 de janeiro de 2023”.
Quando tudo começou
Manno Góes, compositor das músicas Milla e Pra Te Ter Aqui, se revoltou com uma atitude do cantor Netinho nas redes sociais, em março de 2019. Após Daniela Mercury dar início a uma discussão com Jair Bolsonaro (PSL), que citou a Lei Rouanet, Netinho publicou um apoio declarado ao presidente.
Em uma imagem na qual surge com o chefe do Executivo, o cantor diz: “Eu nunca usei Lei Rouanet, nem quero. Ele sim me recebeu respeitosamente e não fui lá pedir nada, reclamar nada. Fui lá apenas para dizer a ele que se recuperaria da facada que recebeu”.
Diante da publicação de Netinho — e da alfinetada a Daniela, Manno Góes decidiu se manifestar no Facebook. Ele escreveu um texto para colocar fim à amizade com o cantor e proibi-lo de regravar suas músicas.
“A Milla da música é amor! É liberdade! É diversidade! Jamais seria tortura, homofobia, xenofobia, preconceito. Jamais seria ligada à milícia ou laranjas”, disse. “A música Milla tem que estar conectada ao lúdico, alegre, divertido, adolescente, amoroso… Jamais a essas pessoas horríveis que iram Bolsonaro e criticam colegas de trabalho por pura maldade, inveja ou burrice […] Milla jamais seria composta por um irador de Bolsonaro”, emendou.
Góes ainda questionou a sexualidade de Netinho. “Milla é mais que uma música; é uma história. Que teve em Netinho, um homossexual não assumido-gente-boa, uma voz”, alegou. O compositor também itiu que seu desafeto nada teve a ver com o fato de Netinho ter votado em Bolsonaro, mas sim em quem o músico teria se transformado.
“Um rapaz que rebate sua colega de profissão, Daniela, com memes e ironias, por ela querer defender o diálogo. Um rapaz que virou um constrangimento. Um outdoor de vergonha e retrocesso medieval. Esse rapaz de hoje jamais faria sucesso com Milla”, disparou.
No texto, Góes deixou claro que não pretende ver Netinho cantando suas músicas novamente. “A Milla da música não tem nada a ver com o personagem constrangedor que Netinho virou. Que nunca mais vai gravar Milla, ou Pra Te Ter Aqui, ou qualquer coisa que eu comp […] Naufrague com sua maldade, Netinho. Se achasse que você só está ainda doente, não te escreveria isso. Você está são e completamente conectado com esse governo inacreditavelmente perverso. Não me chame de amigo. Não sou seu amigo. Não quero mais ser seu amigo. Você não merece Milla. Bicha burra”, concluiu.