Mansão dos Arcos recebe selo que premia projetos arquitetônicos do DF
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF) concedeu um selo para a Mansão dos Arcos, monumento projetado por Lelé
atualizado
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“Aqui tem muita história”, conta Nivaldo Borges Junior enquanto mostra e rememora os acontecimentos vividos na casa em que ele cresceu, ajudou a construí-la e encontrou até o amor — no caso, a esposa, Aymara Marinho Borges —. A frase, que está na ponta da língua do empresário, faz referência a um monumento que tem um capítulo próprio no enredo de Brasília: a Mansão dos Arcos, situada no Park Way.
Projetada pelo arquiteto João Filgueiras Lima (1931-2014), o Lelé, e que foi lar doce lar da família do saudoso pioneiro Nivaldo Borges, a edificação de tijolos aparentes, incontáveis arcos e sem grades conquistou o selo do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF). A honraria foi entregue, nessa segunda-feira (26/5), em uma prestigiada cerimônia na sala de cinema do monumento.


Definido pelo presidente do CAU-DF, Ricardo Meira, e por conselheiros, o selo tem por objetivo reconhecer as edificações da capital federal que preservam a arquitetura original e demonstram boas práticas de conservação. E a Mansão dos Arcos está dentro dos pilares, em especial pelo esforço e zelo dos oito filhos do pioneiro Nivaldo Borges, falecido em 2010.
Atualmente quem está à frente da gestão do espaço é Alice Maria Esteves Fonseca, mas quem ocupou o posto por anos e anos foi Nivaldo Borges Junior, apelidado carinhosamente pelos parentes de Bado. Uma das herdeiras, Nilma Maria Esteves Bulhões também esteve presente na solenidade de entrega da condecoração.
Veja momentos da cerimônia no vídeo abaixo:
Selo CAU-DF
Em entrevista à coluna Claudia Meireles, o presidente do CAU-DF, Ricardo Meira, revela ter ficado emocionado — e arrepiado — ao entrar pela primeira vez na Mansão dos Arcos no período matutino. Há 10 anos, ele participou de um evento no monumento — à noite. Por isso, não pôde conferir a suntuosidade e todos os detalhes da edificação de arquitetura modernista.
“Entrar na Mansão dos Arcos, com essa luz das 10h e pouco da manhã, com essa claridade e ver esse espaço vazio, principalmente essa área central, foi um sentimento quase religioso. Eu realmente me emocionei quando entrei. Acredito que um dos pontos que a boa arquitetura faz, é fazer com que as pessoas se sintam bem, e algo que a arquitetura extraordinária faz, é fazer com que nos emocionemos. Ao me emocionar, só mostra o quão extraordinário esse projeto é”, sustenta o presidente do CAU-DF.
Na avaliação de Ricardo, a Mansão dos Arcos ser laureada na categoria de casas modernas é “muito simbólico.”
Uma obra emblemática de um dos maiores arquitetos da história desse país, o Lelé, todo elogio a ele é pouco. Isso mostra não só a versatilidade do Lelé, que trabalhando com um programa residencial e com um tipo de material que ele usava menos, que é o tijolo, da mesma forma enxergamos toda a genialidade e a visão que ele tinha da arquitetura na forma de uma residência, que é um símbolo para todos nós aqui do Distrito Federal. É uma honra para o CAU-DF se fazer representar em um edifício como esse
Ricardo Meira, presidente do CAU-DF


do Park Way, Abdon Barros cita ser de “extrema importância para a região istrativa do Distrito Federal” a edificação receber o selo do CAU-DF. Ele destaca que o monumento é uma referência de arquitetura. “Para a comunidade e poder público, a Mansão dos Arcos tem um significado enorme, sendo a única propriedade dentro do Park Way a não ter grades nem muro. É histórica e faz parte da nossa cultura”, argumenta o gestor.
Atual gestora da Mansão dos Arcos, Alice Maria Esteves Fonseca declara que a família está “extremamente honrada” em conquistar o selo CAU-DF. Em seguida, Nivaldo Borges Junior aproveita para narrar a história da construção do monumento ao fazer um tour pelos cômodos. Ele relembra que o pai e Lelé eram amicíssimos, razão pela qual o arquiteto propôs executar o projeto da casa do pioneiro.



História para contar
Radiante de felicidade ao recordar as vivências na Mansão dos Arcos, Nivaldo Borges Junior salienta em não medir esforços para que o legado do monumento, da família e do consagrado arquiteto Lelé perpetue por várias gerações. E assim já o faz. Ao citar que a construção está à venda, duas netas do empresário — Isabela e Rafaela Marinho Rocha — gritaram enfaticamente: “Não”.
O ex-gestor da edificação e os irmãos almejam que o espaço de 2,5 mil metros quadrados de área construída fique aberto para visitação ou se transforme em um centro cultural. O terreno tem 30 mil metros quadrados de área total. Desde 2014, a Mansão dos Arcos tem recepcionado eventos corporativos e comemorativos, como festas e casamentos. Na avaliação de Nivaldo, a edificação pode ser descrita como “multiuso”.
Tendo contado com a expertise de um artesão espanhol, a construção da Mansão dos Arcos teve início em 1972 e só terminou sete anos depois. Ao fazer um tour pelo monumento e revelar as histórias guardadas nos tijolos e vigas, Nivaldo Borges Junior compartilha que foi o responsável por elaborar todo o piso do local. Ele começou aos 13 anos e levou três, para concluir a missão. Por dia, o adolescente produzia em torno de oito pedras.


Já Nilma Maria contribuiu com a plantação de grama. “Todo mundo ajudou”, frisa a herdeira. Inclusive, o cinema da Mansão dos Arcos serviu de “operação cupido” para o empresário. Impreterivelmente ao longo de 37 anos, o espaço recebia amigos da família — jovens e adultos — aos sábados, para juntos assistirem aos filmes que ainda não tinham sido lançados no circuito nacional.
Em uma das sessões de cinema, Nivaldo Borges Junior conheceu a esposa, Aymara Marinho. Juntos, somam mais de 40 anos de casados, dois filhos e quatro netos. A casa, que tem um lago e um dia teve uma floresta criada pelo renomado arquiteto, ou por alguns ajustes para se transformar em um espaço de eventos. “Sei que lá de cima, o Lelé está feliz com essas pequenas mudanças. Se estivesse vivo, ele faria assim”, partilha.
Preservar a história da Mansão dos Arcos é um lema que o ex-gestor leva à risca. Portas e armários foram guardados pelo herdeiro. “Se for preciso voltar ao projeto original, nós conseguiremos”, garante. Nivaldo e irmãos se dedicam tanto a preservar a Mansão dos Arcos que até o papel “rabiscado” por Lelé com o projeto original da casa está fixado em uma das paredes do monumento. No escrito, o arquiteto defende o motivo de construir a casa na parte mais alta do lote: “É para aproveitar a vista magnífica da cidade.”



Confira os cliques de quem esteve na cerimônia de condecoração pelos registros de Wey Alves:
























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