Padre de Brasília relata diagnóstico de câncer e compartilha lições
O padre Lucas Gonçalves foi diagnosticado com linfoma de Hodgkin e de mediastino. “Abraçado” pelos fiéis, o sacerdote luta contra o câncer
atualizado
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“A doença não me limita. Ela me impulsiona a prosseguir. Eu não me rendi à doença, escolhi me render a minha fé”. Essas são as palavras do padre Lucas Gonçalves sobre o diagnóstico de linfoma de Hodgkin — câncer que se origina nos linfonodos, órgãos do sistema linfático que integram o sistema imunológico. Ele descobriu o tumor em 2022 e, desde então, enquanto luta para vencer o quadro de saúde, recebeu um “abraço” da família que se tornou a Paróquia Jesus de Nazaré, igreja que dirige em Samambaia Sul (DF).
Há um mês, o sacerdote soube que o linfoma atingiu a região do mediastino. “Inicialmente, a área mais afetada eram as axilas; depois, o baço; e, por último, uma região bem específica do mediastino, uma glândula”, conta o religioso em entrevista à coluna Claudia Meireles.
Como o tratamento é caro, os fiéis criaram campanhas de arrecadação para custear a terapêutica médica indicada ao padre. Entre leilões e vendas de lanches, há uma vaquinha on-line (clique aqui para contribuir).
Diagnóstico
Ordenado padre aos 27 anos — em 2012, há 13 anos —, Lucas descobriu o diagnóstico de linfoma após alguns sintomas que não avam, como “um cansaço e uma fadiga fora do comum, além do excesso de suor”. “Dores no que parecia ser na coluna, um incômodo na lombar que, na verdade, era na medula óssea. Procurei um médico achando que era algum problema na coluna ou algo do tipo”, recorda. Diante das queixas do paciente, o especialista pediu exames de imagem.
“Quando o médico pegou o resultado, me encaminhou para um hematologista, que pediu mais alguns exames e chegou o diagnóstico: linfoma de Hodgkin, em estágio 3”, prossegue o religioso. Desde a descoberta do câncer, o pároco da igreja Jesus de Nazaré já se submeteu a vários tratamentos. Atualmente, ele faz um protocolo de imunoterapia em São Paulo, associado à quimioterapia e à medicação específica para o pulmão. Também precisa tomar fórmulas via oral.

Fé
“Muito devoto” de São José e de Santa Rita — a advogada dos impossíveis —, o padre Lucas tem a fé como o principal sustento durante este período, conforme detalha:
A fé está sempre associada a uma missão. Fé não é um sentimento particular, mas uma experiência que fazemos com Deus que nos envia a uma missão; um propósito, que nenhuma doença ou mal nessa vida pode impedir alguém de cumprir. Eu entendi, pela fé, que a enfermidade não impede minha missão, ao contrário, me impulsionou muito mais porque se eu tenho uma vida, ela existe para ser doada, consumida e entregue para uma causa nobre, que vai além dos meus problemas pessoais, que é a salvação de almas
padre Lucas Gonçalves

Segundo o sacerdote, a Arquidiocese de Brasília tem lhe dado total apoio nesse momento de enfermidade. Entretanto, como envolve um tratamento muito caro — e que o padre descreve como “quase impossível [de custear] para a minha realidade”, os paroquianos da igreja Jesus de Nazaré o abraçaram como uma família neste momento de fragilidade. “Eles assumiram essa cruz junto comigo”, salienta o religioso brasiliense.
Unidos para ajudar o padre Lucas, a comunidade paroquial de Samambaia Sul não tem medido dedicação — e zelo — para ser a mão amiga do sacerdote. “Por iniciativa própria, as pessoas da comunidade começaram diversas campanhas para custear parte do tratamento, por exemplo, ações entre amigos, almoços, venda de lanches, bazar, leilões e, por último, uma vaquinha on-line”, lista. Ele emenda: “Todos no esforço de me acompanhar o a o em todo esse processo.”

O religioso ressalta que alguns paroquianos o acompanham nas consultas, internações e idas aos médicos em Goiânia (GO) e São Paulo (SP). “Essa movimentação tem sido a causa de muitos milagres na minha vida e de outros indivíduos. Por meio dessa ação, muito mais pessoas começaram a participar das missas na paróquia, e descobrimos inúmeros líderes em potencial durante esse período”, confessou o padre Lucas Gonçalves.
Ao ser perguntado sobre o que mais o impressionou ao longo da batalha contra o câncer, o sacerdote sustenta: “A capacidade das pessoas de assumir a minha dor como se fosse delas. As pessoas são capazes de serem empáticas com a dor dos outros”. Ele complementa fazendo referência ao trecho da agem bíblica do livro de Tiago, capítulo 2, versículo 17: “A fé aquece o coração e nos ajuda a lembrar que, realmente, a fé sem boas obras é morta.”

Missão
À frente da paróquia em Samambaia Sul, o religioso afirma que “não quis” que a doença ou o tratamento alterasse a rotina como padre. “Mudou pouca coisa. Continuo fazendo o que fazia antes, com alguns limites, é claro, mas não ausente da minha missão. Estar em missão, em contato com as pessoas, com as dores delas, tem sido cura para a minha vida”, destaca. Eles declara: “Vivo por um propósito maior do que minhas próprias preocupações.”
Todos os domingos, o padre celebra as quatro missas na Paróquia Jesus de Nazaré. Já durante a semana, atende as confissões dos fiéis e atua nos diversos eventos da comunidade. “Lutando contra o linfoma de Hodgkin e de mediastino” e “vivendo um milagre por dia”, o sacerdote finaliza: “Ficar parado em um quarto porque estou doente nunca foi uma opção para mim. A doença não me limita. Ela me lembra que tenho, sim, limites, mas o Deus que eu sirvo me dá forças para ir muito além.”

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